O FUTURO
Apocalipse
4.1—22.21
Nesse ponto ocorre no livro de
Apocalipse uma mudança drástica de cena e assunto. R. H. Charles escreve: “O
contraste dramático não podia ser maior. Até aqui a cena das visões do Vidente
tinha sido a terra; agora é o céu [...] Nos capítulos 2 e 3 tivemos uma
descrição vivida das igrejas cristãs da Ásia Menor [...] Mas no momento que
deixamos a inquietação, as aflições, as imperfeições e apreensões que permeiam
os capítulos 2 e 3, passamos no capítulo 4 para uma atmosfera de segurança e
paz perfeita [...] Prevalece uma harmonia infinita de justiça e poder”.
A cena muda da terra para o céu.
O assunto muda do cuidado de Cristo como Cabeça pelas condições predominantes
na igreja para a autoridade soberana sobre seu universo.
Já observamos que 1.19 sugere uma
divisão tríplice do livro de Apocalipse: 1) O Passado — “as coisas que tens
visto”, cap. 1; 2) O Presente — “as coisas que são”, caps. 2—3; 3) O Futuro —
“as coisas que hão de vir”, caps. 4—22.
Quanto à interpretação das duas
primeiras divisões há uma pequena diferença de opinião. João teve uma visão de
Jesus glorificado parado no meio da sua Igreja (cap. 1). Isto está claro. Nos
capítulos 2—3, encontramos as cartas às sete igrejas da Ásia. A maioria dos
comentaristas concorda que essas cartas descrevem condições reais em igrejas
reais no primeiro século — embora elas também possam dar uma visão geral das
condições gerais a serem encontradas na cristandade até os nossos dias.
Mas quando chegamos à terceira
seção de Apocalipse, a situação é bastante diferente. Desconsiderando os
“aspectos lunáticos” de incontáveis aberrações, descobrimos três principais
escolas de interpretação. A primeira, chamada a preterista, encontra o
cumprimento dos capítulos 4—22 nos eventos do período imperial. O grande
inimigo da Igreja, a besta, é o Império Romano.
A segunda, chamada historicista,
busca o cumprimento nos acontecimentos sucessivos de toda a era da Igreja e nos
eventos culminantes que se seguem. Aqui geralmente se afirma que a besta é a
igreja católica romana ou, mais especificamente, o papado.
A terceira, chamada futurista,
entende que o livro de Apocalipse, a partir de 4.1, ainda precisa ser cumprido
no fim dessa era. Ela continua sendo futura do ponto de vista do leitor de
hoje. A besta é identificada como o Anticristo. Veremos todas as três
interpretações em conexão com passagens-chave.
Essa terceira
seção do Apocalipse parece compor-se de sete visões:
1) O Trono e o Cordeiro
(4.1—5.14);
2) Os Sete Selos (6.1—8.1);
3) As Sete Trombetas (8.2—11.19);
4) A Sétupla Visão (12.1—14.20);
5) As Sete Taças (15.1—16.21);
6) As Sete Ultimas Cenas (17.1—20.15);
7) A Nova Jerusalém (21.1—22.21).
O TRONO E O
CORDEIRO, 4. 1—5.14
1. A Adoração a
Deus como Criador (4.1-11)
A
primeira visão é dupla. Ela mostra a adoração a Deus como Criador (cap. 4)
e a adoração a Cristo como Redentor (cap. 5). Essa adoração, João vê acontecer
no céu.
a)
O trono de Deus (4.1-6a). João viu uma porta aberta no céu (1). O grego
claramente afirma que João viu uma porta que tinha sido aberta e permanecia
aberta (particípio passivo perfeito). Como Simcox diz: “Ele viu a porta aberta;
ele não a viu sendo aberta”. Era uma porta da revelação que permitiu uma visão
do céu. Barclay observa que nesses primeiros capítulos do livro encontramos
“Três Portas Importantes na Vida”: 1) A porta da oportunidade (3.8); 2) A porta
do coração humano (3.20); 3) A porta da revelação (4.1).
A primeira voz, que [...] ouvira
falar comigo é evidentemente a voz de Cristo, mencionada em 1.10. Lá, como
aqui, ela é descrita como o som de trombeta, poderosa e penetrante. Essa voz
disse: Sobe aqui, e mostrar-te-ei as coisas que depois destas devem acontecer.
