quarta-feira, 14 de março de 2012

A Visão Sétupla

A Visão Sétupla

Quadro de Cristo Desenhado no Céu
Apocalipse 1 :12-18

Proeminente entre muitos aspectos do Apocalipse destaca-se o fato de ser ele um livro a respeito de uma Pessoa; o próprio Cristo é o seu assunto central. O Dr. O. Campbell Morgan observou certa vez: “Qualquer estudo do Apocalipse que não se concentra em Cristo e não vê tudo o mais em relação a ele, há de levar o leitor para um labirinto inextricável.” Assim, as primeiras quatro palavras do Apocalipse declaram sua natureza e propósito: “Revelação de Jesus Cristo.” Não é “revelação de São João, o Divino”, mas a manifestação daquele a quem .João amava com grande ternura.

Nem são “Revelações”. Usa se o singular, não o plural. E a “Revelação” que possui muitas facetas. Neste livro Cristo é revelado mais completamente e mais completamente exaltado do que em qualquer outro livro da Bíblia. São muitas as alusões a Cristo, como nas 20 ou mais referências a ele como o “Cordeiro”. Uma divisão ampla cio livro seria:

Cristo e seus santos (capítulos 1—3)
Cristo e o mundo antigo (capítulos 4—19)
Cristo e o mundo novo (capítulos 20—22).

Nos evangelhos vemos a Cristo servindo e sofrendo. Nos Atos ele está vivo para sempre, operando mediante sua igreja. No Apocalipse ele é o herói supremo que derrota todos os seus inimigos.

Observando a inter-relação do bem e do mal, e o aumentar dos enredos no drama, damos boas-vindas ao retrato de Jesus como o futuro Executivo do governo divino e como o Dispensador de retribuições e de recompensas. Eis aqui a apresentação do Rei e do seu reino; e cc Rei toma seu reino pela força.

Cristo é a chave do livro, o Espírito Santo o seu guia e nossa própria espiritualidade a medida de_ nossa apreciação do retrato de corpo inteiro de nosso Salvador.
De muitas maneiras, o capítulo inicial é um dos mais notáveis do livro pois fornece um sumário de tudo o que há de seguir. Nomes, títulos e simbolos usados com referência a Cristo no primeiro capítulo estão espalhados e ampliados por todo o livro.

Nenhum outro livro da Bíblia revela a presença, a Pessoa e o poder do Senhor Jesus Cristo como o faz o Apocalipse; é uma visão panorâmica maravilhosa de nosso Senhor e não meramente uma apresentação de acontecimentos relacionados com seu triunfo. O livro abre-se com Cristo como Revelador de si mesmo (1:1-3).

Por ser esta a revelação de Jesus Cristo, o livro toma significação maior e torna-se tremendamente importante. Aqui Cristo é descrito como a Figura central e que tem as chaves do destino. A despeito dos demônios e dos homens, Cristo apresenta-se invencível por todo o drama fascinante e de grande movimento do livro. Note os cinco “Eu sou” cheios de autoridade do capítulo de abertura e compare-os com os outros “Eu sou” que João nos dá em seu Evangelho.

Uma das feições especiais do primeiro capítulo é a figura autêntica que ele nos oferece de Cristo. Eis aqui um retrato que artista algum já conseguiu pintar, O capítulo é repleto de títulos e superlativos, todos necessários para descrever aquele que não tem igual.

1. Prólogo (1:1-3)

Não somos a favor do tratamento modernista de Apocalipse. As asserções audaciosas desse método de que João tomou emprestada a visão de seu livro, de literatura apocalíptica antiga e deu-nos meramente um emaranhado de folclore pagão são claramente contraditadas pela simples afirmativa que João faz acerca da origem do que viu e da ordem que recebeu para escrever. O apóstolo não nos transmitiu uma coleção de visões pagãs cristianizadas. Pelo contrário, Cristo dá-nos uma antevisão de sua conquista final de todas as forças que se lhe opõem. E por ter sido esta revelação dada por Deus, é nossa solene obrigação curvar-nos em reverência à medida que a estudarmos.
Encontramos no Apocalipse o que podemos chamar de uma escada com cinco degraus:

Deus deu a revelação a Cristo, uma vez que se refere a ele. Cristo, por sua vez, deu-a ao anjo e daí por diante os anjos são proeminentes rio livro. O mensageiro angélico comunicou o Apocalipse a João. João registrou o que recebeu para iluminar e edificar os santos de todos os séculos. Tal ordem corresponde à conclusão: “E disse-me: Estas palavras são fiéis e verdadeiras; e o Senhor, o Deus dos espíritos dos profetas, enviou o seu anjo, para mostrar aos seus servos as coisas que em breve hão de acontecer” (22:6).

Ninguém estava mais bem preparado do que João para ser canal digno desta sublime revelação. Dá evidência deste fato o que os os evangelhos registram acerca de sua comunhão íntima com Cristo. João era o amigo íntimo e amado de Cristo. Temos também o relato de ele ter-se reclinado sobre o peito de Jesus. E foi João quem escreveu as palavras de Jesus concernentes à capacidade do Espírito de mostrar aos seus servos “as coisas que hão de vir”.

Antes de prosseguirmos com nosso estudo, é essencial fazermos uma pausa e perguntar a nós mesmos: “Estou eu espiritualmente preparado para ler e receber a bênção do Senhor através da leitura deste grande livro?” (Nossa atitude humilde deve ser: “O que não vejo, ensina-me tu; se fiz alguma maldade, nunca mais a hei de fazer” (Jó 34:32).
Ao enviar esta revelação a João, mediante seu anjo, Jesus usou sinais ou símbolos. Ao lidar com estes símbolos devemos procurar interpretá-los à luz de seu uso em outras passagens na Escritura. Devemos comparar símbolo com símbolo, e, assim evitar exageros de interpretação dos quais tantos expositores têm sido culpados.

Devemos também considerar quando foi que João viu todas as coisas que depois escreveu no Apocalipse. Ele diz-nos que estava na ilha chamada Patmos (1:9) e que o Apocalipse lhe foi entregue ali num certo dia do Senhor em Espírito (1:10).

Duas frases aqui constituem uma combinação interessante: “Na ilha” e “em Espírito”. Evidentemente, as limitações geográficas de João não foram impedimento à sua visão espiritual. A masmorra escura não pôde aprisionar-lhe a liberdade de espírito. Acontece o mesmo conosco? Quando confinados e amontoados em circunstâncias que nos separam de um mundo livre, somos nós mais espiritualmente capazes de comungar com os céus? Em nossa ilha restringidora, estamos também no Espírito?

Há duas interpretações quanto ao “dia do Senhor”. A interpretação costumeira é que este dia particular era o domingo ou o primeiro dia da semana, o qual João estava observando ao ser-lhe dada a visão. Certamente esta é uma designação apropriada do que é conhecido como “domingo”, embora esse dia não seja designado com tal palavra em lugar algum na Bíblia. O primeiro dia da semana é o dia de Cristo— o dia da ressurreição, o dia que o Senhor separou para a adoração de seu nome e o ministério de sua Palavra. E nesse dia, o melhor de todos, temos a oportunidade de afastar-nos do mundo, ouvir a voz de Deus e buscar a compreensão espiritual de sua Palavra.

Outros eruditos acreditam que a frase “dia do Senhor” devia ser traduzida por “o dia que pertence ao Senhor”. O estar “em espírito” pode significar algum tipo de investimento singular pelo qual o Espírito Santo projetou a mente de João para o futuro, como declararam os profetas do Antigo Testamento ao profetizarem a respeito do dia do Senhor. Isaías 2:10-22, por exemplo, é tratado como um Iumr1() completo dos capítulos 4 a 19 de Apocalipse. O Espírito levou João a adiantar-se no tempo mostrando-lhe este dia terrível com seus juízos, e foi-lhe ordenado que descrevesse com detalhes o que Daniel e outros profetas viram de modo geral ou global.

