terça-feira, 27 de março de 2012

O Estilo do Livro Apocalipse


O estilo do livro

Apocalipse e o título alternativo Revelação vêm das palavras grega e latina que significam “desvendar”. O nome Apocalipse foi dado a toda uma classe da literatura judaica que surgiu principalmente entre os anos 200 a.C. e 100 d.C., conhecida por “literatura apocalíptica”. É comumente aceito que a Bíblia contém exemplos desse tipo de literatura, especialmente os livros de Daniel e o Apocalipse de João.

Uma comparação entre o Apocalipse de João e outros escritos não-bíblicos deste tipo, de fato, mostra muitas afinidades entre si. Ver­dades que não podem ser descobertas por investigação normal (por exemplo o futuro, ou coisas do reino espiritual) são reveladas geral­mente através da mediação de anjos, em meio a cores vividas, tais como estrelas e montanhas, monstros e demônios, e esquemas complexos de números.

Este tipo de simbolismo é óbvio no livro de João. Mas é notável a ausência de certas características da literatura apocalíptica. Os escritores da literatura apocalíptica geralmente atribuíam suas visões a algum famoso personagem do passado, como se fossem Enoque ou Esdras descrevendo o que eles haviam visto. Mas o Apocalip­se afirma ter sido escrito por João que, mesmo que fosse um pseudô­nimo, não combina com o estilo da literatura apocalíptica. O livro se apresenta como uma profecia (1:3) e conta com a atividade de Deus e a resposta moral do homem como partes integrantes da vida atual, da mesma forma como os antigos profetas fizeram, o que não ocorre na literatura apocalíptica.

 Mas, em um sentido mais profundo, há semelhanças importan­tes. O solo que produziu Enoque, Esdras e outros foi uma comuni­dade judaica extremamente consciente de sua condição precária em meio a um mundo cheio de grandes potências inimigas. A voz desses escritores era a da minoria oprimida, exigindo em vão seus direitos e confortando-se com a perspectiva de ser vindicada no futuro. Todos os escritores apocalípticos, como João, viram as coisas bem contras­tadas, “em preto e branco”, por assim dizer. Eles eram, ao mesmo tem­po, extremamente pessimistas, para os quais as coisas iam tão mal que somente Deus poderia consertá-las. E no outro extremo eram com­pletamente otimistas, olhando para o futuro, quando Deus agiria con­sertando todas as coisas.


Essa atitude, acompanhada de muitas outras características tí­picas do estilo apocalíptico, é claramente refletida por João quando ele escreveu o Apocalipse. “O Deus dos espíritos dos profetas” colo­cou juntos o homem e o método, e o resultado foi um livro destinado (com uma eficiência divina) a relembrar a outra minoria oprimida, a igreja cristã, de como as coisas são, realmente, no reino espiritual.

As circunstâncias do livro

O Apocalipse foi enviado como uma carta circular às igrejas existen­tes em sete cidades da Ásia Menor, e deveria ser lido em voz alta nas reuniões. Era uma mensagem dirigida às necessidades reais do povo do primeiro século. As igrejas já haviam sido estabelecidas há tempo suficiente para que demonstrassem uma gama variada de condições espirituais, que ia da constante devoção até uma decadente lassidão. Por isso, a mensagem do Apocalipse é dupla. A mensagem trouxe estímulo, duma maneira tipicamente apocalíptica, aos cristãos que estavam sob grande pressão, assegurando-lhes que os inimigos seriam destruídos e que no final Deus triunfaria. Por outro lado, agora não mais em estilo apocalíptico, e sim profético, o Apocalipse desafia os cristãos a combater as sutis forças do mal, mesmo que estas se encontrem dentro de si mesmos. Satanás deve ser vencido e a Cristo deve ser dado o lugar que por direito lhe pertence, aqui e agora, na vida espi­ritual e moral dos cristãos.

O Império Romano, poderoso em muitos sentidos, tinha entre suas práticas uma que se tornou a causa fundamental das grandes provações experimentadas pela igreja, no princípio. Essa prática era a “adoração ao imperador”, que obrigava um crescente número de cristãos a fazer uma escolha pública entre César e Cristo. Todas as épocas têm um teste equivalente para provar a verdadeira lealdade cristã. Para os cristãos do tempo de João, o teste era serem perseguidos e martirizados.

 Esta situação de perseguição sofrida pelas igrejas descritas no Apocalipse serve como ponteiro para nos ajudar a determinar a data do livro. Certamente o livro foi escrito quando a igreja estava bem estabelecida, mas também o pior da perseguição estava ainda por desabar sobre ela.

 Alguns estudiosos combinam esses fatores com cálculos basea­dos nas declarações encontradas em 13:18 ou 17:10, para afirmar que o livro foi escrito no final do reinado de Nero (de 54-68 d.C.) ou du­rante o de Vespasiano (69-79 d.C.), o que é menos convincente. As evi­dências mais fortes parecem favorecer uma data posterior, durante a última parte do reinado de Domiciano (81-96 d.C.)