João teria uma prévia do futuro.
Logo o vidente foi arrebatado em
espírito (2). Para o significado dessa frase veja
os comentários em 1.10. Aqui
evidentemente significa que João foi levado espiritualmente (não fisicamente)
para o céu.
Lá ele viu um trono e Alguém
sentado nele. Aquele sentado no trono era na aparência, semelhante à pedra de
jaspe e de sardônica, com um arco semelhante à esmeralda (3). Swete faz essa
observação útil: “A descrição rigorosamente evita detalhes antropomórficos, O
olho do vidente fica detido pelo luzir das cores como de pedras preciosas, mas
ele não vê nenhuma forma”
A identificação dessas três
pedras é debatida. Não se sabe ao certo se a pedra de jaspe era vermelha ou
verde. A pedra sardônica era vermelha. O arco (gr., iris4) era semelhante à
esmeralda, que é verde. Phillips traduz essa passagem da seguinte maneira: “Sua
aparência resplandecia como diamante e topázio, e ao redor do trono brilhava um
arco semelhante a um arco-íris de esmeraldas”
Nos vinte e quatro assentos ao
redor do trono havia vinte e quatro anciãos assentados (4). Por que vinte e
quatro? Alguns sugerem que eles representavam os vinte e quatro turnos dos
sacerdotes (1 Cr 24). Vitorinus, o comentarista latino mais antigo de
Apocalipse, diz que os anciãos
representavam os doze patriarcas e os doze apóstolos.
Com base nisso, Swete encontra
“na representação dupla a sugestão dos dois elementos que coexistiam no novo
Israel, os crentes judeus e os crentes gentios que eram um em
Cristo. Assim, os 24 anciãos
formavam a Igreja em sua totalidade”. Melhor ainda, eles podem ser considerados
os representantes de todo o povo de Deus, tanto dos santos do
Antigo Testamento quanto dos
cristãos.
Esses anciãos estavam vestidos de
vestes brancas; e tinham sobre a cabeça coroas de ouro. Eles estavam limpos e
coroados. A palavra para coroas significa as coroas dos vencedores (cf. 2.10).
Do trono saíam relâmpagos, e
trovões, e vozes (5). Esses três elementos são mencionados em conexão com a
concessão da lei (Ex 19.16). Barclay comenta: “Aqui João está usando a imagem
que é regularmente conectada com a presença de Deus”.
Diante do trono ardiam sete
lâmpadas de fogo que eram identificadas como os sete Espíritos de Deus. A
referência é evidentemente ao Espírito Santo (veja comentários de 1.4).
Havia
diante do trono um como mar de vidro (6). Isto é, ele parecia como um mar
de vidro. Para ressaltar sua transparência, é acrescentado: semelhante ao cristal.
Quanto ao significado do mar semelhante ao vidro, Swete diz: “Ele sugere a
vasta distância que, mesmo no caso de alguém que estava parado na porta do céu,
existia entre ele mesmo e o Trono de Deus”.
b)
As quatro criaturas viventes (4.6b-8). Elas estão no meio do trono e ao redor do
trono (6). Essa estranha combinação é explicada da seguinte maneira por
Moffatt: “e
no meio (de cada lado) do trono e
(conseqüentemente) ao redor do trono”.
Animais (zoa) deveria ser
traduzido por “criaturas viventes”. A tradução aqui é particularmente infeliz
visto que “animais” ou “bestas” é a tradução correta de theria nos capítulos
11—13. Trench escreve o seguinte acerca dessas duas palavras gregas:
“Ambas desempenham um importante
papel nesse livro; ambas têm um simbolismo muito elevado; mas ambas se movem em
esferas tão distantes uma da outra quanto dista o céu do inferno. As zoa ou
‘criaturas viventes’, que estão diante do trono e em quem habitam a plenitude
de toda criatura [...] constitui uma parte do simbolismo celestial; as theria,
a primeira besta e a segunda [...] essas formam parte do simbolismo diabólico”.
Os quatro animais (“criaturas
viventes”) são descritos como cheios de olhos por diante e por detrás. Isso
sugere que eles sabiam tudo que estava acontecendo; isto é, eles mantinham uma
vigilância ininterrupta.