Talvez possamos encontrar a solução ao harmonizarmos ambos os pontos de vista. Estando João a meditar no primeiro dia da semana, capacitou-o o Espírito a olhar pelo corredor do tempo e revelar o dia vindouro do Senhor.

Antes de deixarmos o prólogo devemos examinar duas frases. João recebeu uma revelação das “coisas que brevemente devem acontecer” (1:1). A palavra “brevemente” traz em si a idéia de velocidade ou iminência. Uma vez que a ação comece, haverá rapidez de execução. Não há idéia aqui de que João esperasse que tudo o que predissera fosse cumprido quase que imediatamente.

A mesma idéia relaciona-se com a declaração “O tempo está próximo” (1:3). Nas palavras de Walter Scott: “A profecia aniquila o tempo e todas as circunstâncias intervenientes e opostas, e coloca a pessoa no limiar da realização.” A nosso ver, parece que Deus esteja atrasando o cumprimento de seus propósitos últimos como esboçados no Apocalipse, mas tal atraso aparente representa graça para um mundo culpado.

2. As Prerrogativas (1:4-11)

De uma forma que demonstra autoridade o apóstolo João começa esta secção com seu próprio nome: “João, às sete igrejas que estão na Asia.” Similarmente enfática é a frase no versículo 9: “Eu, João.” A palavra apostello significa “enviar” e descreve o mensageiro comissionado para alguma missão importante. E desta maneira que o termo é aplicado a Cristo (Hebreus 3:1). Ao começar a comunicação do Apocalipse dado a ele, João (1:1), afirma sua autoridade de apóstolo ou “enviado”. O que está prestes a anunciar não foi de sua própria criação. Como mensageiro enviado de Deus, João vai descrever “tudo quanto viu” (1:2).
Na expressão “Eu, João” do versículo 9 o apóstolo proclama a abertura do livro que contém a segunda vinda de Cristo. Na expressão “Aquele que testifica” de 22:20, Cristo anuncia sua própria vinda.

O Senhor Jesus Cristo é apresentado no versículo 4 como “aquele que é, e que era, e que há de vir”. “Que é” refere-se ao presente e lembra-nos a imutabilidade de Deus. Como o que não muda, Cristo pode cuidar dos seus num presente sempre mutável. “Que era” estende-se sobre o passado e leva-nos a milhares de anos para trás. “Que há de vir” leva-nos para frente e faz-nos lembrar de que o que o Senhor  tem sido continuará a ser para sempre. Ele é o mesmo ontem, para sempre.

HÁ outra verdade importante na saudação de João (1:4, 5). Há três “d Parte de”: da parte daquele (1:4)—isto é, de Deus, daquele que é independente e tem existência própria; da dos sete espíritos que estão perante o trono (1:4). Pela designação “sete espíritos” podemos compreender (como já ressalvamos) a plenitude do poder do Espírito Santo e sua atividade diversificada; da parte de Jesus Cristo (1:5). Assim, Pai, Filho e Espírito Santo unem-se na comunicação desta comunicação. Aqui, como no restante da Bíblia, o Deus trino e uno opera como um.

 “Jesus Cristo, que é a fiel testemunha” (1:5) empresta força ao mandamento do Senhor à igreja em Esmirna: “Sê fiel até a morte” (2:10). Sua vida exibiu seus ensinos e mandamentos. A frase “Jesus Cristo, que é fiel testemunha” descreve o relacionamento de Cristo com Deus enquanto Jesus esteve na terra. Como fiel profeta ele jamais falhou em declarar todo o conselho de Deus. A palavra “testemunha” significa alguém que vê, sabe e então fala; é uma palavra característica de João (ele a usa mais de 70 vezes em seus escritos).

