APOCALIPSE A
REVELAÇÃO DE JESUS CRISTO
TEXTO
ÁUREO = “Bem-aventurado
aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas
que nela estão escritas; porque o tempo está próximo” (Ap 1.3).
VERDADE
PRÁTICA =
O carente que lê e estuda o apocalipse não se espanta com o programa de Deus
para estes últimos dias.
LEITURA BIBLICA
= Apocalipse 1: 01 – 08
INTRODUÇÃO
Alguém disse acerca do livro de
Apocalipse: “Ele é ao mesmo tempo o livro mais respeitado, o mais
incompreendido e o mais negligenciado dos escritos do Novo Testamento”.’ Ele
tem sido chamado de “o livro mais abusado da Literatura Cristã”. Barclay
observa: “O Apocalipse é notoriamente o livro mais difícil do Novo Testamento”.
A veracidade dessa declaração é
ressaltada pelo fato de Calvino se abster de escrever um comentário desse
livro. Adam Clarke, quando chegou até o livro de Apocalipse, quase decidiu não
escrever acerca do mesmo. Ele finalmente concordou com essa complexa tarefa,
mas se expôs à difícil situação de citar longos textos de outro autor. Os
sentimentos de Clarke são expressos nestas palavras: Estou satisfeito em saber
que ainda não foi descoberto um modo certo de interpretar as profecias desse
livro, e não vou acrescentar um outro monumento à insignificância ou insensatez
da mente humana ao empenhar-me em iniciar um novo estudo.
Vou repetir o que já disse, não
entendo esse livro; e estou satisfeito em saber que ninguém que escreveu a
respeito desse assunto sabe mais do que eu [...] Eu havia resolvido, por um
tempo considerável, não ocupar-me com esse livro, porque previ que não poderia
produzir nada satisfatório acerca do mesmo [...] Mudei minha decisão e
acrescentei breves notas, principalmente filológicas, nos trechos em que achei
que entendi o significado.
John Wesley chama atenção ao
grande valor dos capítulos de abertura e conclusão de Apocalipse, e acrescenta:
“Mas deixei de estudar as partes intermediárias por muito anos, sem esperança
de entendê-las, após as tentativas infrutíferas de tantos homens sábios e bons;
e talvez deveria ter vivido e morrido com esse sentimento, se não tivesse
conhecido as obras do grande Bengelius”.’ Wesley então decidiu prover um resumo
das notas de Bengel. Mas esse grande comentarista alemão caiu na armadilha de
definir datas (e.g., 18 de junho de 1836, para a destruição da besta). Spurgeon
adverte: “Se um expositor tão magnífico vagueia dessa forma, isso deveria
servir de advertência para homens menos instruídos”.
AUTORIA
No início e no fim o livro afirma
ter sido escrito por um homem chamado João (1.1, 4,
9; 22.8). Mas quem era esse João?
Essa pergunta tem causado muita discussão.
EVIDÊNCIA
EXTERNAS
Em sua monumental obra de três
volumes, New Testament Introduction (Introdução ao Novo Testamento), Guthrie
mostra que o livro de Apocalipse foi citado amplamente pelos Pais da igreja
como tendo sido escrito pelo apóstolo João. Ele diz: “No segundo e terceiro
séculos, os seguintes autores claramente acreditavam na autoria apostólica:
Justino, Irineu, Clemente, Orígenes, Tertuliano e Hipólito”. Guthrie afirma que “existem poucos livros no
Novo Testamento com uma atestação primitiva mais forte do que o Apocalipse”.
O testemunho mais antigo é de
Justino, o Mártir (e. 150 d.C.). Em seu Dialogue with Trypho the Jew (Diálogo
com Trifo, o judeu, LXXXI), ele diz: “Além do mais, um homem entre nós chamado
João, um dos apóstolos de Cristo, recebeu uma revelação e predisse que os
seguidores de Cristo habitariam em Jerusalém por mil anos”.
EVIDÊNCIA
INTERNA
A situação torna-se um tanto mais
complicada quando nos voltamos para o próprio testemunho do livro. O problema
está na diferença de linguagem e estilo entre o Evangelho e as epístolas de
João de um lado e o Apocalipse do outro. Isso foi percebido por Dionísio, um
famoso bispo de Alexandria (morreu em 264 d.C.). Ele escreveu:
Também
podemos notar como a fraseologia do Evangelho e das epístolas difere do livro
de Apocalipse. O Evangelho e as epístolas são escritos não só de maneira
irrepreensível, no que tange à linguagem, mas são também elegantes na fluência,
nos argumentos e em toda a estrutura de estilo [.1 Não nego que o autor do
Apocalipse teve uma revelação e recebeu conhecimento e profecia. Mas percebo
que tanto o seu dialeto quanto a sua linguagem não podem ser considerados um grego
muito requintado; o autor, na verdade, usa expressões bastante impuras.”
Por essa e outras razões,
Dionísio entendeu que o Apocalipse não foi escrito pelo mesmo João que escreveu
o quarto Evangelho e 1 João. Mas ele foi cuidadoso ao expressar a sua convicção
e disse que o Apocalipse foi obra “de um homem santo e inspirado”.
O estilo de Apocalipse é descrito
por Wikenhauser nestes termos: “O autor escreve em grego, mas pensa em
hebraico; ele freqüentemente traduz expressões hebraicas literalmente para o
grego. Irregularidade gramatical e estilística é a regra nesse livro”.
Guthrie tem o seguinte comentário
acerca do autor de Apocalipse: “Ele coloca nominativos em oposição [aposição?1
com outros casos, usa particípios de maneira irregular, constrói frases
quebradas, acrescenta pronomes desnecessários, mistura gêneros, números e casos
e introduz diversas construções incomuns”.
