terça-feira, 27 de março de 2012

APOCALIPSE A REVELAÇÃO DE JESUS CRISTO

APOCALIPSE A REVELAÇÃO DE JESUS CRISTO

TEXTO ÁUREO = “Bem-aventurado aquele que lê, e os que ouvem as palavras desta profecia, e guardam as coisas que nela estão escritas; porque o tempo está próximo” (Ap 1.3).

VERDADE PRÁTICA = O carente que lê e estuda o apocalipse não se espanta com o programa de Deus para estes últimos dias.

LEITURA BIBLICA = Apocalipse 1: 01 – 08

INTRODUÇÃO

Alguém disse acerca do livro de Apocalipse: “Ele é ao mesmo tempo o livro mais respeitado, o mais incompreendido e o mais negligenciado dos escritos do Novo Testamento”.’ Ele tem sido chamado de “o livro mais abusado da Literatura Cristã”. Barclay observa: “O Apocalipse é notoriamente o livro mais difícil do Novo Testamento”.

A veracidade dessa declaração é ressaltada pelo fato de Calvino se abster de escrever um comentário desse livro. Adam Clarke, quando chegou até o livro de Apocalipse, quase decidiu não escrever acerca do mesmo. Ele finalmente concordou com essa complexa tarefa, mas se expôs à difícil situação de citar longos textos de outro autor. Os sentimentos de Clarke são expressos nestas palavras: Estou satisfeito em saber que ainda não foi descoberto um modo certo de interpretar as profecias desse livro, e não vou acrescentar um outro monumento à insignificância ou insensatez da mente humana ao empenhar-me em iniciar um novo estudo.

Vou repetir o que já disse, não entendo esse livro; e estou satisfeito em saber que ninguém que escreveu a respeito desse assunto sabe mais do que eu [...] Eu havia resolvido, por um tempo considerável, não ocupar-me com esse livro, porque previ que não poderia produzir nada satisfatório acerca do mesmo [...] Mudei minha decisão e acrescentei breves notas, principalmente filológicas, nos trechos em que achei que entendi o significado.

John Wesley chama atenção ao grande valor dos capítulos de abertura e conclusão de Apocalipse, e acrescenta: “Mas deixei de estudar as partes intermediárias por muito anos, sem esperança de entendê-las, após as tentativas infrutíferas de tantos homens sábios e bons; e talvez deveria ter vivido e morrido com esse sentimento, se não tivesse conhecido as obras do grande Bengelius”.’ Wesley então decidiu prover um resumo das notas de Bengel. Mas esse grande comentarista alemão caiu na armadilha de definir datas (e.g., 18 de junho de 1836, para a destruição da besta). Spurgeon adverte: “Se um expositor tão magnífico vagueia dessa forma, isso deveria servir de advertência para homens menos instruídos”.

AUTORIA

No início e no fim o livro afirma ter sido escrito por um homem chamado João (1.1, 4,
9; 22.8). Mas quem era esse João? Essa pergunta tem causado muita discussão.

EVIDÊNCIA EXTERNAS

Em sua monumental obra de três volumes, New Testament Introduction (Introdução ao Novo Testamento), Guthrie mostra que o livro de Apocalipse foi citado amplamente pelos Pais da igreja como tendo sido escrito pelo apóstolo João. Ele diz: “No segundo e terceiro séculos, os seguintes autores claramente acreditavam na autoria apostólica: Justino, Irineu, Clemente, Orígenes, Tertuliano e Hipólito”.  Guthrie afirma que “existem poucos livros no Novo Testamento com uma atestação primitiva mais forte do que o Apocalipse”.

O testemunho mais antigo é de Justino, o Mártir (e. 150 d.C.). Em seu Dialogue with Trypho the Jew (Diálogo com Trifo, o judeu, LXXXI), ele diz: “Além do mais, um homem entre nós chamado João, um dos apóstolos de Cristo, recebeu uma revelação e predisse que os seguidores de Cristo habitariam em Jerusalém por mil anos”.

EVIDÊNCIA INTERNA

A situação torna-se um tanto mais complicada quando nos voltamos para o próprio testemunho do livro. O problema está na diferença de linguagem e estilo entre o Evangelho e as epístolas de João de um lado e o Apocalipse do outro. Isso foi percebido por Dionísio, um famoso bispo de Alexandria (morreu em 264 d.C.). Ele escreveu:

Também podemos notar como a fraseologia do Evangelho e das epístolas difere do livro de Apocalipse. O Evangelho e as epístolas são escritos não só de maneira irrepreensível, no que tange à linguagem, mas são também elegantes na fluência, nos argumentos e em toda a estrutura de estilo [.1 Não nego que o autor do Apocalipse teve uma revelação e recebeu conhecimento e profecia. Mas percebo que tanto o seu dialeto quanto a sua linguagem não podem ser considerados um grego muito requintado; o autor, na verdade, usa expressões bastante impuras.”

Por essa e outras razões, Dionísio entendeu que o Apocalipse não foi escrito pelo mesmo João que escreveu o quarto Evangelho e 1 João. Mas ele foi cuidadoso ao expressar a sua convicção e disse que o Apocalipse foi obra “de um homem santo e inspirado”.

O estilo de Apocalipse é descrito por Wikenhauser nestes termos: “O autor escreve em grego, mas pensa em hebraico; ele freqüentemente traduz expressões hebraicas literalmente para o grego. Irregularidade gramatical e estilística é a regra nesse livro”.
Guthrie tem o seguinte comentário acerca do autor de Apocalipse: “Ele coloca nominativos em oposição [aposição?1 com outros casos, usa particípios de maneira irregular, constrói frases quebradas, acrescenta pronomes desnecessários, mistura gêneros, números e casos e introduz diversas construções incomuns”.