“Jesus Cristo. . . o primogênito dos mortos” (1:5) é um título maravilhosamente descritivo. “Cristo é tanto ‘primogênito’ como ‘primeiros frutos’ dos mortos”, diz Walter Scott. “O primeiro título ensina que ele é o primeiro no tempo da ceifa vjndoura dos que dormem (1 Coríntios 15:20, 23). O segundo título significa que ele é primeiro em hierarquia de todos os que se levantarão dos mortos. ‘Primogênito’ é expressão de supremacia, de dignidade preeminente e não uma expressão de tempo ou de seqüência cronológica (Salmo 89:27). Não importa onde, quando ou como Cristo entrou no mundo, ele necessariamente haveria de ocupar o primeiro lugar em virtude do que é.” Tal título também indica a obra sacerdotal de Cristo.

“Jesus Cristo. . . o príncipe dos reis da terra” (1:5) retrata o aspecto real da obra de Cristo. Os reis da terra têm sido orgulhosos, monarcas poderosos, e até ao tempo da aparição de Cristo terão exercido influência tremenda. Mas quando Cristo vier para exercer os direitos de soberano, reinará supremo. Todos os cetros imperiais serão destruídos e todas as autoridades da oposição para sempre serão banidas. Como o Senhor dos senhores, Cristo é o senhor sobre todos os que exercem autoridade, como Rei dos reis, ele será o rei de todos os que reinam. Que reino principesco aguarda esta terra mal dirigida!

“Eu sou o Alfa e o Omega, o princípio e o fim” aparece em 1:8, 11, mas a maioria dos eruditos acredita que a primeira parte do versículo 11 não se encontra no texto original como escrito por João. (O título é tomado do versículo 8, e a frase “primeiro e o último” é tirada do versículo 17.)
Aqui temos um daqueles “Eu sou” divinos chamando a atenção para a dignidade e a autoridade de Cristo. Alfa e Omega, primeira e última letras do alfabeto grego, sugerem que Cristo é o começo e o fim de tudo que se aplica aos propósitos de Deus referentes à humanidade. E o primeiro e o último, e tudo o mais entre esses dois extremos.

Cristo aparece novamente no versículo 8 como o ser de três tempos (como no versículo 4), mas desta vez com a adição de “Senhor” ou “Senhor Deus” e “O Todo-poderoso”. Estes títulos adequadamente concluem esta secção com seus muitos títulos. Com o desdobrar do juízo sobre as forças antagônicas do inferno e da terra, e todo o ódio a ser acumulado sobre os justos, consola ter a revelação do poder e recursos sustentadores onipotentes do Senhor no começo do livro!

Como veremos, as circunstâncias dos necessitados forçá-los-ão a fazer demandas constantes sobre nome tão poderoso. Forças poderosas procurarão engolfar o povo de Deus mas o Todo-poderoso estará à disposição para livrá-lo. A onipotência encontra-se com as forças orgulhosas e arrogantes e vence-as! A grande pergunta do Apocalipse é: “Quem regerá?” Há somente uma resposta a esta pergunta crucial: O Senhor Deus Todo-poderoso.

A revelação e narração das dignidades de Cristo culminam com a doxologia exultante dos redimidos (1:5, 6). Nossas afeições são profundamente movidas e nossa adoração eleva-se ao meditarmos em tudo o que nosso bendito Senhor é em si mesmo e como seus atributos são exercidos em benefício dos seus.

“Aquele que nos amou, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados” (1:5). A libertação já foi realizada e consumada, mas o amor prossegue para sempre! “Havendo amado os seus. . . amou-os até ao fim” (João 13:1). Que conforto o amor presente e imutável do Redentor traz aos redimidos de todas as idades! Durante o período da tribulação, quando os fogos da perseguição se juntarem em torno do povo de Deus no terra, que cânticos triunfais de vitória serão deles enquanto descansam no amor do seu libertador!
“E [ele] nos fez reino, sacerdotes para Deus, seu Pai” (1:6). João não deixa de lembrar a alta dignidade dos redimidos. Cristo, cujo amor e sangue são nossa confiança e descanso, fez de seu povo “um reino, sacertodes para Deus, seu Pai”. A palavra original para “reino” está no singular, reinado, um termo inteiramente coerente com o livro em geral, o que implica que os redimidos não devem ser meramente governados como súditos mas também hão de exercer soberania. Os santos hão de reinar como sacerdotes. Aqui e agora, todos os crentes exercem a função sacerdotal (Efésios 2:18; Hebreus 13:15), mas o Apocalipse antecipa o exercício de um sacerdócio real.