De que maneira podemos explicar
essa diferença de linguagem? Westcott acredita que o livro de Apocalipse foi
escrito bem cedo e acha que o contato próximo posterior com pessoas de fala
grega tornou possível para João usar o grego refinado encontrado no Evangelho. Mas, como vamos ver mais tarde, é preferível
datar os dois livros mais ou menos no mesmo período.
Zahn sugere uma explanação mais
válida. Ele diz que o fenômeno lingüístico de Apocalipse é devido, em parte, “à
dependência das próprias visões e de sua forma literária baseada no modelo dos
escritos proféticos do Antigo Testamento”. Esse argumento parece válido pelo
fato de nenhum outro livro do Novo Testamento fazer um uso tão abundante do
Antigo Testamento. Em sua tradução do Novo Testamento, Beck fornece no final de
cada livro uma lista de referências do Antigo Testamento que são citadas ou
aludidas de forma clara no livro em análise. No final de Apocalipse, ele
apresenta quase 300 referências dos livros proféticos do Antigo Testamento —
incluindo aproximadamente 70 referências de Daniel, que não é classificado como
“Profeta” pelos judeus. Isso mostra que o autor de Apocalipse estava saturado
com o espírito e ensinamentos dos profetas hebreus.
O uso repetitivo de Daniel pelo
autor de Apocalipse — mais do que de qualquer outro livro do Antigo Testamento
— acrescenta mais um fator. A linguagem de Apocalipse é definitivamente apocalíptica.
Ao manter a ênfase em cataclismos e catástrofes — duas palavras gregas
apropriadas — é mais do que natural que a linguagem apocalíptica fosse abrupta
e quebrada em estilo.
Daniel é o grande apocalipse do
Antigo Testamento — junto com Ezequiel, que também é mencionado com freqüência
em Apocalipse. No período intertestamentário, apareceram muitos apocalipses
judaicos. Muito tem sido dito nos anos recentes acerca da relação entre o livro
de Apocalipse e esses apocalipses judaicos, bem como em relação aos apocalipses
cristãos dos primeiros séculos da Igreja. Inúmeros livros foram escritos nessa
área.” Mas sempre deve ser lembrado que o livro de Apocalipse é mais do que um
apocalipse; ele também é uma profecia. Bowman escreveu com propriedade:
Se
devemos encontrar um protótipo para o Apocalipse, seria mais próximo da verdade
[...] relacioná-lo tanto em forma quanto em conteúdo ao escrito profético do
Antigo Testamento do que a qualquer literatura apocalíptica quer judaica ou
cristã que apareceu entre 175 a.C. e 100 d.C. Diferentemente dessa literatura,
João fala do seu livro como “profecia” em seis passagens e apenas uma única vez
como “apocalipse” no seu título.
Há ainda uma outra possibilidade
que deveria ser considerada. João provavelmente escreveu seu Evangelho e
epístolas em Efeso, onde teria os serviços de excelentes copistas (secretários)
gregos. Mas se ele escreveu o livro de Apocalipse na ilha de Patmos, como
parece ter sido o caso, ele próprio teria de escrever o livro. O estilo grego
rústico seria então o seu próprio.
Na verdade, as diferenças na
linguagem entre o Apocalipse e o Evangelho e as epístolas de João têm sido
grandemente exageradas. Guthrie observa que “apesar das diferenças lingüísticas
e gramaticais, o Apocalipse apresenta uma afinidade maior com o grego dos
outros livros de João do que com qualquer outro livro do Novo Testamento”.
O que com freqüência tem passado
despercebido é o fato de haver uma série de afinidades marcantes entre o
Apocalipse e o Evangelho de João. Guthrie chama a nossa atenção para um ponto
importante: “Os dois livros usam a palavra ‘Logos’ para referir-se a Cristo,
uma expressão que não é usada em nenhuma outra parte do Novo Testamento além da
literatura joanina (Jo 1.1; Ap 19.13)”.” Mais uma comparação é:
“Existe um gosto perceptível por
antíteses nos dois livros”. Westcott já tinha chamado a atenção para esse
detalhe em seu comentário acerca do Evangelho de João, em que escreveu: “Ambos
apresentam uma visão de um conflito supremo entre os poderes do bem e do mal”. Ele
acrescenta: “No Evangelho, as forças opositoras são apresentadas debaixo de
formas abstratas e absolutas, como luz e trevas, amor e ódio; no Apocalipse,
debaixo de formas concretas e definidas, Deus, Cristo e a Igreja guerreando com
o diabo, o falso profeta e a besta”. Essas e outras afinidades tendem a apoiar
uma autoria comum.
As vezes se toma como certo que
todos os estudiosos do Novo Testamento hoje em dia rejeitam completamente a
idéia de que o Apocalipse foi escrito por João, filho de Zebedeu. Mas, isso não
é verdade. Stauffer escreve: “Em vista de tudo isso, temos base suficiente para
atribuir esses cinco escritos a um autor comum, de uma individualidade marcante
e grande significância, e identificá-lo como o apóstolo João”. Alan Richardson
diz concernente ao Evangelho: “A evidência, tal como a encontramos, não exclui
a possibilidade de que a tradição que conecta o quarto Evangelho ao nome de
João, filho de Zebedeu, esteja certa, afinal”. E, em relação ao Apocalipse? Ele
diz: “Hoje pode ser seriamente sustentado que o autor de Apocalipse não é
ninguém mais do que o próprio autor do quarto Evangelho, adotatdoo. estilo e
imagem convencional da literatura apocalíptica judaica da época como o
instrumento de comunicação da sua ‘profecia’ a uma igreja perseguida”
DATA
Duas datas principais para a
composição de Apocalipse têm sido sugeridas. Uma é
em torno de 65 d.C., quando os
cristãos estavam sendo perseguidos por Nero. A outra é em torno de 95 d.C.,
durante as perseguições realizadas por Domiciano. O grande triunvirato de
Cambridge — Lightfoot, Westcott e Hort — acreditava que o Apocalipse foi
escrito durante o tempo de Nero. Mas, como Swete observa: “A primitiva tradição
cristã é quase unânime em atribuir o Apocalipse aos últimos anos de Domiciano”.