De que maneira podemos explicar essa diferença de linguagem? Westcott acredita que o livro de Apocalipse foi escrito bem cedo e acha que o contato próximo posterior com pessoas de fala grega tornou possível para João usar o grego refinado encontrado no Evangelho.  Mas, como vamos ver mais tarde, é preferível datar os dois livros mais ou menos no mesmo período.

Zahn sugere uma explanação mais válida. Ele diz que o fenômeno lingüístico de Apocalipse é devido, em parte, “à dependência das próprias visões e de sua forma literária baseada no modelo dos escritos proféticos do Antigo Testamento”. Esse argumento parece válido pelo fato de nenhum outro livro do Novo Testamento fazer um uso tão abundante do Antigo Testamento. Em sua tradução do Novo Testamento, Beck fornece no final de cada livro uma lista de referências do Antigo Testamento que são citadas ou aludidas de forma clara no livro em análise. No final de Apocalipse, ele apresenta quase 300 referências dos livros proféticos do Antigo Testamento — incluindo aproximadamente 70 referências de Daniel, que não é classificado como “Profeta” pelos judeus. Isso mostra que o autor de Apocalipse estava saturado com o espírito e ensinamentos dos profetas hebreus.

O uso repetitivo de Daniel pelo autor de Apocalipse — mais do que de qualquer outro livro do Antigo Testamento — acrescenta mais um fator. A linguagem de Apocalipse é definitivamente apocalíptica. Ao manter a ênfase em cataclismos e catástrofes — duas palavras gregas apropriadas — é mais do que natural que a linguagem apocalíptica fosse abrupta e quebrada em estilo.

Daniel é o grande apocalipse do Antigo Testamento — junto com Ezequiel, que também é mencionado com freqüência em Apocalipse. No período intertestamentário, apareceram muitos apocalipses judaicos. Muito tem sido dito nos anos recentes acerca da relação entre o livro de Apocalipse e esses apocalipses judaicos, bem como em relação aos apocalipses cristãos dos primeiros séculos da Igreja. Inúmeros livros foram escritos nessa área.” Mas sempre deve ser lembrado que o livro de Apocalipse é mais do que um apocalipse; ele também é uma profecia. Bowman escreveu com propriedade:

Se devemos encontrar um protótipo para o Apocalipse, seria mais próximo da verdade [...] relacioná-lo tanto em forma quanto em conteúdo ao escrito profético do Antigo Testamento do que a qualquer literatura apocalíptica quer judaica ou cristã que apareceu entre 175 a.C. e 100 d.C. Diferentemente dessa literatura, João fala do seu livro como “profecia” em seis passagens e apenas uma única vez como “apocalipse” no seu título.

Há ainda uma outra possibilidade que deveria ser considerada. João provavelmente escreveu seu Evangelho e epístolas em Efeso, onde teria os serviços de excelentes copistas (secretários) gregos. Mas se ele escreveu o livro de Apocalipse na ilha de Patmos, como parece ter sido o caso, ele próprio teria de escrever o livro. O estilo grego rústico seria então o seu próprio.

Na verdade, as diferenças na linguagem entre o Apocalipse e o Evangelho e as epístolas de João têm sido grandemente exageradas. Guthrie observa que “apesar das diferenças lingüísticas e gramaticais, o Apocalipse apresenta uma afinidade maior com o grego dos outros livros de João do que com qualquer outro livro do Novo Testamento”.

O que com freqüência tem passado despercebido é o fato de haver uma série de afinidades marcantes entre o Apocalipse e o Evangelho de João. Guthrie chama a nossa atenção para um ponto importante: “Os dois livros usam a palavra ‘Logos’ para referir-se a Cristo, uma expressão que não é usada em nenhuma outra parte do Novo Testamento além da literatura joanina (Jo 1.1; Ap 19.13)”.” Mais uma comparação é:

“Existe um gosto perceptível por antíteses nos dois livros”. Westcott já tinha chamado a atenção para esse detalhe em seu comentário acerca do Evangelho de João, em que escreveu: “Ambos apresentam uma visão de um conflito supremo entre os poderes do bem e do mal”. Ele acrescenta: “No Evangelho, as forças opositoras são apresentadas debaixo de formas abstratas e absolutas, como luz e trevas, amor e ódio; no Apocalipse, debaixo de formas concretas e definidas, Deus, Cristo e a Igreja guerreando com o diabo, o falso profeta e a besta”. Essas e outras afinidades tendem a apoiar uma autoria comum.

As vezes se toma como certo que todos os estudiosos do Novo Testamento hoje em dia rejeitam completamente a idéia de que o Apocalipse foi escrito por João, filho de Zebedeu. Mas, isso não é verdade. Stauffer escreve: “Em vista de tudo isso, temos base suficiente para atribuir esses cinco escritos a um autor comum, de uma individualidade marcante e grande significância, e identificá-lo como o apóstolo João”. Alan Richardson diz concernente ao Evangelho: “A evidência, tal como a encontramos, não exclui a possibilidade de que a tradição que conecta o quarto Evangelho ao nome de João, filho de Zebedeu, esteja certa, afinal”. E, em relação ao Apocalipse? Ele diz: “Hoje pode ser seriamente sustentado que o autor de Apocalipse não é ninguém mais do que o próprio autor do quarto Evangelho, adotatdoo. estilo e imagem convencional da literatura apocalíptica judaica da época como o instrumento de comunicação da sua ‘profecia’ a uma igreja perseguida”

DATA

Duas datas principais para a composição de Apocalipse têm sido sugeridas. Uma é
em torno de 65 d.C., quando os cristãos estavam sendo perseguidos por Nero. A outra é em torno de 95 d.C., durante as perseguições realizadas por Domiciano. O grande triunvirato de Cambridge — Lightfoot, Westcott e Hort — acreditava que o Apocalipse foi escrito durante o tempo de Nero. Mas, como Swete observa: “A primitiva tradição cristã é quase unânime em atribuir o Apocalipse aos últimos anos de Domiciano”.