Walter Scott pergunta: “O que significa esta união de dignidade real e graça  sacerdotal? Zacarias 6:13 afirma com exatidão este estado: Ele mesmo edificará o templo do Senhor; e receberá honra real, assentar-se-a no seu trono, e dominará. E assim como devemos reinar com UrII4to, o caráter do seu reino determinará a natureza do nosso.

Não rnos esqueçamos de que nossa posição é exaltada e nem na prática fiquemos abaixo dela. A lembrança constante desse fato oferecerá dignidade de caráter e preservar-nos-á o espírito de amor ao dinheiro do mundo em que vivemos (1 Coríntios 6:2, 3).” Sim, e tomemos nota da ordem: reis e sacerdotes!
Se quisermos que a nossa intercessão seja eficiente, devemos reinar constantemente na vida. Se como reis triunfarmos sobre o mal dentro e fora, então como sacerdotes teremos liberdade e poder ao advogarmos a causa das almas perdidas e pecadoras.

“A ele seja glória e domínio pelos séculos dos séculos” (1:6). Com esta assertiva de glória e domínio eternos dados a Cristo, vemos o cumprimento de sua glória visível e o domínio eterno como predito pelos santos homens de antigamente. A medida que o Apocalipse se desdobra, esta doxologia aumenta. Nesta passagem ela possui duas partes; em 4:11, possui três; em 5:13 possui quatro e em 7:12, sete.

No versículo sete encontramos o testemunho da segunda vinda de Cristo. William Newell chama, corretamente, este versículo de o primeiro grande texto do Apocalipse. Em 21:5 temos o segundo grande texto: “Eis que faço novas todas as coisas.” O anúncio do glorioso advento de nosso Senhor é introduzido com a exclamação “Eis”! que permanece como uma sentinela no limiar do livro.

Aqui João enfatiza a volta de nosso Senhor à terra, isto é, sua revelação pública ao mundo todo, resultando na organização do seu reino. E todo olho, em um tempo ou outro, dará testemunho de sua manifestação pública. Por “aquele que traspassaram” podemos entender tanto os gentios como os judeus. E João quem nos lembra que foi uma lança gentia que traspassou o lado do Salvador (João 19:33-37).

Como Walter Scott expressa: “O representante fraco e vacilante de Roma e sua grandeza imperial, rebaixou sua propagada reputação de justiça inflexível ordenando de maneira vil, o flagelamento e crucificação de seu augusto prisioneiro, a quem ele tinha declarado inocente três vezes.” Mas há aqui uma referência especial aos judeus, uma vez que levaram Pilatos a traspassar o corpo do Salvador (Zacarias 12:10)? Quando Israel vir a Cristo na sua aparição, crerá, e à medida que a manhã verdadeira surpreender os judeus que habitam a terra, experimentarão o renascimento como nação.

Não se deve perder de vista o clamor geral de angústia na vinda do Filho do homem. Não devemos restringir o terror às duas tribos de Judá e Benjamim, nem às dez tribos. A expressão usada não é “as tribos da terra de Israel”, mas “todas as tribos da terra”. A palavra profética que descreve os homens que nas cavernas da terra se ocultam do terror do Senhor deve ser agora cumprida (Isaías 2:19; 1 Tessalonicenses 5:2, 3; Lucas 21:34, 35). Então vem a afirmativa dupla ao testemunho profético: “Assim seja” e “Amém”. Cristo vem tanto para o judeu como para o gentio e para ambos a Palavra de Deus é imutável.