Irineu é a testemunha antiga mais
importante. Conforme é citado por Eusébio, ele diz no quinto livro de Against
Heresies (Contra Heresias): “Se, no entanto, fosse necessário proclamar o seu
nome [i.e., Anticristo] abertamente no tempo presente, seria declarado por ele
que teve a revelação, porque não faz muito tempo que foi visto, quase em nossa
própria geração, no fim do reinado de Domiciano”. A maioria dos Pais da igreja
posteriores segue a interpretação de Irineu.
Há uma série de argumentos que
apóiam essa data posterior. Um argumento diz que o livro de Apocalipse parece
claramente refletir a presença da adoração ao imperador na província da Asia.
Embora haja evidência da divinização extra-oficial e adoração de imperadores
mais antigos, “não houve nenhuma tentativa oficial de reforçar o culto até a
última parte do reinado de Domiciano”.
Mais um argumento é a severidade
da perseguição refletida no livro de Apocalipse (1.9; 2.12; 3.10; 6.9). Com
relação a Domiciano, Guthrie escreve: “Esse imperador mandou matar seu parente
Flávio Clemente e baniu a esposa dele com a acusação de sacrilégio (atheotes),
o que fortemente sugere que isso ocorreu por causa do cristianismo, visto que a
esposa, Domitilia, é conhecida, de inscrições, como tendo sido cristã”. O
quadro apresentado no Apocalipse parece encaixar-se melhor no reinado de
Domiciano.
Um terceiro argumento citado com
certa freqüência é o mito da ressurreição de Nero. Após a morte desse imperador
maníaco em 68 d.C., surgiu uma lenda de que ele continuava vivo e que voltaria
como líder à frente de um exército de partos para invadir o Império Romano.
Swete comenta: “A lenda, na verdade, não surgiu sem um correlativo histórico.
Quando o Apocalipse foi escrito achavam que Nero tinha, na verdade, voltado na
pessoa de Domiciano”.
Alguns acreditam que Apocalipse
13.3 e 17.8 se referem à lenda a respeito de Nero.
McDowell afirma: “E claro que o
autor de Apocalipse não acreditava nesse mito, mas parece bastante provável que
ele o empregou em conexão com o seu simbolismo”. Uma data no reinado de Nero
(e. 65 d.C.) não pode ser descartada. Mas, de acordo com os argumentos acima e
especialmente à luz da forte tradição da Igreja Primitiva, parece- nos mais
sensato ficar com uma data na última parte do reinado de Domiciano (e. 95
d.C.).
DESTINÁRIOS
O livro foi dirigido às “sete
igrejas que estão na Ásia” (1.4); isto é, a província da Asia, no lado ocidental
da Asia Menor. As sete igrejas são mencionadas em 1.11.
PROPÓSITO
O propósito principal era
confortar e encorajar os cristãos nas suas perseguições presentes e nas futuras
ao assegurar-lhes o triunfo final de Cristo e seus seguidores. Também era
necessário advertir as igrejas contra falhas na doutrina ou na prática cristã.
ESTRUTURA
Que o livro de Apocalipse é
altamente dramático dificilmente pode ser questionado por qualquer leitor
atento. Até que ponto esse fenômeno afeta a estrutura do livro?
Bowman tornou esse o fator
dominante. Depois de notar que a forma de carta ou epístola se aplica
particularmente à saudação de abertura em 1.4-6 (1.1-3 sendo o título do livro)
e à bênção final (22.21), ele trata do restante do livro como um drama
literário. Entre o Prólogo (1.7-8) e o Epílogo (22.6-10) ele encontra sete
atos, cada um com sete cenas. Todo o esquema é realizado com grande
engenhosidade — demais para alguns críticos! Mas o quadro como um todo causa
grande impacto e torna o livro de Bowman uma leitura muito interessante.
McDowell começa o drama com o
capítulo 4 e sugere dois atos, com sete cenas cada. Kepler encontra “sete atos
e dez cenas”. Embora esses esboços difiram um pouco em detalhes, todos eles
salientam o fato de que sete é o número predominante em Apocalipse. Há sete
cartas, sete selos, sete trombetas e sete taças. Poderia parecer que os selos,
as trombetas e as taças não representam séries sucessivas de julgamentos, mas
deveriam ser interpretados em termos de repetição e revisão. Erdman resume a
estrutura do livro desta forma:
Na
verdade, contraste e repetição e clímax são traços evidentes na estrutura
literária do livro. No entanto, o aspecto mais distinto é o da simetria. Cada
uma das cartas às sete igrejas segue o mesmo esquema literário exato.
Todas
as sete igrejas formam uma seção descritiva da Igreja em sua imperfeição e
perigo atual. Com esses capítulos o livro abre, e, com equilíbrio poético,
fecha com a figura da Nova Jerusalém, nos dois capítulos contendo a visão da
Igreja, perfeita e gloriosa.
Nas
cinco seções centrais há a mesma ordem harmoniosa e artística. Duas seções, dos
selos e das trombetas, descrevem revolução e catástrofe, das quais naturalmente
emergem os grandes antagonistas cujo conflito forma o ponto central da ação
dramática, enquanto as duas seções das taças e julgamentos retratam vivida-
mente a destruição dos inimigos de Cristo e preparam para a imagem final da sua
Igreja aperfeiçoada no esplendor da “nova terra”.
O PRIMEIRO
CAPITULO DE APOCALIPSE FORMA UMA INTRODUÇÃO DO LIVRO
APOCALIPSE
1.1-20
Ele é composto por um breve
parágrafo em que é apresentado o título e propósito da sua composição (vv. 1-3),
seguido por uma saudação (vv. 4-8) e a visão de Cristo (vv. 9-20).