Irineu é a testemunha antiga mais importante. Conforme é citado por Eusébio, ele diz no quinto livro de Against Heresies (Contra Heresias): “Se, no entanto, fosse necessário proclamar o seu nome [i.e., Anticristo] abertamente no tempo presente, seria declarado por ele que teve a revelação, porque não faz muito tempo que foi visto, quase em nossa própria geração, no fim do reinado de Domiciano”. A maioria dos Pais da igreja posteriores segue a interpretação de Irineu.

Há uma série de argumentos que apóiam essa data posterior. Um argumento diz que o livro de Apocalipse parece claramente refletir a presença da adoração ao imperador na província da Asia. Embora haja evidência da divinização extra-oficial e adoração de imperadores mais antigos, “não houve nenhuma tentativa oficial de reforçar o culto até a última parte do reinado de Domiciano”.

Mais um argumento é a severidade da perseguição refletida no livro de Apocalipse (1.9; 2.12; 3.10; 6.9). Com relação a Domiciano, Guthrie escreve: “Esse imperador mandou matar seu parente Flávio Clemente e baniu a esposa dele com a acusação de sacrilégio (atheotes), o que fortemente sugere que isso ocorreu por causa do cristianismo, visto que a esposa, Domitilia, é conhecida, de inscrições, como tendo sido cristã”. O quadro apresentado no Apocalipse parece encaixar-se melhor no reinado de Domiciano.
Um terceiro argumento citado com certa freqüência é o mito da ressurreição de Nero. Após a morte desse imperador maníaco em 68 d.C., surgiu uma lenda de que ele continuava vivo e que voltaria como líder à frente de um exército de partos para invadir o Império Romano. Swete comenta: “A lenda, na verdade, não surgiu sem um correlativo histórico. Quando o Apocalipse foi escrito achavam que Nero tinha, na verdade, voltado na pessoa de Domiciano”.

Alguns acreditam que Apocalipse 13.3 e 17.8 se referem à lenda a respeito de Nero.
McDowell afirma: “E claro que o autor de Apocalipse não acreditava nesse mito, mas parece bastante provável que ele o empregou em conexão com o seu simbolismo”. Uma data no reinado de Nero (e. 65 d.C.) não pode ser descartada. Mas, de acordo com os argumentos acima e especialmente à luz da forte tradição da Igreja Primitiva, parece- nos mais sensato ficar com uma data na última parte do reinado de Domiciano (e. 95 d.C.).

DESTINÁRIOS

O livro foi dirigido às “sete igrejas que estão na Ásia” (1.4); isto é, a província da Asia, no lado ocidental da Asia Menor. As sete igrejas são mencionadas em 1.11.

PROPÓSITO

O propósito principal era confortar e encorajar os cristãos nas suas perseguições presentes e nas futuras ao assegurar-lhes o triunfo final de Cristo e seus seguidores. Também era necessário advertir as igrejas contra falhas na doutrina ou na prática cristã.

ESTRUTURA

Que o livro de Apocalipse é altamente dramático dificilmente pode ser questionado por qualquer leitor atento. Até que ponto esse fenômeno afeta a estrutura do livro?
Bowman tornou esse o fator dominante. Depois de notar que a forma de carta ou epístola se aplica particularmente à saudação de abertura em 1.4-6 (1.1-3 sendo o título do livro) e à bênção final (22.21), ele trata do restante do livro como um drama literário. Entre o Prólogo (1.7-8) e o Epílogo (22.6-10) ele encontra sete atos, cada um com sete cenas. Todo o esquema é realizado com grande engenhosidade — demais para alguns críticos! Mas o quadro como um todo causa grande impacto e torna o livro de Bowman uma leitura muito interessante.

McDowell começa o drama com o capítulo 4 e sugere dois atos, com sete cenas cada. Kepler encontra “sete atos e dez cenas”. Embora esses esboços difiram um pouco em detalhes, todos eles salientam o fato de que sete é o número predominante em Apocalipse. Há sete cartas, sete selos, sete trombetas e sete taças. Poderia parecer que os selos, as trombetas e as taças não representam séries sucessivas de julgamentos, mas deveriam ser interpretados em termos de repetição e revisão. Erdman resume a estrutura do livro desta forma:

Na verdade, contraste e repetição e clímax são traços evidentes na estrutura literária do livro. No entanto, o aspecto mais distinto é o da simetria. Cada uma das cartas às sete igrejas segue o mesmo esquema literário exato.
Todas as sete igrejas formam uma seção descritiva da Igreja em sua imperfeição e perigo atual. Com esses capítulos o livro abre, e, com equilíbrio poético, fecha com a figura da Nova Jerusalém, nos dois capítulos contendo a visão da Igreja, perfeita e gloriosa.

Nas cinco seções centrais há a mesma ordem harmoniosa e artística. Duas seções, dos selos e das trombetas, descrevem revolução e catástrofe, das quais naturalmente emergem os grandes antagonistas cujo conflito forma o ponto central da ação dramática, enquanto as duas seções das taças e julgamentos retratam vivida- mente a destruição dos inimigos de Cristo e preparam para a imagem final da sua Igreja aperfeiçoada no esplendor da “nova terra”.


O PRIMEIRO CAPITULO DE APOCALIPSE FORMA UMA INTRODUÇÃO DO LIVRO

APOCALIPSE 1.1-20

Ele é composto por um breve parágrafo em que é apresentado o título e propósito da sua composição (vv. 1-3), seguido por uma saudação (vv. 4-8) e a visão de Cristo (vv. 9-20).