Tem havido muita discussão em
relação ao significado dessas quatro criaturas viventes. Lenski escreve: “As
zoa têm sido chamadas de esfinge do Apocalipse. Um autor oferece vinte e uma
interpretações”. Mas isso é tornar a situação desnecessariamente difícil. Swete
sugere esta simples explicação: “As zoa representam criação e a imanência
divina na natureza”. Um pouco mais adequada é a interpretação de Donald
Richardson:
“Quatro é o número cósmico: e as
quatro criaturas viventes dos versículos 6-8 são o símbolo de toda a criação
redimida, transformada, aperfeiçoada e trazida para debaixo da obediência à
vontade de Deus e manifestando a sua glória”. Alguns entendem que os vinte e
quatro anciãos representam os santos redimidos de todos os tempos e as quatro
criaturas viventes representam os seres angelicais.
As quatro criaturas viventes são
descritas como: semelhante a um leão [...] semelhante a um bezerro [...] o
rosto como de homem [...] semelhante a uma águia voando (7). Essas são as
mesmas faces das “quatro criaturas viventes” [animais] de Ezequiel 1.5-10 e
similares às faces dos “querubins” de Ezequiel 10.14. Ao entender que as
criaturas viventes representam toda criação, Swete escreve: As quatro formas
sugerem [ respectivamente ] o que é mais nobre, mais forte, mais sábio e mais
veloz na natureza animada”.” Alguns dizem que Mateus tipifica Cristo como um
leão (Rei), Marcos como um bezerro, ou boi (Servo), Lucas como um homem (Filho
do Homem) e João como uma águia voando (Filho de Deus). Os paralelos, embora
interessantes, não devem ser exagerados.
Cada uma das quatro criaturas
viventes tem respectivamente, seis asas e, ao redor e por dentro, estavam
cheios de olhos (8). Uma tradução melhor seria: “E as quatro criaturas
viventes, cada uma delas tendo seis asas, estão cheias de olhos ao redor e por
dentro” (NASB). Donald Richardson sugere que as asas “simbolizam a perfeição do
seu equipamento para o serviço de Deus”.’4 Quanto ao significado dos olhos veja
os comentários do versículo 6.
Acerca das quatro criaturas
viventes lemos: e não descansam nem de dia nem de noite. Swete escreve: “Essa
atividade ininterrupta, da natureza debaixo da mão de Deus é um tributo
ininterrupto de louvor”. Elas clamam: Santo, Santo, Santo. Esse é um eco do
clamor dos serafins em Isaías 6.3. Senhor Deus, o Todo-poderoso substitui o
“Senhor dos Exércitos” em Isaías. Acerca do significado de que era, e que é, e
que há de vir, veja os comentários em 1.8.
No versículo 8, encontramos “Um
Cântico de Louvor a Deus”: 1) Pela sua santidade;
2) Pela sua onipotência; 3) Pela
sua eternidade (Barclay).
c)
O louvor universal (4.9-11). As quatro criaturas viventes dão
glória, e honra, e ações de graças a Deus (9). Swete diz: “Enquanto time
(honra) e doxa (glória) dizem respeito às perfeições divinas, eucharistia
(ações de graça) se refere aos dons na criação e redenção”.’6 Que vive para
todo o sempre é encontrado novamente em 4.10; 10.6; 15.7. Deus é supremamente o
“Deus vivo”.
Na sua adoração ininterrupta, as
quatro criaturas viventes recebem a companhia dos vinte e quatro anciãos, que
se prostram diante do que estava assentado sobre o trono (10). Eles estavam
assentados na sua presença (v. 4). Mas agora são impelidos a prostrar-se em
adoração diante do Eterno, lançando suas coroas de vitória aos seus pés.
Isso era “equivalente a um
reconhecimento de que sua vitória e sua glória eram de Deus, e isso somente por
meio da graça dele”.
Ao adorá-lo, eles o aclamavam
como Digno [...] de receber glória, e honra, e poder (11). Eles o reconheciam
como o grande Criador de todas as coisas. Para a sua vontade (thelema) são e
foram criadas. O grego diz: “elas eram, e foram criadas”. Novamente Swete
apresenta a melhor explicação: “A Vontade divina tinha feito do universo um
fato no projeto das coisas antes que o Poder divino desse expressão material ao
fato”.
2. A Adoração de
Cristo como Redentor (5.1-14)
No capítulo 4, vimos Deus sentado
no seu trono eterno, recebendo louvor perpétuo.
