O estilo do livro
Apocalipse e o título
alternativo Revelação vêm das palavras grega e latina que significam
“desvendar”. O nome Apocalipse foi dado a toda uma classe da literatura judaica
que surgiu principalmente entre os anos 200 a.C. e 100 d.C., conhecida por
“literatura apocalíptica”. É comumente aceito que a Bíblia contém exemplos
desse tipo de literatura, especialmente os livros de Daniel e o Apocalipse de
João.
Uma comparação entre
o Apocalipse de João e outros escritos não-bíblicos deste tipo, de fato, mostra
muitas afinidades entre si. Verdades que não podem ser descobertas por
investigação normal (por exemplo o futuro, ou coisas do reino espiritual) são
reveladas geralmente através da mediação de anjos, em meio a cores vividas,
tais como estrelas e montanhas, monstros e demônios, e esquemas complexos de
números.
Este tipo de
simbolismo é óbvio no livro de João. Mas é notável a ausência de certas
características da literatura apocalíptica. Os escritores da literatura apocalíptica
geralmente atribuíam suas visões a algum famoso personagem do passado, como se
fossem Enoque ou Esdras descrevendo o que eles haviam visto. Mas o Apocalipse
afirma ter sido escrito por João que, mesmo que fosse um pseudônimo,
não combina com o estilo da literatura apocalíptica. O livro se apresenta como
uma profecia (1:3) e conta com a atividade de Deus e a resposta moral do
homem como partes integrantes da vida atual, da mesma forma como os antigos
profetas fizeram, o que não ocorre na literatura apocalíptica.
Mas,
em um sentido mais profundo, há semelhanças importantes. O solo que produziu Enoque,
Esdras e outros foi uma comunidade judaica extremamente consciente de sua
condição precária em meio a um mundo cheio de grandes potências inimigas. A voz
desses escritores era a da minoria oprimida, exigindo em vão seus direitos e
confortando-se com a perspectiva de ser vindicada no futuro. Todos os
escritores apocalípticos, como João, viram as coisas bem contrastadas, “em
preto e branco”, por assim dizer. Eles eram, ao mesmo tempo, extremamente
pessimistas, para os quais as coisas iam tão mal que somente Deus poderia
consertá-las. E no outro extremo eram completamente otimistas, olhando para o
futuro, quando Deus agiria consertando todas as coisas.
Essa atitude,
acompanhada de muitas outras características típicas do estilo apocalíptico, é
claramente refletida por João quando ele escreveu o Apocalipse. “O Deus dos
espíritos dos profetas” colocou juntos o homem e o método, e o resultado foi um
livro destinado (com uma eficiência divina) a relembrar a outra minoria
oprimida, a igreja cristã, de como as coisas são, realmente, no reino
espiritual.
As circunstâncias do
livro
O Apocalipse foi
enviado como uma carta circular às igrejas existentes em sete cidades da Ásia
Menor, e deveria ser lido em voz alta nas reuniões. Era uma mensagem dirigida
às necessidades reais do povo do primeiro século. As igrejas já haviam sido
estabelecidas há tempo suficiente para que demonstrassem uma gama variada de condições
espirituais, que ia da constante devoção até uma decadente lassidão. Por isso,
a mensagem do Apocalipse é dupla. A mensagem trouxe estímulo, duma maneira
tipicamente apocalíptica, aos cristãos que estavam sob grande pressão,
assegurando-lhes que os inimigos seriam destruídos e que no final Deus
triunfaria. Por outro lado, agora não mais em estilo apocalíptico, e sim
profético, o Apocalipse desafia os cristãos a combater as sutis forças do mal,
mesmo que estas se encontrem dentro de si mesmos. Satanás deve ser vencido e a
Cristo deve ser dado o lugar que por direito lhe pertence, aqui e agora, na
vida espiritual e moral dos cristãos.
O Império Romano,
poderoso em muitos sentidos, tinha entre suas práticas uma que se tornou a
causa fundamental das grandes provações experimentadas pela igreja, no
princípio. Essa prática era a “adoração ao imperador”, que obrigava um
crescente número de cristãos a fazer uma escolha pública entre César e Cristo.
Todas as épocas têm um teste equivalente para provar a verdadeira lealdade
cristã. Para os cristãos do tempo de João, o teste era serem perseguidos e
martirizados.
Esta
situação de perseguição sofrida pelas igrejas descritas no Apocalipse serve
como ponteiro para nos ajudar a determinar a data do livro. Certamente o livro
foi escrito quando a igreja estava bem estabelecida, mas também o pior da
perseguição estava ainda por desabar sobre ela.
Alguns
estudiosos combinam esses fatores com cálculos baseados nas declarações
encontradas em 13:18 ou 17:10, para afirmar que o livro foi escrito no final do
reinado de Nero (de 54-68 d.C.) ou durante o de Vespasiano (69-79 d.C.), o que
é menos convincente. As evidências mais fortes parecem favorecer uma data
posterior, durante a última parte do reinado de Domiciano (81-96 d.C.)
Dessa forma, se a
opinião tradicional acerca da autoria do livro é correta, tendo sido de fato
escrito por João, este estaria pelos oitenta anos de idade quando teve a visão
em Patmos. Não há nada, no contexto, contra esta posição. Moisés, outro grande
profeta, teve a primeira visão da glória de Deus quando estava com oitenta anos
(Atos 7:23-24). Mas há outras razões pelas quais há dúvidas acerca da autoria
apostólica. Os argumentos são centralizados na relação existente entre os cinco
livros atribuídos ao apóstolo João (o Evangelho, as três Epístolas e o
Apocalipse), e na possível existência de uma segunda e até mesmo uma terceira
pessoa com o mesmo nome. Guthrie conclui suas quinze páginas de discussão sobre
o assunto com as seguintes palavras: “Extrair algo conclusivo ou mesmo
satisfatório de toda uma massa de conjecturas parece ser impossível. A linha
mais segura de evidência parece mesmo ser a da tradição de que João, o
apóstolo, foi quem escreveu o livro. Pelo menos, se esta afirmação é correta,
ela explica o aparecimento da tradição, o que nenhuma das outras faz satisfatoriamente.