3. Sua Pessoa (1:12-18)

Nesta secção João dá uma descrição espantosa daquele cuja voz ouviu. Símbolos da função e simbolos do caráter são aqui identificados com o Filho do homem, que partilha por completo da deidade. As sete partes do retrato de corpo inteiro de Cristo são facilmente discerníveis, e todas as feições (como indicaremos mais completamente em nossa próxima secção) estão espalhadas por entre as igrejas. Ao prosseguirmos, devemos observar que há uma vasta diferença entre o sofrimento passado de nosso Senhor e sua soberania futura. Finalmente vemos coroado para sempre como Rei dos reis e Senhor dos senhores o Jesus que uma vez sofreu zombaria!
O livro do Apocalipse lida com a pessoa e com o poder de Cristo, com os multíplices simbolos de suas atividades, funções e caráter. Aqui percebemos Jesus relacionado com o tempo e com a eternidade, com o judeu, com o gentio e com a igreja de Deus. A parte do primeiro capítulo que desejamos enfatizar é a que mostra Cristo como o ser celestial com aparência humana. Deidade e humanidade estão combinadas; o celestial e o terreno estão maravilhosamente misturados (1:9- 18). Que grande diferença há entre o sofrimento passado de nosso Senhor e sua soberania futura! Finalmente vemos Jesus (uma vez objeto de vergonha, escárnio e desprezo) coroado com honra e glória.

A. Sua Roupa Talar e Seu Cinto (1:13)

E no meio dos candeeiros
um semelhante ao Filho do homem,
vestido de uma roupa talar,
e cingido à altura do peito com um cinto de ouro.

A posição de Cristo no meio da igreja (simbolizada pelos sete candeeiros)—declara-o cabeça e poder central da igreja.

O título de Cristo o Filho do homem identifica-o com a humanidade e com o juízo.
A roupa de Cristo e seu cinto declaram sua autoridade real e também a majestade de seu sacerdócio. A alusão é às vestes lindas do sumo sacerdote sob a ordem levítica. E indica as qualidades pessoais e posição oficial do sacerdote.
A veste de Cristo “ia até aos pés”, mas não os cobria. Doutra forma

João não teria visto as marcas dos pregos e adorado a seu Senhor, cuja forma glorificada estava adequadamente vestida. Nestes dias de roupas indecentes, os vestidos estão tão longe dos pés quanto ousam ir. No Calvário Jesus perdeu as roupas para os jogadores, mas agora ele está vestido com a linda roupa do grande sumo sacerdote. “A suas vestes tornaram-se brancas como a luz” (Mateus 17:2).

Cristo também estava “cingido com um cinto de ouro”. Quando o cinto está em volta de seus lombos, o serviço é proeminente (como em João 13:4, 5), mas quando o cinto está em volta do peito implica juízo sacerdotal dignificado. Sendo de ouro, o cinto figura a deidade de Cristo e sua realeza justa. Quanto ao peito, pode implicar calma ou repouso na preparação para o juízo.

Vestido como o rei sacerdote, Cristo não foi visto por João como sacerdote no altar de ouro com o incensário e o incenso queimado; antes, entre os candeeiros com os espevitadores de ouro, como se inquirisse pela última vez se as lâmpadas do santuário teriam chama digna do lugar, ou se ele seria levado a removê-las muito em breve. Todas as figuras que se seguem são expressões de juízo—urna revelação do sacerdote, não no altar com o incenso, nem no candeeiro com o óleo para enchê-lo, mas com os espevitadores para julgar e aparar o candeeiro enfumaçado.

Esta visão inicial que João recebeu não se referia à graça pastoral de Cristo, mas à sua autoridade judiciária. É por isso que o Apocalipse deve ser visto como o livro do juízo. “Juiz” e “juízo” aparecem 15 vezes no livro. As sete igrejas são descritas como estando em lugar do juízo, que sempre deve começar na casa de Deus (1 Pedro 4:17).
Para uma relação dos vários juízos do Apocalipse, com Cristo como Juiz, devemos notar o seguinte sumário.