O SOBRESCRITO, 1.1-3

A FONTE DA REVELAÇÃO  (1.1)

As três primeiras palavras do livro de Apocalipse são: Apocalypsis lesou Christou.
Este é obviamente o título do livro. E por isso que não encontramos nenhum artigo definido. Assim, traduzimos o título: Revelação de Jesus Cristo. Na língua portuguesa, esse livro é predominantemente denominado de “Apocalipse”,

Isso ocorre porque a palavra grega para revelação é apocalypsis. Vem do verbo apocalypto, “descobrir” ou “revelar”. Na Septuaginta e no Novo Testamento, ele é usado no sentido especial de uma revelação divina. Um bom exemplo do Antigo Testamento grego é Amós 3.7: “Certamente o Senhor Jeová não fará coisa alguma, sem ter revelado o seu segredo aos seus servos, os profetas”. No Novo Testamento, Paulo usa o substantivo 13 vezes. Por exemplo, ele fala da “revelação do mistério” (Rm 16.25). Ele recebeu seu evangelho “pela revelação de Jesus Cristo” (Gl 1.12). O termo também é usado para a Segunda Vinda em 1 Coríntios 1.7 (“manifestação”; “vinda” na KJV) e 2 Tessalonicenses 1.7, bem como em 1 Pedro 1.7, 13; 4.13. Vincent escreve: “A Revelação aqui é o revelar dos mistérios divinos”.

Mas, qual é o significado do complemento de Jesus Cristo? Alguns estudiosos entendem que esse é um genitivo objetivo; isto é, Jesus Cristo está sendo revelado. Um certo apoio para esse ponto de vista é encontrado no fato de que temos uma visão de Cristo nesse primeiro capítulo. Mas isso não descreve apropriadamente os conteúdos do livro como um todo.

Em segundo lugar, ele pode ser tratado como um genitivo de posse; isto é, a revelação pertence a Jesus Cristo. Isso é apoiado pela frase a qual Deus lhe deu. Mas isso era para o propósito da sua transmissão a João.

Um terceiro ponto de vista é que esse é um genitivo subjetivo; isto é, Jesus Cristo dá  a revelação. Isso parece fazer mais sentido. Lenski diz: “O genitivo é subjetivo: Jesus Cristo fez essa Revelação”.2 Phillips realça o ponto ao traduzir assim a sentença: “Essa é a Revelação de Jesus Cristo”. No entanto, é melhor deixar de fora o verbo da expressão, como ocorre no grego, e transformá-la no título do livro.

A fonte da revelação foi Deus — a qual Deus lhe deu. Swete comenta: “O Pai é o supremo Revelador [...] o filho é o agente por meio de quem a revelação passa aos homens”. Isso está em conformidade com o ensinamento do Evangelho de João (3.35; 5.20- 26; 7.16; 8.28 etc.).

O propósito de Deus ao dar essa revelação a Jesus era que ele pudesse mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer. A palavra para servos é doulois, que significa “escravos”. Mas Simcox emite uma nota de advertência para aqueles que interpretam esse termo no sentido moderno ocidental. Ele diz: “No Oriente (Lc 15.17) os servos que foram comprados por um preço estavam acima dos assalariados”. Em Atos e nas epístolas, o termo é freqüentemente aplicado aos cristãos.

A palavra devem (dei) é extremamente significativa. Charles escreve: “O dei de- nota não a consumação rápida das coisas, mas o cumprimento absolutamente certo do propósito divino”.

Um outro termo importante é brevemente (en tachei). Charles comenta: “Que esse cumprimento ocorreria ‘logo’ [...] sempre foi a expectativa de toda profecia viva e apocalíptica”. A. T. Robertson observa: “E um termo relativo a ser julgado à luz de 2 Pedro 3.8, de acordo com o relógio de Deus, não o nosso”. A mesma frase ocorre em Lucas 18.8. Simcox diz: “Essas últimas passagens sugerem que o objetivo dessas palavras é assegurar-nos da prontidão prática de Deus para cumprir suas promessas, em vez de definir qualquer limite de tempo para o seu cumprimento real”.

No calendário de Deus, esses eventos são marcados de maneira definida, mas não nos cabe interpretar esse calendário (cf. At 1.7). No entanto, tudo será cumprido brevemente — “logo”, ou “em breve”. Moffatt comenta: “Esse é o ponto crítico do livro [...] A nota-chave de Apocalipse é a certeza alegre de que da parte de Deus não há relutância ou atraso; seu povo não precisa esperar ansiosamente agora”. Newell faz a seguinte sugestão útil: “Brevemente’ não só significa iminência, mas também rapidez na execução, depois da ação iniciada”.

A sentença seguinte também é importante: pelo seu anjo as enviou e as notificou a João, seu servo. O verbo notificou é semaino. Ele vem de sema (semeion), “um sinal”. Assim, esse verbo significa “dar um sinal, representar, indicar,” ou “fazer conhecido, relatar, comunicar”. Lange diz o seguinte: “Esemanen é uma modificação de deixai [mostrou], indicativo dos sinais empregados, a representação simbólica”. Bengel observa: “a LXX usa semainein para expressar um grande sinal de uma grande coisa: Ezequiel 33: 3. O verbo é encontrado somente aqui em Apocalipse.
Vincent escreve: “Apalavra é apropriada para o caráter simbólico da revelação, como em João 12.33, em que Cristo prediz o modo da sua morte por meio de uma figura”.