O SOBRESCRITO,
1.1-3
A FONTE DA
REVELAÇÃO (1.1)
As três primeiras palavras do
livro de Apocalipse são: Apocalypsis lesou Christou.
Este é obviamente o título do
livro. E por isso que não encontramos nenhum artigo definido. Assim, traduzimos
o título: Revelação de Jesus Cristo. Na língua portuguesa, esse livro é
predominantemente denominado de “Apocalipse”,
Isso ocorre porque a palavra
grega para revelação é apocalypsis. Vem do verbo apocalypto, “descobrir” ou
“revelar”. Na Septuaginta e no Novo Testamento, ele é usado no sentido especial
de uma revelação divina. Um bom exemplo do Antigo Testamento grego é Amós 3.7:
“Certamente o Senhor Jeová não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu
segredo aos seus servos, os profetas”. No Novo Testamento, Paulo usa o
substantivo 13 vezes. Por exemplo, ele fala da “revelação do mistério” (Rm
16.25). Ele recebeu seu evangelho “pela revelação de Jesus Cristo” (Gl 1.12). O
termo também é usado para a Segunda Vinda em 1 Coríntios 1.7 (“manifestação”;
“vinda” na KJV) e 2 Tessalonicenses 1.7, bem como em 1 Pedro 1.7, 13; 4.13.
Vincent escreve: “A Revelação aqui é o revelar dos mistérios divinos”.
Mas, qual é o significado do
complemento de Jesus Cristo? Alguns estudiosos entendem que esse é um genitivo
objetivo; isto é, Jesus Cristo está sendo revelado. Um certo apoio para esse
ponto de vista é encontrado no fato de que temos uma visão de Cristo nesse
primeiro capítulo. Mas isso não descreve apropriadamente os conteúdos do livro
como um todo.
Em segundo lugar, ele pode ser
tratado como um genitivo de posse; isto é, a revelação pertence a Jesus Cristo.
Isso é apoiado pela frase a qual Deus lhe deu. Mas isso era para o propósito da
sua transmissão a João.
Um terceiro ponto de vista é que
esse é um genitivo subjetivo; isto é, Jesus Cristo dá a revelação. Isso parece fazer mais sentido.
Lenski diz: “O genitivo é subjetivo: Jesus Cristo fez essa Revelação”.2
Phillips realça o ponto ao traduzir assim a sentença: “Essa é a Revelação de
Jesus Cristo”. No entanto, é melhor deixar de fora o verbo da expressão, como
ocorre no grego, e transformá-la no título do livro.
A fonte da revelação foi Deus — a
qual Deus lhe deu. Swete comenta: “O Pai é o supremo Revelador [...] o filho é
o agente por meio de quem a revelação passa aos homens”. Isso está em
conformidade com o ensinamento do Evangelho de João (3.35; 5.20- 26; 7.16; 8.28
etc.).
O propósito de Deus ao dar essa
revelação a Jesus era que ele pudesse mostrar aos seus servos as coisas que
brevemente devem acontecer. A palavra para servos é doulois, que significa
“escravos”. Mas Simcox emite uma nota de advertência para aqueles que
interpretam esse termo no sentido moderno ocidental. Ele diz: “No Oriente (Lc
15.17) os servos que foram comprados por um preço estavam acima dos assalariados”.
Em Atos e nas epístolas, o termo é freqüentemente aplicado aos cristãos.
A palavra devem (dei) é
extremamente significativa. Charles escreve: “O dei de- nota não a consumação
rápida das coisas, mas o cumprimento absolutamente certo do propósito divino”.
Um outro termo importante é
brevemente (en tachei). Charles comenta: “Que esse cumprimento ocorreria ‘logo’
[...] sempre foi a expectativa de toda profecia viva e apocalíptica”. A. T.
Robertson observa: “E um termo relativo a ser julgado à luz de 2 Pedro 3.8, de
acordo com o relógio de Deus, não o nosso”. A mesma frase ocorre em Lucas 18.8.
Simcox diz: “Essas últimas passagens sugerem que o objetivo dessas palavras é
assegurar-nos da prontidão prática de Deus para cumprir suas promessas, em vez
de definir qualquer limite de tempo para o seu cumprimento real”.
No calendário de Deus, esses
eventos são marcados de maneira definida, mas não nos cabe interpretar esse
calendário (cf. At 1.7). No entanto, tudo será cumprido brevemente — “logo”, ou
“em breve”. Moffatt comenta: “Esse é o ponto crítico do livro [...] A
nota-chave de Apocalipse é a certeza alegre de que da parte de Deus não há
relutância ou atraso; seu povo não precisa esperar ansiosamente agora”. Newell
faz a seguinte sugestão útil: “Brevemente’ não só significa iminência, mas
também rapidez na execução, depois da ação iniciada”.
A sentença seguinte também é
importante: pelo seu anjo as enviou e as notificou a João, seu servo. O verbo
notificou é semaino. Ele vem de sema (semeion), “um sinal”. Assim, esse verbo
significa “dar um sinal, representar, indicar,” ou “fazer conhecido, relatar,
comunicar”. Lange diz o seguinte: “Esemanen é uma modificação de deixai
[mostrou], indicativo dos sinais empregados, a representação simbólica”. Bengel
observa: “a LXX usa semainein para expressar um grande sinal de uma grande
coisa: Ezequiel 33: 3. O verbo é encontrado somente aqui em Apocalipse.
Vincent escreve: “Apalavra é apropriada
para o caráter simbólico da revelação, como em João 12.33, em que Cristo prediz
o modo da sua morte por meio de uma figura”.
E com base nessa derivação
etimológica que muitos mestres da Bíblia têm escolhido dar a notificou o
significado de “sinalizou”; isto é, o material desse livro é apresentado em
sinais e símbolos. Alguns comentaristas mais recentes têm contestado essa
explicação. J. B. Smith, por exemplo, diz: “O uso da palavra em outros textos
(Jo 12: 33; 18.32; 21.19; At 11.28; 25.27) não permite esse significado. Em
cada caso, o sentido deve ser indicado pela palavra e não pelo símbolo”.