1. Juízo da história terrena da igreja (capítulos 2 e 3).
2. Juízo das nações rebeldes, especialmente dos adoradores da besta (capítulos 4 a 16).
3. Juízo do sistema da idolatria terrena (capítulos 17 e 18).
4. Juízo da besta, do falso profeta, dos reis e dos exércitos no Armagedom (19:19-21).
5. Juízo da carreira do diabo na terra (20:1-3).
6. Juízo das nações que escaparam (em reforçada justiça e paz) durante o milênio (20:4-6).
7. Juízo da terra rebelde depois da libertação de Satanás (20:7-9).
8. Juízo de Satanás no lago do fogo para sempre (20:10).
9. Juízo dos não-salvos no trono grande e branco (20:11-15).
Cada um dos juízos anteriores apresenta Cristo num caráter especial em cada estágio de juízo.

B. Sua Cabeça e Seu Cabelo (1:14)

Sua cabeça e cabelos eram brancos como a lã branca, como a neve.

A cabeça branca e descoberta de Cristo identificou facilmente a pessoa glorificada que estava sendo revelada. A brancura da lã e da neve, usadas por Isaías a fim de descrever a limpeza do coração da sujeira do pecado (Isaías 1:18) aqui simboliza a pureza absoluta e a eternidade do Salvador, cujo sangue derramado somente pode limpar da impureza do pecado e capacitar-nos a andar com ele em vestes brancas.

A cabeça descoberta e majestosa do Filho do homem transmite a idéia de experiência madura e de sabedoria perfeita adicionadas à santidade imaculada. Daniel teve uma visão semelhante daquele que como o Ancião de dias tinha as vestes tão brancas quanto a neve e cujo cabelo era como a pura lã (Daniel 7:9).

A transfiguração de Cristo foi um prenúncio da visão de Patmos. Pedro, Tiago e João foram testemunhas oculares da majestade de Cristo e ficaram cheios de espanto ao verem seu rosto brilhando como a branca luz (Mateus 17:2). Por alguns instantes viram sua glória como a do Unigênito do Pai.

Para nós, cabelo branco é sinal de velhice, decadência e aproximação do túmulo, mas esta não é a idéia aqui no Apocalipse, pois aquele de cabelos brancos visto por João é sem idade, não morre, é eterno. De eternidade a eternidade Jesus é o mesmo e seus anos não têm fim.

Cristo sempre retém o orvalho de sua juventude e no entanto tem sido sempre venerável na eterna sabedoria e glória que teve com o Pai desde antes da fundação do mundo. João, que uma vez viu a cabeça e cabelos de seu Senhor coroados com espinho, agora contempla-os coroado com o diadema da glória dos céus.

C. Seus Olhos de Fogo (1:14; 19:12)

Os seus olhos como chama de fogo.

A Bíblia tem muito a dizer a respeito dos olhos do Senhor, que percorrem por toda a terra (2 Crônicas 16:9) e estão em todos os lugares (Provérbios 15:3). Os olhos e também as línguas falam, e os olhos do Senhor, contemplando o mal e o bem, indicam o discernimento divino, a penetração profunda e conhecimento íntimo. Quanto à “chama de fogo”, representa o atributo da compreensão perfeita e a habilidade de perscrutar os próprios pensamentos, intentos e motivos do coração. Tudo está exposto a estes olhos penetrantes, e ninguém pode escapar do seu exame.

Todos os que virem o Senhor na sua volta contemplarão seus olhos como chama de fogo (Apocalipse 19:12). Apocalipse é um livro de fogo, pois esta palavra ocorre 17 vezes. Os olhos como de chama de Cristo, sempre fixos nas cenas que se movem da vida humana, e que não se cansam de ler os corações dos homens e o verdadeiro significado de todos os acontecimentos humanos e ações, queimará tudo o que for estranho ao seu olhar santo quando seu possuidor voltar à terra em suas vestes que foram imersas no sangue. “Todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos daquele a quem havemos de prestar contas” (Hebreus 4:13)!