E com base nessa derivação etimológica que muitos mestres da Bíblia têm escolhido dar a notificou o significado de “sinalizou”; isto é, o material desse livro é apresentado em sinais e símbolos. Alguns comentaristas mais recentes têm contestado essa explicação. J. B. Smith, por exemplo, diz: “O uso da palavra em outros textos (Jo 12: 33; 18.32; 21.19; At 11.28; 25.27) não permite esse significado. Em cada caso, o sentido deve ser indicado pela palavra e não pelo símbolo”.

Parece, no entanto, que a idéia tem algum mérito, embora não deva ser super enfatizada. No léxico de Liddell-Scott-Jones, o primeiro significado dado é: “mostrar por um sinal, indicar, apontar”. Também é mencionado que quando o verbo é usado “absolutamente” (i.e., sem um objeto) ele significa “dar sinais”. E dessa forma que o termo é usado aqui. Depois de descrever o significado original da palavra, McDowell observa: “O autor infere que a mensagem que ele recebeu é dada aos seus leitores por meio de sinais e símbolos. A atenção a esse fato deveria poupar-nos de um literalismo crasso ao interpretar a mensagem do livro”.

A revelação foi notificada pelo seu anjo. Provavelmente, a melhor coisa é pegar essa forma singular de maneira genérica. Ela se aplicaria, portanto, “a todos os anjos individuais que nas diferentes visões têm o ofício de fazer declarações significativas”. Esses anjos (ou anjo) são mencionados em 17.1, 7, 15; 19.9; 21.9; 22.1, 6. O significado literal de anjo (angelos) é “mensageiro”. Tanto no Antigo quanto no Novo Testamento encontramos Deus usando anjos como mensageiros para comunicar sua revelação aos homens. Nesse caso, a revelação foi enviada a João, seu servo. Duesterdieck comenta: “O vidente se autodenomina servo de Jesus Cristo quanto ao seu serviço profético. O acréscimo do seu próprio nome contém, de acordo com o costume profético antigo, uma atestação da profecia”.

O CONTEÚDO DA REVELAÇÃO  (1.2)

João testificou da palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto. As palavras gregas para testificou e testemunho vêm da mesma raiz. O The Twentieth Century New Testament [Novo Testamento do Século Vinte] preserva essa conexão ao traduzir o versículo da seguinte forma: “o qual testificou da Mensagem de Deus, e do testemunho acerca de Jesus Cristo, não omitindo nada daquilo que viu”.

A raiz grega comum é martyr. Rist observa que a combinação aqui “pode envolver um jogo de palavras que não é reproduzível na tradução inglesa, porque a palavra ‘testemunho’ também pode significar ‘martírio’, enquanto ‘testificou’ vem de um verbo que pode significar ‘tornar-se um mártir’. Há uma conexão próxima, porque aqueles
que testificavam e davam testemunho eram candidatos ao martírio nos dias de perseguição”.  E por isso que a palavra grega martyros, “testemunha”, finalmente veio a significar “mártir”.

Testificou está no aoristo. Esse é um bom exemplo de um aoristo epistolar. João está testificando enquanto escreve, mas do ponto de vista dos seus leitores estaria no tempo passado. Assim, o aoristo epistolar seria melhor traduzido como um presente contínuo no português.
Da palavra de Deus, e do testemunho de Jesus são definidos por Charles como significando “a revelação dada por Deus e testificada por Cristo (genitivo subjetivo)”. Semelhantemente, Swete apresenta esta identificação: “A revelação concedida por Deus e atestada por Cristo”.

E de tudo o que tem visto. Não existe a conjunção e nos melhores textos gregos, assim, a maioria dos comentaristas toma essa frase como estando em aposição com a palavra de Deus e o testemunho de Jesus. Swete diz: “Essa palavra e testemunho alcançaram a João em uma visão”. Goodspeed traduz essa passagem da seguinte forma: “Que testifica de acordo com o que viu — a mensagem de Deus e o testemunho de Jesus Cristo”.

A BÊNÇÃO DOS RECEPTORES (1.3)

João pronuncia uma tríplice bênção a três grupos. A primeira é: aquele que lê. O contexto indica claramente que a referência é a alguém que lê o livro a outros — os que ouvem.  Isso justifica a tradução da RSV, que traz: “aquele que lê em voz alta”. “Não é a pessoa particular [...] mas [...] a pessoa que lê em voz alta na congregação”.
Esse era inicialmente um leitor leigo, mas, mais tarde, um obreiro da igreja. Ao chamar aquilo que ele estava escrevendo de as palavras desta profecia, João deliberadamente colocou o livro de Apocalipse no mesmo nível dos livros proféticos do Antigo Testamento. Ele repete isso em 22.7, 10, 18.

Mas, o ouvinte também deve ser um praticante — e guardam as coisas que nela
estão escritas. O verbo grego tereo “é constantemente usado para ‘guardar’ a Lei, os Mandamentos [...] em todo o NT; mas é mais comum em todos os escritos de João”.
Essa é a primeira das sete bem-aventuranças no livro de Apocalipse (cf. 14.13; 16.15;
19.9; 20.6; 22.7, 14). Um estudo dessas “bem-aventuranças” seria proveitoso tanto para os obreiros como para os leigos.

Uma frase final é: porque o tempo está próximo. A palavra para tempo não é chronos — tempo no sentido de duração. A palavra aqui é kairos — “tempo que produz seus diversos nascimentos”. Arndt e Gingrich definem a palavra assim: “o tempo certo, apropriado, favorável [...] tempo definido e estabelecido [...] um dos principais termos escatológicos, ho kairos, o tempo de crise, os últimos tempos”. Lange traduz esse termo aqui por: “o tempo de decisão”. Weymouth traz: “Porque o tempo do seu cumprimento
está agora próximo”.