Dessa forma, se a opinião tradicional acerca da autoria do livro é correta, tendo sido de fato escrito por João, este estaria pelos oiten­ta anos de idade quando teve a visão em Patmos. Não há nada, no contexto, contra esta posição. Moisés, outro grande profeta, teve a primeira visão da glória de Deus quando estava com oitenta anos (Atos 7:23-24). Mas há outras razões pelas quais há dúvidas acerca da autoria apostólica. Os argumentos são centralizados na relação existente entre os cinco livros atribuídos ao apóstolo João (o Evangelho, as três Epístolas e o Apocalipse), e na possível existência de uma segunda e até mesmo uma terceira pessoa com o mesmo nome. Guthrie conclui suas quinze páginas de discussão sobre o assunto com as seguintes pa­lavras: “Extrair algo conclusivo ou mesmo satisfatório de toda uma massa de conjecturas parece ser impossível. A linha mais segura de evidência parece mesmo ser a da tradição de que João, o apóstolo, foi quem escreveu o livro. Pelo menos, se esta afirmação é correta, ela ex­plica o aparecimento da tradição, o que nenhuma das outras faz sa­tisfatoriamente. Ainda assim muitos preferem deixar a questão da au­toria em aberto.” De qualquer forma, o “João” do Apocalipse faz a reivindicação apostólica de que, apesar de ser o escritor do livro, o autor verdadeiro não é outro senão o Senhor Jesus Cristo. “Não há nenhum outro livro nas Escrituras que comece com palavras tão so­lenes; nenhum que faça uma afirmação tão contundente de sua ins­piração como o Apocalipse o faz!”

A interpretação do livro

Mas o quê — e esta é a pergunta mais importante — o que significa isso? As inumeráveis tentativas para explicar o Apocalipse podem ser classificadas de várias formas. São muitas as opiniões acerca de sua estrutura. Lutero tinha muita razão quando disse: “Cada um pensa deste livro qualquer coisa que lhe seja revelada por seu próprio espí­rito.” As opiniões acerca dos fatos históricos descritos no livro são, em termos gerais, de quatro tipos: a visão preterista, segundo a qual o Apocalipse descreve em linguagem velada os eventos relacionados aos dias de João, e nada mais; a visão futurista, segundo a qual o li­vro todo é uma profecia de eventos ainda por acontecer; a visão historicista, segundo a qual o livro é uma descrição da totalidade da his­tória da igreja desde a primeira vinda de Cristo até a segunda, indo um pouco além disso; e a visão idealista, segundo a qual, entre men­sagens para a igreja do primeiro século e profecias acerca do tempo futuro, o Apocalipse mostra princípios sempre válidos na experiên­cia cristã. As opiniões também estão divididas acerca da questão do “milênio”, o período de mil anos descrito no capítulo vinte; pré-milenismo, pós-milenismo e amilenismo que veremos no decorrer do trimestre em areiabranca.com.

É impossível a um comentarista não adotar um desses pontos de vista, do contrário seu comentário se torna água com açúcar. Esta ex­posição do Apocalipse adota, como não poderia deixar de ser, uma determinada escola de interpretação que se tornará evidente a todos aqueles que entendem deste assunto. E isso, não tanto por defender certas ideias preconcebidas, mas porque a leitura honesta do livro pa­rece apontar uma direção determinada. No entanto, procuro evitar o uso irritante de expressões do tipo “é claro que” e “é óbvio que”, em afirmações que, para pessoas de outros pontos de vista, não pareçam tão claras e nem sejam tão óbvias!

O uso do livro

A convicção de que o Apocalipse realmente pretende revelar a verdade, e não obscurecê-la, e que seus tesouros realmente se encontram à superfície — bastando procurá-los usando a luz adequada — não é, de ma­neira alguma, o mesmo que dizer que o significado do livro ressaltará para nós com toda clareza, com precisão e com lógica. É evidente que Deus não despreza a comunicação verbal, porque seu próprio filho foi chamado de “o Verbo”. Mas as palavras de Deus, suas declarações, argumentos e raciocínios foram manifestados quando João se encontrava na ilha de Patmos. O que Deus reservou como revelação final de sua von­tade para com o homem são palavras de um tipo diferente das anterio­res: a revelação em Patmos é uma palavra dramatizada, uma palavra ativa, pintada e preparada para ser executada como uma sinfonia: uma pala­vra que pode ser vista, sentida e experimentada.

Não há nenhuma vantagem em ler o Apocalipse como se fosse um tratado teológico ao estilo de Paulo apenas usando um vocabu­lário diferente, ou como uma história projetada para o futuro, ao es­tilo de Lucas. Pode-se analisar um arco-íris, o vinho da comunhão e até a água do batismo. Mas essas coisas não são para serem analisa­das, e sim, para serem usadas e apreciadas.

 Nós, que estamos no século XXI, precisamos entender isso melhor do que todos os outros. Vivemos em uma era pós-literária que, cansada de palavras, começa a comunicar-se nova­mente através de figuras. Assim, a televisão substitui o rádio, e o subs­tantivo “imagem” volta a ser utilizado com várias conotações moder­nas. Deus sabia disso tudo desde o princípio. E como seus filhos já receberam muito de teologia sistemática, Deus agora oferece um ma­ravilhoso livro de figuras para ser apreciado, tão educativo quanto os outros, apenas de maneira diferente.

Figuras, potentes imagens da verdade cristã para serem usadas, é isso que nos é oferecido no Apocalipse. Isso é bem evidente quando nos lembramos do fascínio “para refrescar o espírito” que Lucy Pevensie encontrou no Livro Mágico.
Quando o livro se fechou, o fas­cínio começou a desaparecer de sua mente até que ela só conseguiu lembrar-se de que a visão “era acerca de uma taça, uma espada, uma árvore e uma colina verde.” São as imagens que permanecem. As páginas do Apocalipse estão repletas de imagens para que a nossa ima­ginação, bem como as nossas mentes, possam captar os conceitos-chaves da fé cristã. Assim, até que o noivo retorne, até que a Jerusalém celestial desça do céu, e até que raie o dia do casamento, devemos fa­zer isso, em memória do Senhor.

Bibliografia M. Wilcock

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

Lições bíblicas BETEL 2012

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