No capítulo 5, encontramos
Cristo, o Cordeiro, revelado como Redentor divino,
a)
O livro selado (5.1-5). O Eterno, sentado no seu trono, tinha em sua mão
direita um livro (1). A palavra grega é biblion —. lit.: “feito de papiro” — de
onde vem a “Bíblia”.
Ela significa um “rolo” ou
“pergaminho” (veja comentários em 1.11). Esse rolo foi escrito por dentro e por
fora. Geralmente, a escrita aparecia somente por dentro, onde as tiras de
papiro corriam horizontalmente. Mas, ocasionalmente, também se escrevia do lado
de fora, onde sería difícil escrever nas tiras perpendiculares. Folhas de
papiro (de
] onde vêm o “papel”) eram
elaboradas ao se colarem tiras de papiro horizontais sobre tiras verticais.
Esse é o material no qual a maior parte do Novo Testamento, se não todo ele,
foi originariamente escrito.
Nossos manuscritos gregos mais
antigos, do terceiro século, são de papiro.
Esse rolo foi selado com sete
selos. Selado é o particípio passivo perfeito de um verbo composto, sugerindo
que ele foi “completamente selado”, ou “selado firmemente”.
Esse aspecto é reforçado com a
menção dos sete selos, o número da perfeição ou inteireza,
Alguns acreditam que os sete
selos se referem a um costume legal daquela época.
Charles os descreve como: “Uma
resolução, de acordo com o Testamento Pretoriano, na lei romana trazia os sete
selos das sete testemunhas nos fios que seguravam as tabuinhas ou o pergaminho
[...] Esse Testamento não podia ser executado até que todos os sete selos
tivessem sido quebrados”.
Qual livro João tinha visto?
Muitas respostas têm sido apresentadas a essa pergunta. Simcox resume algumas
delas. Ele escreve: “O ponto de vista tradicional, se de fato existe um, desse
livro selado é que ele representa o Antigo Testamento, ou de forma mais geral,
as profecias das Escrituras, que só se tornam compreensíveis com O seu
cumprimento em Cristo”. Rejeitando isso, ele continua: “Muitos comentaristas pós-Reforma,
tanto romanos quanto protestantes, têm considerado o livro como o próprio
Apocalipse”. Ele acrescenta: “A maioria dos comentaristas modernos generaliza e
entende que este é o Livro dos conselhos de Deus”. Simcox prefere interpretá-lo
como o Livro da Vida (20.12; 2 1.27).
O ponto de vista mais comumente
aceito relaciona esse livro com as “coisas que depois destas devem acontecer”
(4.1); isto é: Apocalipse 4—22. Charles escreve: “O rolo contém os decretos
divinos e os destinos do mundo [...] Em outras palavras, o livro é uma profecia
das coisas que ocorrem antes do fim”. Ele acrescenta: “Que esse livro é selado com
sete selos mostra que os conselhos e julgamentos divinos que ele contêm são um segredo
profundo 1...) que somente pode ser revelado pela mediação do Cordeiro”. Swete o
chama simplesmente de “Livro do Destino”. Erdman diz: “Ele contém todos os
decretos de Deus, um esboço de todos os eventos até o fim dos tempos. Os
capítulos seguintes revelarão esses conteúdos”.
E vi (2) torna-se uma frase
recorrente (cf. 5.1; 6.1; 7.1; 8.2; 9.1; 10.1), introduzindo novos aspectos.
Com grande voz, alcançando todo o universo, um anjo forte (cf. 10; 18.21)
proclamou: Quem é digno de abrir o livro e de desatar os seus selos? A quebra
dos selos necessariamente precederia a abertura do livro, mas a abertura é
colocada primeiro porque é o principal objeto procurado.
Num primeiro momento, a
proclamação em alta voz não foi respondida: E ninguém no céu, nem na terra, nem
debaixo da terra, podia abrir o livro, nem olhar para ele (3). Ninguém (oudeis)
claramente inclui seres angélicos e humanos. Essa situação desagradável
incomodava João grandemente. Ele diz: E eu chorava muito, porque ninguém fora
achado digno (apto) de abrir o livro (4).