Mais uma vez, João ressalta a iminência daquilo que irá acontecer (cf. “brevemente”, v.1). Niles observa: “Uma qualidade do apocalipse bem como da profecia é a pré- condensação da visão que estabelece como iminente aquilo que com certeza vai acontecer”. De Cristo ele diz: “Ele está vindo e virá. Na verdade, é nessa fusão do presente contínuo com o futuro certo que se encontra a clareza da escatologia bíblica”.

R. H. Charles chamou a atenção para o fato de se encontrar nesses três primeiros versículos de Apocalipse três elementos, cada um consistindo em três partes. Com relação à 1) fonte da Revelação, ela era de Deus, por meio de Cristo, e comunicada por João aos seus ouvintes. 2) Os conteúdos da revelação são especificados como a palavra de Deus, a verdade atestada por Cristo, reunido naquilo que João viu. 3) A bênção era tríplice — ao leitor público, aos ouvintes e especialmente aos praticantes.

A SAUDAÇÃO, 1.4-8

Os três primeiros versículos formam um sobrescrito para o livro, quase como um título ampliado como encontramos nos títulos de livros escritos há duzentos ou trezentos anos. Mas esse parágrafo constitui uma saudação, indicando o caráter epistolar do livro de Apocalipse. Charles diz: “Todo o livro, a partir de 1.4 até o seu final é, na verdade, uma epístola”.

A SAUDAÇÃO  (1.4,5a)

Diferentemente do costume atual de colocar o nome do remetente somente no final de uma carta, todas as cartas daquele período seguiam o costume sensível de apresentar o nome do autor logo no início. Assim, o leitor saberia imediatamente quem estava escrevendo para ele. Dessa forma, a parte principal do livro de Apocalipse começa com João. Esse provavelmente era João, filho de Zebedeu, o apóstolo que escreveu o quarto Evangelho e as três epístolas que levam o seu nome (veja Int., “Autoria”).
Como respeitável patriarca da Igreja ele não tinha necessidade de identificar-se mais detalhadamente.

O livro é dirigido às sete igrejas que estão na Asia. No Novo Testamento o termo Asia não significa o continente, mas a província romana da Asia, situada no lado ocidental da Asia Menor. Ela tinha sido formada em torno de 130 a.C., com a adição da Frígia em 116 a.C.

Por que sete igrejas? Havia igrejas cristãs em diversas outras cidades da Asia, como Colossos e Hierápolis (Cl 1.2; 4.13), Trôade (At 20.5), Magnésia e Traies, às quais Inácio escreveu em torno de 115 d.C. Foi sugerido que Trôade foi omitida por causa da sua distância das sete igrejas. Por outro lado, as cidades de Hierápolis e Colossos ficavam muito próximas de Laodicéia, e Magnésia e Trales, de Efeso, por isso não foram mencionadas.

Mas uma explicação melhor é que sete era o número da perfeição. O autor de Apocalipse usa esse número como estrutura básica para o seu livro. Aqui esse número significa santidade e perfeição. Erdman escreve: “As sete igrejas endereçadas foram, portanto, representativas de toda a Igreja em todo o mundo e em todas as épocas. Assim, João está dirigindo o livro inteiro à Igreja Universal” O Cânon Muratoriano (final do segundo século) já exprimia: “E João também no Apocalipse, embora escrevesse às sete igrejas, no entanto, fala a todos”.

Graça e paz seja convosco é a mesma fórmula encontrada no início das epístolas paulinas e nas duas de Pedro. (Em 1 e 2 Timóteo, bem como em 2 João, a palavra “misericórdia” é acrescentada. Essas palavras altamente significativas são discutidas nos comentários no início de diversas epístolas paulinas. Plummer observa que a combinação desses dois termos “une elementos gregos e hebraicos, e dá aos dois um profundo significado cristão”.

Graça e paz vêm primeiro da parte daquele que é, e que era, e que há de vir. Isso refere-se primeiramente ao Pai, como o Eterno. Lenski comenta que “Aquele que E’ significa: ‘Aquele que E de eternidade em eternidade’ [...] ‘e Aquele que Era’ significa:
‘Aquele que era antes do tempo e da origem do mundo’ [...] ‘e Aquele que está vindo’ quando o tempo já não mais existir, quando Ele vier para o julgamento final. Ele acrescenta: “Aquele que está vindo’ é altamente messiânico”.

Simcox segue Alford ao argumentar que toda a expressão aqui é “uma paráfrase do ‘nome Inefável’ revelado a Moisés” em Exodo 3.14 (i.e., Jeová ou Yahweh) e talvez também “uma paráfrase da explicação do Nome dado a ele: ‘EU SOU O QUE SOU”. O Targum palestino de Deuteronômio 27.39 traz: “Eis que sou Aquele que Sou, que Era e que Será”. Essa identificação parece razoável, embora devêssemos considerar o ponto de vista de Lenski em relação ao Messias.

A terceira frase aqui não é que há de vir, mas, literalmente, “Aquele que está vindo”. Swete sugere que essa última tradução era talvez a preferida “porque prenuncia já no início o propósito do livro, que deve revelar as intervenções de Deus na história humana”.

A gramática grega aqui é irregular. Literalmente significa o seguinte: “da parte dele...” Moffatt chama isso de “violação gramatical estranha e deliberada [..] para proteger a imutabilidade e inteireza do nome divino da declinação”. Semelhantemente, Charles escreve: “Temos aqui um título de Deus expresso em termos de tempo. O Vidente violou deliberadamente as regras de gramática para preservar o nome divino inviolado de uma mudança que teria de sofrer se fosse declinado”.

Em segundo lugar, graça e paz vem dos sete Espíritos que estão diante do seu trono. Embora um certo número de comentaristas recentes interpretem essa frase como uma referência a seres angelicais, parece mais certo adotar o ponto de vista mais comum de que essa é uma designação simbólica para o Espírito Santo.