Parece, no entanto, que a idéia
tem algum mérito, embora não deva ser super enfatizada. No léxico de
Liddell-Scott-Jones, o primeiro significado dado é: “mostrar por um sinal,
indicar, apontar”. Também é mencionado que quando o verbo é usado
“absolutamente” (i.e., sem um objeto) ele significa “dar sinais”. E dessa forma
que o termo é usado aqui. Depois de descrever o significado original da
palavra, McDowell observa: “O autor infere que a mensagem que ele recebeu é
dada aos seus leitores por meio de sinais e símbolos. A atenção a esse fato
deveria poupar-nos de um literalismo crasso ao interpretar a mensagem do
livro”.
A
revelação foi notificada pelo seu anjo. Provavelmente, a melhor coisa é pegar
essa forma singular de maneira genérica. Ela se aplicaria, portanto, “a todos
os anjos individuais que nas diferentes visões têm o ofício de fazer declarações
significativas”. Esses anjos (ou anjo) são mencionados em 17.1, 7, 15; 19.9;
21.9; 22.1, 6. O significado literal de anjo (angelos) é “mensageiro”. Tanto no
Antigo quanto no Novo Testamento encontramos Deus usando anjos como mensageiros
para comunicar sua revelação aos homens. Nesse caso, a revelação foi enviada a
João, seu servo. Duesterdieck comenta: “O vidente se autodenomina servo de
Jesus Cristo quanto ao seu serviço profético. O acréscimo do seu próprio nome
contém, de acordo com o costume profético antigo, uma atestação da profecia”.
O CONTEÚDO DA
REVELAÇÃO (1.2)
João testificou da palavra de
Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto. As palavras
gregas para testificou e testemunho vêm da mesma raiz. O The Twentieth Century
New Testament [Novo Testamento do Século Vinte] preserva essa conexão ao
traduzir o versículo da seguinte forma: “o qual testificou da Mensagem de Deus,
e do testemunho acerca de Jesus Cristo, não omitindo nada daquilo que viu”.
A
raiz grega comum é martyr. Rist observa que a combinação aqui “pode envolver um
jogo de palavras que não é reproduzível na tradução inglesa, porque a palavra ‘testemunho’
também pode significar ‘martírio’, enquanto ‘testificou’ vem de um verbo que
pode significar ‘tornar-se um mártir’. Há uma conexão próxima, porque aqueles
que testificavam e davam
testemunho eram candidatos ao martírio nos dias de perseguição”. E por isso que a palavra grega martyros, “testemunha”,
finalmente veio a significar “mártir”.
Testificou
está no aoristo.
Esse é um bom exemplo de um aoristo epistolar. João está testificando enquanto
escreve, mas do ponto de vista dos seus leitores estaria no tempo passado.
Assim, o aoristo epistolar seria melhor traduzido como um presente contínuo no
português.
Da palavra de Deus, e do
testemunho de Jesus são definidos por Charles como significando “a revelação
dada por Deus e testificada por Cristo (genitivo subjetivo)”. Semelhantemente,
Swete apresenta esta identificação: “A revelação concedida por Deus e atestada
por Cristo”.
E de tudo o que tem visto. Não
existe a conjunção e nos melhores textos gregos, assim, a maioria dos
comentaristas toma essa frase como estando em aposição com a palavra de Deus e
o testemunho de Jesus. Swete diz: “Essa palavra e testemunho alcançaram a João
em uma visão”. Goodspeed traduz essa passagem da seguinte forma: “Que testifica
de acordo com o que viu — a mensagem de Deus e o testemunho de Jesus Cristo”.
A BÊNÇÃO DOS
RECEPTORES (1.3)
João pronuncia uma tríplice
bênção a três grupos. A primeira é: aquele que lê. O contexto indica claramente
que a referência é a alguém que lê o livro a outros — os que ouvem. Isso justifica a tradução da RSV, que traz:
“aquele que lê em voz alta”. “Não é a pessoa particular [...] mas [...] a
pessoa que lê em voz alta na congregação”.
Esse era inicialmente um leitor
leigo, mas, mais tarde, um obreiro da igreja. Ao chamar aquilo que ele estava
escrevendo de as palavras desta profecia, João deliberadamente colocou o livro
de Apocalipse no mesmo nível dos livros proféticos do Antigo Testamento. Ele
repete isso em 22.7, 10, 18.
Mas, o ouvinte também deve ser um
praticante — e guardam as coisas que nela
estão escritas. O verbo grego
tereo “é constantemente usado para ‘guardar’ a Lei, os Mandamentos [...] em
todo o NT; mas é mais comum em todos os escritos de João”.
Essa é a primeira das sete
bem-aventuranças no livro de Apocalipse (cf. 14.13; 16.15;
19.9; 20.6; 22.7, 14). Um estudo
dessas “bem-aventuranças” seria proveitoso tanto para os obreiros como para os
leigos.
Uma frase final é: porque o tempo
está próximo. A palavra para tempo não é chronos — tempo no sentido de duração.
A palavra aqui é kairos — “tempo que produz seus diversos nascimentos”. Arndt e
Gingrich definem a palavra assim: “o tempo certo, apropriado, favorável [...]
tempo definido e estabelecido [...] um dos principais termos escatológicos, ho
kairos, o tempo de crise, os últimos tempos”. Lange traduz esse termo aqui por:
“o tempo de decisão”. Weymouth traz: “Porque o tempo do seu cumprimento
está agora próximo”.