Mas o problema agonizante foi
logo resolvido. Um dos anciãos disse a João para parar de chorar. Havia
boas-novas: o Leão da tribo de Judá, a Raiz de Davi [...] venceu para abrir o
livro (5). O primeiro desses títulos para Cristo nos leva de volta ao tempo em
que Jacó abençoou seus doze filhos. Ele descreveu Judá como um “leãozinho” ou
filhote (Gu 49.9). Mas Jesus foi o supremo Leão dessa tribo. Ele também foi a
Raiz de Davi (cf. 22.16).
Essa expressão é um eco de Isaías
11.1,10; também citado em parte em Romanos 15.12. E um termo messiânico. No
período intertestamentário parecia que a casa de Davi tinha morrido. Em Cristo
reapareceu.
Venceu (enikesen) vem de nike,
“vitória” (cf. Phillips — “obteve a vitória”). Charles comenta: “Enikesen deve
ser entendido aqui, como sempre na LXX e no NT, de forma absoluta. Esse termo
expressa que de uma vez por todas Cristo venceu [...] e o propósito dessa
vitória era capacitá-lo a abrir o livro do destino e levar a história do mundo
até os seus estágios finais [...] A vitória tinha sido obtida por meio da sua
morte e ressurreição”.
b)
O Cordeiro morto (5.6-7). Um Leão tinha sido anunciado, mas um Cordeiro (6)
apareceu. Esse é um dos paradoxos de Cristo. Os judeus esperavam que seu
Messias fosse “o Leão da tribo de Judá”. O que eles não perceberam foi que Ele
precisa ser primeiro “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (Jo
1.29). Por causa da menção do Cordeiro [...] morto, alguns interpretam o
“livro” desse capítulo como que se referindo à redenção. Straus declara: “O
assunto do rolo selado é a redenção”.
A palavra grega para Cordeiro
(arnion) é usada para Cristo vinte e sete vezes no
Apocalipse. Literalmente, ela
significa “cordeirinho”. No entanto, Jeremias observa que nos tempos do Novo
Testamento ela não tem mais a força de um diminuitivo.
Embora um cordeiro geralmente
traga consigo a idéia de desamparo e fraqueza, esse Cordeiro tinha sete pontas,
significando poder perfeito, e sete olhos, indicando conhecimento perfeito. Ele
é onipotente e onisciente. Os sete olhos são então identificados como sendo os
sete Espíritos de Deus enviados a toda a terra.3’ Isso significa o Espírito
Santo (veja comentários em 1.4).
O versículo 7 é traduzido
literalmente da seguinte forma: “E veio e tomou da mão direita do que estava
sentado no trono”. Assim João descreve com bastante realismo a ação enquanto
ela ocorre. Mas, obviamente o livro precisa ser suprido como objeto e algum
copiador posterior o inseriu.
c)
A companhia que canta (5.8-14). Quando o Cordeiro pegou o rolo, as
quatro criaturas viventes e os vinte e quatro anciãos (veja comentários em 4.4,
6) prostraram-se diante dele (8). Todos eles — talvez apenas os anciãos32 —
tinham harpas. O melhor texto grego está no singular: “Cada um tendo uma cítara”
(ou lira). Eles também tinham salvas de ouro cheias de incenso. O incenso
simboliza as orações dos santos. Swete nota que o uso de incenso em algumas
igrejas nos tempos modernos, talvez com base nessa passagem, não tem apoio dos
Pais da igreja dos três primeiros séculos.
Eles cantavam um novo cântico
(9). Christina Rossetti habilmente disse: “O céu é revelado à terra como a
pátria da música”.33 A expressão um novo cântico ocorre uma série de vezes nos
Salmos (33.3; 40.3; 96.1; 98.1; 144.9; 149.1). Ela também é encontrada em
Isaías 42.10.
O hino que se segue é um hino de
adoração a Cristo, o Redentor. Ele era digno (cf. v. 2) de tomar o livro e de
abrir os seus selos. Por quê? Porque foste morto e com o teu sangue compraste
para Deus. A idéia de que somos comprados da escravidão do pecado com o sangue
de Cristo é de grande importância no Novo Testamento.
Essa é a redenção, o tema central
da Bíblia. Somos comprados para Deus; portanto, pertencemos a Ele. Não está
escrito de quem fomos comprados; a ênfase estápor quem e para quem. Essa
redenção se estende a toda a humanidade, às pessoas de toda tribo, e língua, e
povo, e nação — “representantes de cada nacionalidade, sem distinção de raça ou posição geográfica ou
política”.