Alford diz: “Os sete espíritos indicam a plenitude e a universalidade do agir do Espírito Santo de Deus, da mesma maneira que as sete igrejas tipificam e indicam a igreja em geral”. Swete concorda com essa posição.  Plummer acredita que a expressão significa: “O Espírito Santo, sétuplo em suas operações”, e acrescenta: “O número sete mais uma vez simboliza universalidade, plenitude e perfeição — essa unidade no meio da diversidade que marca a obra do Espírito e a esfera da Igreja”. Essa interpretação é fortemente apoiada por 5.6, que se refere a Zacarias 4.10.

O sétuplo Espírito está diante do seu trono. Lenski conclui sua discussão desse versículo ao dizer: “Assim, devemos unir todas essas expressões; esses ‘sete’ pontos no que tange à comissão do Espírito de agir do trono e tornar Deus e o homem um”.
Em terceiro lugar, graça e paz vêm de Jesus Cristo (5). Ele é retratado por três figuras. Primeiramente, Ele é a testemunha fiel. Fiel significa “digno de confiança”.

Duesterdieck não limita esse testemunho ao ministério terreno de Cristo. Em vez disso, Ele é “aquele por meio de quem cada revelação divina ocorre, que comunica predições não só para os profetas em geral, como no momento para o autor de Apocalipse, mas também testifica da verdade ao censurar, admoestar e confortar as igrejas”. A palavra grega para testemunha mais tarde veio a significar “mártir”. Dessa forma, nossa palavra mártir é derivada dela (gen., martyros).
Moffatt comenta: “Jesus não [é] meramente a testemunha confiável de Deus, mas o mártir fiel: um aspecto da sua carreira que naturalmente se sobressaiu nos ‘tempos da matança’“ (cf. 2.10). Somente aqui e em 3.14 Jesus é chamado de testemunha.

Ele também é o primogênito dos mortos. O termo primogênito era um título messiânico.  Jesus é agora o príncipe (governante) dos reis da terra. Charles entende que a idéia predominante de primogênito aqui é a soberania. Ele traduz essas três cláusulas da seguinte forma: “a verdadeira testemunha de Deus, o soberano dos mortos, o governante dos vivos”.  

Swete diz: “A ressurreição trazia consigo um senhorio em potencial sobre toda a humanidade [...] O Senhor conquistou com a sua morte o que o Tentador havia lhe oferecido como a recompensa pelo pecado [...] Ele ressuscitou e ascendeu aos céus para receber o império universal”. Ele também observa que o título triplo testemunha, primogênito, governante — “responde ao propósito triplo de Apocalipse, que é ao mesmo tempo um testemunho divino, uma revelação do Senhor ressurreto e uma profecia dos assuntos da história”. Esses três versículos retratam a Trindade  Pai, Filho e Espírito Santo. “O aspecto da Trindade aparece em todo o livro de Apocalipse”.

A DOXOLOGIA (1.5b-6)

A contemplação de João em relação a Cristo como o Senhor Ressurreto que reina sobre tudo o faz irromper em uma explosão espontânea de louvor. Isso também é uma característica comum nas epístolas de Paulo. Almas devotas sempre responderam com louvor à bondade e grandeza do nosso Senhor. Aquele que nos ama (5) deveria iniciar um novo versículo. O verbo também está no particípio presente.

Em vez de lavou, os melhores e mais antigos manuscritos gregos trazem “libertou”. As duas formas são similares na soletração e praticamente iguais em pronúncia (lousanti [...] lusanti) e dessa forma era muito fácil serem confundidas, especialmente se o escriba estivesse copiando por meio do ditado. A tradução correta dessas duas frases é: “Aquele que nos ama, e, pelo seu sangue, nos libertou dos nossos pecados” (ARA). A primeira frase ressalta o amor duradouro do Redentor; a segunda, sua obra de redenção concluí- da. Seu sangue era o preço que Ele pagou para nos libertar da escravidão do pecado. Esse é o ensino uniforme do Novo Testamento.

Qual é o resultado dessa redenção? Ele nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai (6). O grego traz: “E Ele nos fez um reino, sacerdotes ao seu Deus e Pai”. Sacerdotes está em aposição a reino. Isso evidentemente reflete Exodo 19.6: “E vós me sereis reino sacerdotal”. Isso também se assemelha com a frase encontrada em 1 Pedro 2.9: “o sacerdócio real”. Charles comenta: “Nosso texto então significa que Cristo nos fez um reino, em que cada membro é um sacerdote para Deus”. Isso não só é um grande privilégio, mas também envolve uma imensa responsabilidade. Erdman escreve: “Uma vez que somos sacerdotes deveríamos estar oferecendo continuamente sacrifícios de louvor, de abnegação e de um ministério amoroso, derramando nossas vidas em intercessão e em serviço compassivo ao nosso próximo”.

A doxologia termina numa forma quase tipicamente paulina: a ele, glória e poder para todo o sempre. Amém. Essa é a primeira de três doxologias a Cristo no Apocalipse (cf. 5.13; 7.10).
Uma doxologia semelhante ocorre em 2 Pedro 3.18. As doxologias nas epístolas paulinas referem-se quase sempre a Deus, o Pai. Moffatt observa: A adoração de Cristo, que ressoa nessa doxologia é um dos aspectos mais impressionantes do livro”.  Plummer chama a nossa atenção para um fato interessante. Ele diz: “As doxologias de São João aumentam em volume à medida que ele progride — dupla aqui, tripla em 4.11, quádrupla em 5.13 e sétupla em 7.12”.

Tem sido sugerido que 1 Crônicas 29.11 — “Tua é, SENHOR, a magnificência, e o poder, e a honra, e a vitória, e a majestade” — seja a fonte da maioria das doxologias posteriores. Uma vez que Jesus é chamado de “Senhor” no Novo Testamento, Ele se torna, com o Pai, o objeto dessa adoração.