Mais uma vez, João ressalta a
iminência daquilo que irá acontecer (cf. “brevemente”, v.1). Niles observa:
“Uma qualidade do apocalipse bem como da profecia é a pré- condensação da visão
que estabelece como iminente aquilo que com certeza vai acontecer”. De Cristo
ele diz: “Ele está vindo e virá. Na verdade, é nessa fusão do presente contínuo
com o futuro certo que se encontra a clareza da escatologia bíblica”.
R. H. Charles chamou a atenção
para o fato de se encontrar nesses três primeiros versículos de Apocalipse três
elementos, cada um consistindo em três partes. Com relação à 1) fonte da
Revelação, ela era de Deus, por meio de Cristo, e comunicada por João aos seus
ouvintes. 2) Os conteúdos da revelação são especificados como a palavra de
Deus, a verdade atestada por Cristo, reunido naquilo que João viu. 3) A bênção
era tríplice — ao leitor público, aos ouvintes e especialmente aos praticantes.
A SAUDAÇÃO,
1.4-8
Os três primeiros versículos
formam um sobrescrito para o livro, quase como um título ampliado como encontramos
nos títulos de livros escritos há duzentos ou trezentos anos. Mas esse
parágrafo constitui uma saudação, indicando o caráter epistolar do livro de
Apocalipse. Charles diz: “Todo o livro, a partir de 1.4 até o seu final é, na
verdade, uma epístola”.
A SAUDAÇÃO (1.4,5a)
Diferentemente do costume atual
de colocar o nome do remetente somente no final de uma carta, todas as cartas
daquele período seguiam o costume sensível de apresentar o nome do autor logo
no início. Assim, o leitor saberia imediatamente quem estava escrevendo para
ele. Dessa forma, a parte principal do livro de Apocalipse começa com João.
Esse provavelmente era João, filho de Zebedeu, o apóstolo que escreveu o quarto
Evangelho e as três epístolas que levam o seu nome (veja Int., “Autoria”).
Como respeitável patriarca da
Igreja ele não tinha necessidade de identificar-se mais detalhadamente.
O livro é dirigido às sete
igrejas que estão na Asia. No Novo Testamento o termo Asia não significa o
continente, mas a província romana da Asia, situada no lado ocidental da Asia
Menor. Ela tinha sido formada em torno de 130 a.C., com a adição da Frígia em
116 a.C.
Por que sete igrejas? Havia
igrejas cristãs em diversas outras cidades da Asia, como Colossos e Hierápolis
(Cl 1.2; 4.13), Trôade (At 20.5), Magnésia e Traies, às quais Inácio escreveu
em torno de 115 d.C. Foi sugerido que Trôade foi omitida por causa da sua
distância das sete igrejas. Por outro lado, as cidades de Hierápolis e Colossos
ficavam muito próximas de Laodicéia, e Magnésia e Trales, de Efeso, por isso
não foram mencionadas.
Mas uma explicação melhor é que
sete era o número da perfeição. O autor de Apocalipse usa esse número como
estrutura básica para o seu livro. Aqui esse número significa santidade e
perfeição. Erdman escreve: “As sete igrejas endereçadas foram, portanto,
representativas de toda a Igreja em todo o mundo e em todas as épocas. Assim,
João está dirigindo o livro inteiro à Igreja Universal” O Cânon Muratoriano
(final do segundo século) já exprimia: “E João também no Apocalipse, embora
escrevesse às sete igrejas, no entanto, fala a todos”.
Graça e paz seja convosco é a
mesma fórmula encontrada no início das epístolas paulinas e nas duas de Pedro.
(Em 1 e 2 Timóteo, bem como em 2 João, a palavra “misericórdia” é acrescentada.
Essas palavras altamente significativas são discutidas nos comentários no
início de diversas epístolas paulinas. Plummer observa que a combinação desses
dois termos “une elementos gregos e hebraicos, e dá aos dois um profundo
significado cristão”.
Graça e paz vêm primeiro da parte
daquele que é, e que era, e que há de vir. Isso refere-se primeiramente ao Pai,
como o Eterno. Lenski comenta que “Aquele que E’ significa: ‘Aquele que E de
eternidade em eternidade’ [...] ‘e Aquele que Era’ significa:
‘Aquele que era antes do tempo e
da origem do mundo’ [...] ‘e Aquele que está vindo’ quando o tempo já não mais
existir, quando Ele vier para o julgamento final. Ele acrescenta: “Aquele que
está vindo’ é altamente messiânico”.
Simcox segue Alford ao argumentar
que toda a expressão aqui é “uma paráfrase do ‘nome Inefável’ revelado a
Moisés” em Exodo 3.14 (i.e., Jeová ou Yahweh) e talvez também “uma paráfrase da
explicação do Nome dado a ele: ‘EU SOU O QUE SOU”. O Targum palestino de
Deuteronômio 27.39 traz: “Eis que sou Aquele que Sou, que Era e que Será”. Essa
identificação parece razoável, embora devêssemos considerar o ponto de vista de
Lenski em relação ao Messias.
A terceira frase aqui não é que
há de vir, mas, literalmente, “Aquele que está vindo”. Swete sugere que essa
última tradução era talvez a preferida “porque prenuncia já no início o
propósito do livro, que deve revelar as intervenções de Deus na história humana”.
A gramática grega aqui é
irregular. Literalmente significa o seguinte: “da parte dele...” Moffatt chama
isso de “violação gramatical estranha e deliberada [..] para proteger a
imutabilidade e inteireza do nome divino da declinação”. Semelhantemente,
Charles escreve: “Temos aqui um título de Deus expresso em termos de tempo. O
Vidente violou deliberadamente as regras de gramática para preservar o nome
divino inviolado de uma mudança que teria de sofrer se fosse declinado”.
Em segundo lugar, graça e paz vem
dos sete Espíritos que estão diante do seu trono. Embora um certo número de
comentaristas recentes interpretem essa frase como uma referência a seres
angelicais, parece mais certo adotar o ponto de vista mais comum de que essa é
uma designação simbólica para o Espírito Santo.