Ainda assim muitos preferem deixar a questão da autoria em aberto.” De
qualquer forma, o “João” do Apocalipse faz a reivindicação apostólica de que,
apesar de ser o escritor do livro, o autor verdadeiro não é outro senão o
Senhor Jesus Cristo. “Não há nenhum outro livro nas Escrituras que comece com
palavras tão solenes; nenhum que faça uma afirmação tão contundente de sua inspiração
como o Apocalipse o faz!”
A interpretação do
livro
Mas o quê — e esta é
a pergunta mais importante — o que significa isso? As inumeráveis tentativas
para explicar o Apocalipse podem ser classificadas de várias formas. São muitas
as opiniões acerca de sua estrutura. Lutero tinha muita razão quando disse:
“Cada um pensa deste livro qualquer coisa que lhe seja revelada por seu próprio
espírito.” As opiniões acerca dos fatos históricos descritos no livro são, em
termos gerais, de quatro tipos: a visão preterista,
segundo a qual o Apocalipse descreve em linguagem velada os eventos
relacionados aos dias de João, e nada mais; a visão
futurista, segundo a qual o livro todo é uma profecia de eventos ainda
por acontecer; a visão historicista,
segundo a qual o livro é uma descrição da totalidade da história da igreja
desde a primeira vinda de Cristo até a segunda, indo um pouco além disso; e a visão idealista, segundo a qual, entre mensagens
para a igreja do primeiro século e profecias acerca do tempo futuro, o
Apocalipse mostra princípios sempre válidos na experiência cristã. As opiniões
também estão divididas acerca da questão do “milênio”, o período de mil anos
descrito no capítulo vinte; pré-milenismo, pós-milenismo
e amilenismo que veremos no decorrer do trimestre em areiabranca.com.
É impossível a um
comentarista não adotar um desses pontos de vista, do contrário seu comentário
se torna água com açúcar. Esta exposição do Apocalipse adota, como não poderia
deixar de ser, uma determinada escola de interpretação que se tornará evidente
a todos aqueles que entendem deste assunto. E isso, não tanto por defender
certas ideias preconcebidas, mas porque a leitura honesta do livro parece
apontar uma direção determinada. No entanto, procuro evitar o uso irritante de
expressões do tipo “é claro que” e “é óbvio que”, em afirmações que, para
pessoas de outros pontos de vista, não pareçam tão claras e nem sejam tão
óbvias!
O uso do livro
A convicção de que o
Apocalipse realmente pretende revelar a verdade, e não obscurecê-la, e
que seus tesouros realmente se encontram à superfície — bastando procurá-los
usando a luz adequada — não é, de maneira alguma, o mesmo que dizer que o
significado do livro ressaltará para nós com toda clareza, com precisão e com
lógica. É evidente que Deus não despreza a comunicação verbal, porque seu
próprio filho foi chamado de “o Verbo”. Mas as palavras de Deus, suas
declarações, argumentos e raciocínios foram manifestados quando João se
encontrava na ilha de Patmos. O que Deus reservou como revelação final de sua
vontade para com o homem são palavras de um tipo diferente das anteriores: a
revelação em Patmos é uma palavra dramatizada, uma palavra ativa, pintada e
preparada para ser executada como uma sinfonia: uma palavra que pode ser
vista, sentida e experimentada.
Não há nenhuma
vantagem em ler o Apocalipse como se fosse um tratado teológico ao estilo de
Paulo apenas usando um vocabulário diferente, ou como uma história projetada
para o futuro, ao estilo de Lucas. Pode-se analisar um arco-íris, o vinho da
comunhão e até a água do batismo. Mas essas coisas não são para serem analisadas,
e sim, para serem usadas e apreciadas.
Nós,
que estamos no século XXI, precisamos entender isso melhor do que todos os
outros. Vivemos em uma era pós-literária que, cansada de palavras, começa a
comunicar-se novamente através de figuras. Assim, a televisão substitui o
rádio, e o substantivo “imagem” volta a ser utilizado com várias conotações
modernas. Deus sabia disso tudo desde o princípio. E como seus filhos já
receberam muito de teologia sistemática, Deus agora oferece um maravilhoso
livro de figuras para ser apreciado, tão educativo quanto os outros, apenas de
maneira diferente.
Figuras, potentes
imagens da verdade cristã para serem usadas, é isso que nos é oferecido no
Apocalipse. Isso é bem evidente quando nos lembramos do fascínio “para
refrescar o espírito” que Lucy Pevensie encontrou no Livro Mágico.
Quando o livro se
fechou, o fascínio começou a desaparecer de sua mente até que ela só conseguiu
lembrar-se de que a visão “era acerca de uma taça, uma espada, uma árvore e uma
colina verde.” São as imagens que permanecem. As páginas do Apocalipse estão
repletas de imagens para que a nossa imaginação, bem como as nossas mentes,
possam captar os conceitos-chaves da fé cristã. Assim, até que o noivo retorne,
até que a Jerusalém celestial desça do céu, e até que raie o dia do casamento,
devemos fazer isso, em memória do Senhor.
Bibliografia M. Wilcock
Elaboração pelo:- Evangelista
Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de
Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Lições bíblicas BETEL 2012
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