A expressão para todo sempre é literalmente “pelos séculos dos séculos”; isto é,
“eternamente” (Phillips). Essa expressão ocorre mais 12 vezes em Apocalipse.
Evidentemente, o hábito de colocar Amém no fim da oração ou louvor começou muito cedo. Swete diz: “A palavra Amém ocorre no final de quase todas as doxologias do NT”.  Essa palavra significa “Assim seja!” ou “Verdadeiramente!”

A PROFECIA  (1.7)

Esse versículo é “uma reminiscência e adaptação” de Daniel 7.13 e Zacarias 12.10- 14.60 Eis que vem com as nuvens é da passagem de Daniel: “e eis que vinha nas nuvens do céu um como o Filho do Homem”. Essa vinda nas nuvens é mencionada mais seis vezes no Novo Testamento (Mt 24.30; 26.64; Mc 13.26; 14.62; Lc 21.27; Ap 14.14). A linguagem aqui reflete Marcos 14.62: “e vereis o Filho do Homem [...] vindo sobre as nuvens do céu”.

O restante desse versículo é tirado em grande parte de Zacarias 12.10. Quando Cristo vier em julgamento, todo olho o verá. Estarão incluídos os mesmos que o traspassaram. Aqui se refere claramente ao traspassar do “lado de Jesus” na cruz (Jo 19.34). Essa mesma passagem de Zacarias é citada nessa conexão (Jo 19.37). O fato do traspassar ser mencionado somente no Evangelho de João, e que a ordem de palavras aqui e em
João 19.37 concordem de maneira impressionante6’ fornece um apoio considerável para a autoria em comum do quarto Evangelho e de Apocalipse.

Mas essa predição de julgamento não deveria ficar restrita à nação judaica. Plummer
escreve: “A referência aqui é a todos aqueles que ‘crucificam o Filho de Deus novamente’, não meramente aos judeus”. João acrescenta: e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Essa é “uma livre adaptação do hebraico em Zacarias 12. 12.63
A combinação dessas passagens de Daniel e Zacarias já tinha sido feita no discurso do monte das Oliveiras (Mt 24.30). Simcox declara: “Esse versículo, como também se pode dizer de todo o livro, é fundamentado principalmente na própria profecia do Senhor registrada em Mateus 24, e em segundo lugar, nas profecias do Antigo Testamento às quais Ele ali se refere e que resume”.

Simcox acrescenta essa observação útil na relação com a passagem do AT: “Mas
enquanto as palavras aqui são tiradas de Zacarias, o pensamento é mais propriamente
de Mateus 24.64: ‘aqueles que o traspassaram’ são vistos não como olhando para Ele com fé e pranteando por Ele em penitência, mas em vê-lo como Alguém em quem não creram e, por isso, estão pranteando em desespero”.
No grego, Sim! Amém é nai, amen. Charles observa: “Temos aqui formas gregas e
hebraicas de confirmação lado a lado”. A mesma associação é encontrada em 2 Coríntios 1.20. Em 3.14, Jesus é nomeado de “o Amém”. Charles comenta: “Aqui Cristo é representado como o Amém divino personalizado, o avalista em pessoa acerca da verdade declarada por Ele”.

A PROCLAMAÇÃO (1.8)

Esse versículo parece ser independente, não estando relacionado com o que o precede ou o segue. João tem falado, mas agora uma nova personagem faz uma declaração divina. Mas quem é essa nova personagem que fala? Swete escreve: “A abertura solene do livro alcança seu clímax aqui com palavras atribuídas ao Pai Eterno e Todo-poderoso”. Muitos comentaristas recentes concordam com isso.

Mas Plummer discorda. Ele diz o seguinte acerca das frases usadas aqui: “Atribuí-las ao Pai rouba as palavras da sua adequação especial nesse contexto, em que formam o prelúdio para ‘a Revelação de Jesus Cristo’ como Deus e como o ‘Governante dos reis da terra”.  Ele sente que João está aqui ressaltando a divindade de Jesus, e encontra uma progressão nisto: Alfa e o Omega (1.8), “o Primeiro e o Ultimo” (1.17; 2.8), “Alfa e o
Ômega, o Princípio e o Fim (21.6), “Alfa e o Ômega, o Primeiro e o Derradeiro” (22.13).

J. B. Smith chama a atenção para o fato de os pais da Igreja Primitiva aplicarem esse versículo a Cristo. Ele cita integralmente de Hipólito e Orígenes e documenta as citações.  Essa parece a melhor posição. Alfa e o Omega são a primeira e a última letra do alfabeto grego. Provavelmente, elas são usadas “como nos provérbios rabínicos a primeira e última letra do alfabeto hebraico, simbolizando ‘o princípio e o fim”. No entanto, as palavras explanatórias, o Princípio e o Fim, não são genuínas, embora o sejam em 22.13. Acerca de Alfa e o Omega, Swete escreve: “A frase é entendida como não expressando somente eternidade, mas infinidade, a vida ilimitada que compreende tudo e transcende tudo”.

O Senhor é “o Senhor Deus” no melhor texto grego. Todo-poderoso (pantokrator) ocorre somente mais uma vez no Novo Testamento (1 Co 6.18), mas é encontrado nove vezes no Apocalipse. Lenski diz o seguinte acerca do propósito de João ao escrever os versículos 7 e 8: “De forma dramática ele expressa o resumo do tema de todo o livro, de todas as revelações que teve (v. 7) e no versículo 8 anexa a própria assinatura de Cristo”.



Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

BIBLIOGRAFIA

Comentário Bíblico Beacon


Um comentário:

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