Alford diz: “Os sete espíritos
indicam a plenitude e a universalidade do agir do Espírito Santo de Deus, da
mesma maneira que as sete igrejas tipificam e indicam a igreja em geral”. Swete
concorda com essa posição. Plummer
acredita que a expressão significa: “O Espírito Santo, sétuplo em suas
operações”, e acrescenta: “O número sete mais uma vez simboliza universalidade,
plenitude e perfeição — essa unidade no meio da diversidade que marca a obra do
Espírito e a esfera da Igreja”. Essa interpretação é fortemente apoiada por
5.6, que se refere a Zacarias 4.10.
O sétuplo Espírito está diante do
seu trono. Lenski conclui sua discussão desse versículo ao dizer: “Assim,
devemos unir todas essas expressões; esses ‘sete’ pontos no que tange à
comissão do Espírito de agir do trono e tornar Deus e o homem um”.
Em terceiro lugar, graça e paz
vêm de Jesus Cristo (5). Ele é retratado por três figuras. Primeiramente, Ele é
a testemunha fiel. Fiel significa “digno de confiança”.
Duesterdieck não limita esse
testemunho ao ministério terreno de Cristo. Em vez disso, Ele é “aquele por
meio de quem cada revelação divina ocorre, que comunica predições não só para
os profetas em geral, como no momento para o autor de Apocalipse, mas também
testifica da verdade ao censurar, admoestar e confortar as igrejas”. A palavra
grega para testemunha mais tarde veio a significar “mártir”. Dessa forma, nossa
palavra mártir é derivada dela (gen., martyros).
Moffatt comenta: “Jesus não [é]
meramente a testemunha confiável de Deus, mas o mártir fiel: um aspecto da sua
carreira que naturalmente se sobressaiu nos ‘tempos da matança’“ (cf. 2.10).
Somente aqui e em 3.14 Jesus é chamado de testemunha.
Ele também é o primogênito dos
mortos. O termo primogênito era um título messiânico. Jesus é agora o príncipe (governante) dos reis
da terra. Charles entende que a idéia predominante de primogênito aqui é a
soberania. Ele traduz essas três cláusulas da seguinte forma: “a verdadeira
testemunha de Deus, o soberano dos mortos, o governante dos vivos”.
Swete diz: “A ressurreição trazia
consigo um senhorio em potencial sobre toda a humanidade [...] O Senhor
conquistou com a sua morte o que o Tentador havia lhe oferecido como a
recompensa pelo pecado [...] Ele ressuscitou e ascendeu aos céus para receber o
império universal”. Ele também observa que o título triplo testemunha,
primogênito, governante — “responde ao propósito triplo de Apocalipse, que é ao
mesmo tempo um testemunho divino, uma revelação do Senhor ressurreto e uma
profecia dos assuntos da história”. Esses três versículos retratam a Trindade Pai, Filho e Espírito Santo. “O aspecto da
Trindade aparece em todo o livro de Apocalipse”.
A DOXOLOGIA
(1.5b-6)
A contemplação de João em relação
a Cristo como o Senhor Ressurreto que reina sobre tudo o faz irromper em uma
explosão espontânea de louvor. Isso também é uma característica comum nas
epístolas de Paulo. Almas devotas sempre responderam com louvor à bondade e
grandeza do nosso Senhor. Aquele que nos ama (5) deveria iniciar um novo
versículo. O verbo também está no particípio presente.
Em vez de lavou, os melhores e
mais antigos manuscritos gregos trazem “libertou”. As duas formas são similares
na soletração e praticamente iguais em pronúncia (lousanti [...] lusanti) e
dessa forma era muito fácil serem confundidas, especialmente se o escriba estivesse
copiando por meio do ditado. A tradução correta dessas duas frases é: “Aquele
que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados” (ARA). A
primeira frase ressalta o amor duradouro do Redentor; a segunda, sua obra de
redenção concluí- da. Seu sangue era o preço que Ele pagou para nos libertar da
escravidão do pecado. Esse é o ensino uniforme do Novo Testamento.
Qual é o resultado dessa
redenção? Ele nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai (6). O grego traz:
“E Ele nos fez um reino, sacerdotes ao seu Deus e Pai”. Sacerdotes está em
aposição a reino. Isso evidentemente reflete Exodo 19.6: “E vós me sereis reino
sacerdotal”. Isso também se assemelha com a frase encontrada em 1 Pedro 2.9: “o
sacerdócio real”. Charles comenta: “Nosso texto então significa que Cristo nos
fez um reino, em que cada membro é um sacerdote para Deus”. Isso não só é um
grande privilégio, mas também envolve uma imensa responsabilidade. Erdman
escreve: “Uma vez que somos sacerdotes deveríamos estar oferecendo continuamente
sacrifícios de louvor, de abnegação e de um ministério amoroso, derramando
nossas vidas em intercessão e em serviço compassivo ao nosso próximo”.
A doxologia termina numa forma
quase tipicamente paulina: a ele, glória e poder para todo o sempre. Amém. Essa
é a primeira de três doxologias a Cristo no Apocalipse (cf. 5.13; 7.10).
Uma doxologia semelhante ocorre
em 2 Pedro 3.18. As doxologias nas epístolas paulinas referem-se quase sempre a
Deus, o Pai. Moffatt observa: A adoração de Cristo, que ressoa nessa doxologia
é um dos aspectos mais impressionantes do livro”. Plummer chama a nossa atenção para um fato
interessante. Ele diz: “As doxologias de São João aumentam em volume à medida
que ele progride — dupla aqui, tripla em 4.11, quádrupla em 5.13 e sétupla em
7.12”.
Tem sido sugerido que 1 Crônicas
29.11 — “Tua é, SENHOR, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a
majestade” — seja a fonte da maioria das doxologias posteriores. Uma vez que
Jesus é chamado de “Senhor” no Novo Testamento, Ele se torna, com o Pai, o
objeto dessa adoração.