Pela sua redenção graciosa,
Cristo os fez reis e sacerdotes para o nosso Deus
(10). Essa combinação das funções
real e sacerdotal do crente é encontrada diversas
vezes no Novo Testamento. Ela já
ocorreu em 1.6 e voltará a ocorrer em 20.6. Pedro usa a expressão “o sacerdócio
real” (1 Pe 2.9). Que privilégio sublime!
Eles reinarão sobre a terra
parece apontar para o reino do milênio. A KJV traz:
“Nós reinaremos sobre a terra”.
Mas muitos estudiosos (incluindo Swete e Charles) entendem que a tradução aqui
deve ser: Eles reinarão. Mesmo isso poderia ser tomado como um presente
profético. Há um sentido no qual os santos reinam com Cristo agora.
Mas o cumprimento mais amplo olha
para o futuro.
Swete ressalta o significado dos
versículos 9-10: “O ‘novo cântico’ reclama para Je-
sus Cristo o lugar singular que
Ele tomou na história do mundo. Por meio de um ato
supremo de abnegação Ele comprou
homens de todas as raças e nacionalidades para o serviço de Deus, fundou um
vasto império espiritual e transformou a vida humana em um serviço sacerdotal e
uma dignidade real”.
Os versículos 9,10 mostram “A
Morte de Jesus Cristo” como: 1) Uma morte sacrificial
— com o teu sangue; 2) Uma morte
libertadora — nos compraste; 3) Uma morte universalmente expiatória — de toda
tribo; 4) Uma morte eficaz — os (nos) fizeste. E olhei (11) é o mesmo no grego
que “e vi” nos versículos 1 e 2. Dessa vez o vidente também ouviu a voz de
muitos anjos ao redor do trono. O número deles era de milhões de milhões (gr.,
myriadas myriadon, “dez milhares de dez milhares”) e milhares de milhares
(chiliades chiliadon). As mesmas duas expressões, só que na ordem inversa, são
encontradas em Daniel 7.10. E uma típica linguagem apocalíptica, ressaltando a
grandeza e majestade de Deus.
A grande voz (12) sugere um grito
em vez de um cântico. As miríades de anjos clamavam: Digno é o Cordeiro, que
foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e
glória, e ações de graças. Essa expressão é quase duplicada em 7.12. Uma
sétupla descrição semelhante de honra é encontrada em 1 Crônicas 29.11-12. A
lista de sete itens sugere perfeição de poder e glória. Toda criatura (13)
participou nessa adoração a Deus e ao Cordeiro. Quatro habitações são
mencionadas — que está no céu, e na terra, e debaixo da terra, e [...] no mar.
O último item é acrescentado ao “universo de três andares” costumeiro (cf. v.
3). Toda criação estava engajada em louvar o Pai e o Filho. Charles comenta:
“Assim, o universo de coisas criadas, os habitantes do céu, da terra, do mar e
do Hades, se unem na parte final do louvor diante do trono de Deus”.
Quatro itens de louvor são
mencionados aqui, em comparação com os sete mencionados no versículo 12. Mas no
grego, o artigo é repetido com cada um dos quatro itens, dessa forma
ressaltando os diversos itens para a ênfase individual. Ações de graça é
eulogia. Quando aplicada a Deus, como aqui, essa palavra significa “louvor”.
Honra (time) sugere primazia.
Glória (doxa) fala do “esplendor” de Deus, um brilho que irradia da sua
presença. Poder não é dynamis, mas kratos, que significa “força” ou “vigor”
(“might” em inglês).
As quatro criaturas viventes
disseram: Amém (14), confirmando a doxologia anterior. Os vinte e quatro
anciãos tomaram parte da adoração ao Eterno no trono. Charles sugere que há
quatro maneiras de o Amém ser usado no livro de Apocalipse:
1) “O amém inicial no qual as
palavras do falante anterior são referidas e aceitas como se fossem as suas
próprias palavras”, como em 5.14; 7.12; 19.4; 22.20;
2) “o amém separado”, como aqui;
3) “o amém final sem mudança de
orador”, como em 1.6,7; 4) “o Amém”, como um nome aplicado a Deus em 3.14.
Elaboração pelo:- Evangelista
Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de
Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Comentário Bíblico Beacon
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