A expressão para todo sempre é
literalmente “pelos séculos dos séculos”; isto é,
“eternamente” (Phillips). Essa
expressão ocorre mais 12 vezes em Apocalipse.
Evidentemente, o hábito de
colocar Amém no fim da oração ou louvor começou muito cedo. Swete diz: “A
palavra Amém ocorre no final de quase todas as doxologias do NT”. Essa palavra significa “Assim seja!” ou
“Verdadeiramente!”
A PROFECIA (1.7)
Esse versículo é “uma
reminiscência e adaptação” de Daniel 7.13 e Zacarias 12.10- 14.60 Eis que vem
com as nuvens é da passagem de Daniel: “e eis que vinha nas nuvens do céu um
como o Filho do Homem”. Essa vinda nas nuvens é mencionada mais seis vezes no
Novo Testamento (Mt 24.30; 26.64; Mc 13.26; 14.62; Lc 21.27; Ap 14.14). A
linguagem aqui reflete Marcos 14.62: “e vereis o Filho do Homem [...] vindo
sobre as nuvens do céu”.
O restante desse versículo é
tirado em grande parte de Zacarias 12.10. Quando Cristo vier em julgamento,
todo olho o verá. Estarão incluídos os mesmos que o traspassaram. Aqui se
refere claramente ao traspassar do “lado de Jesus” na cruz (Jo 19.34). Essa
mesma passagem de Zacarias é citada nessa conexão (Jo 19.37). O fato do
traspassar ser mencionado somente no Evangelho de João, e que a ordem de
palavras aqui e em
João 19.37 concordem de maneira
impressionante6’ fornece um apoio considerável para a autoria em comum do
quarto Evangelho e de Apocalipse.
Mas essa predição de julgamento
não deveria ficar restrita à nação judaica. Plummer
escreve: “A referência aqui é a
todos aqueles que ‘crucificam o Filho de Deus novamente’, não meramente aos
judeus”. João acrescenta: e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele.
Essa é “uma livre adaptação do hebraico em Zacarias 12. 12.63
A combinação dessas passagens de
Daniel e Zacarias já tinha sido feita no discurso do monte das Oliveiras (Mt
24.30). Simcox declara: “Esse versículo, como também se pode dizer de todo o
livro, é fundamentado principalmente na própria profecia do Senhor registrada em
Mateus 24, e em segundo lugar, nas profecias do Antigo Testamento às quais Ele
ali se refere e que resume”.
Simcox acrescenta essa observação
útil na relação com a passagem do AT: “Mas
enquanto as palavras aqui são
tiradas de Zacarias, o pensamento é mais propriamente
de Mateus 24.64: ‘aqueles que o
traspassaram’ são vistos não como olhando para Ele com fé e pranteando por Ele
em penitência, mas em vê-lo como Alguém em quem não creram e, por isso, estão
pranteando em desespero”.
No grego, Sim! Amém é nai, amen.
Charles observa: “Temos aqui formas gregas e
hebraicas de confirmação lado a
lado”. A mesma associação é encontrada em 2 Coríntios 1.20. Em 3.14, Jesus é
nomeado de “o Amém”. Charles comenta: “Aqui Cristo é representado como o Amém
divino personalizado, o avalista em pessoa acerca da verdade declarada por
Ele”.
A PROCLAMAÇÃO
(1.8)
Esse versículo parece ser
independente, não estando relacionado com o que o precede ou o segue. João tem
falado, mas agora uma nova personagem faz uma declaração divina. Mas quem é
essa nova personagem que fala? Swete escreve: “A abertura solene do livro
alcança seu clímax aqui com palavras atribuídas ao Pai Eterno e Todo-poderoso”.
Muitos comentaristas recentes concordam com isso.
Mas Plummer discorda. Ele diz o
seguinte acerca das frases usadas aqui: “Atribuí-las ao Pai rouba as palavras
da sua adequação especial nesse contexto, em que formam o prelúdio para ‘a
Revelação de Jesus Cristo’ como Deus e como o ‘Governante dos reis da terra”. Ele sente que João está aqui ressaltando a
divindade de Jesus, e encontra uma progressão nisto: Alfa e o Omega (1.8), “o
Primeiro e o Ultimo” (1.17; 2.8), “Alfa e o
Ômega, o Princípio e o Fim
(21.6), “Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Derradeiro” (22.13).
J. B. Smith chama a atenção para o
fato de os pais da Igreja Primitiva aplicarem esse versículo a Cristo. Ele cita
integralmente de Hipólito e Orígenes e documenta as citações. Essa parece a melhor posição. Alfa e o Omega
são a primeira e a última letra do alfabeto grego. Provavelmente, elas são
usadas “como nos provérbios rabínicos a primeira e última letra do alfabeto hebraico,
simbolizando ‘o princípio e o fim”. No entanto, as palavras explanatórias, o Princípio
e o Fim, não são genuínas, embora o sejam em 22.13. Acerca de Alfa e o Omega,
Swete escreve: “A frase é entendida como não expressando somente eternidade, mas
infinidade, a vida ilimitada que compreende tudo e transcende tudo”.
O Senhor é “o Senhor Deus” no
melhor texto grego. Todo-poderoso (pantokrator) ocorre somente mais uma vez no
Novo Testamento (1 Co 6.18), mas é encontrado nove vezes no Apocalipse. Lenski
diz o seguinte acerca do propósito de João ao escrever os versículos 7 e 8: “De
forma dramática ele expressa o resumo do tema de todo o livro, de todas as
revelações que teve (v. 7) e no versículo 8 anexa a própria assinatura de
Cristo”.
Elaboração
pelo:-
Evangelista Isaias Silva de Jesus Igreja Evangélica Assembléia de Deus
Ministério Belém Em Dourados – MS
BIBLIOGRAFIA
Comentário Bíblico Beacon