Quando Cristo estava na terra, seus olhos amorosos freqüentemente se enchiam de lágrimas pelos pecados e dores dos que estavam ao seu redor. Certamente que não há passagem na sagrada Escritura tão comovente e reveladora como a que descreve a dor de Jesus pela morte de alguém que ele amava: Jesus chorou!
Mas os olhos que João viu aqui no Apocalipse não estavam vermelhos de lágrimas, mas de julgamento. Quão gratos devíamos ser que mediante a graça não veremos o olhar queimador daqueles olhos à medida que procuram e destroem tudo o que for antagônico à vontade divina!

D. Seus Pés e a Fornalha (1:15)

Seus pés, semelhantes a latão reluzente que fora refinado numa fornalha.

Embora o Filho do homem glorificado estivesse “vestido de uma roupa talar”, os pés não estavam cobertos, mas visíveis, brilhando como o latão reluzente. Seus pés estavam descalços, assim como os pés dos sacerdotes ministrantes de Israel estiveram descalços. Eram como latão fino e reluzente. Como Phillips o traduz: “Seus pés brilhavam como o mais fino latão brilha na fornalha.” A idéia é de latão branco, a cor que o latão adquire na fornalha do calor branco. O latão aquecido até ficar branco é quase intolerável à vista humana.

O latão não somente é simbólico de força e perseverança (Salmo 107:16; Zacarias 6:1; Miquéias 4:13) mas também da firmeza do juízo divino, como visto no altar de bronze e na serpente (Exodo 27:1-7; Números 21:8, 9). Como um metal composto produzido pelo fogo, o latão é o símbolo da ira do Deus três vezes santo sobre o pecado e os pecadores.

Quanto aos pés, sugerem um caminhar desimpedido e santo e também o poderoso triunfo do juízo. Esses pés abençoados que uma vez palmilharam as ruas de Jerusalém em tarefas de misericórdia, e os quais Maria lavou com as lágrimas e que os homens cruéis cravaram no Calvário, são agora os pés do vingador ao vir ele a fim de pisar seus inimigos. Veja Ezequiel 22:17-22.

E. Sua Voz e Boca (1:10, 12, 15, 16)

E a sua voz como a voz de muitas águas. . .

Da sua boca saía uma aguda espada de dois gumes.

Agrupamos voz e boca porque vão juntas, sendo uma necessária ao uso da outra. Voz em 1:15 é tradução da palavra grega fone. O livro do Apocalipse é o livro da voz, que João usa cerca de 50 vezes. A voz de trovão que João ouviu corresponde à voz do “Ancião de Dias”, descrito por Daniel como “a voz duma multidão” (Daniel 10:6). Águas são símbolos de nações enraivecidas e turbulentas (Apocalipse 16:4, 5; 17:15).

Quando Cristo aparecer no juízo final, sua voz clara, distinta e autoritária abrandará o clamor da terra. Ninguém poderá resistir ao poder e tranqüilidade sobrepujadores de sua expressão. Ao proferir sua voz, a terra se derreterá.

Quando Cristo andou na terra, homem algum falou como este homem. Depois essa voz divina foi ouvida em forte choro e lágrimas, e na cruz seus inimigos silenciaram-lhe a boca por meio da morte. Mas agora tudo é diferente, pois a voz poderosa, articulada e ordenadora de Cristo silencia as vozes altas e insistentes dos poderes e autoridades ímpios da terra. Assim como essa voz vibrante uma vez subjugou as ondas raivosas do mar, agora a mesma voz soa como as ondas do mar, forte e majestosa e silencia os confusos sons da terra (Salmos 65:7; 93:4).

A imagem bíblica é explícita em identificar a espada de dois gumes que sai da boca de Cristo como “a espada do Espírito”, que é toda a infalível Palavra de Deus (Apocalipse 2:12, 16; Isaías 49:2; Efésios 6:17; Hebreus 4:12). A palavra que a voz proclama será a base do juízo e da sentença divina quando Cristo aparecer para julgar a terra. Sendo mais afiada do que qualquer espada de dois gumes, desvendará os pensamentos e intenções dos que ousarem guerrear contra o Cordeiro e seus santos. Armas carnais algumas serão empregadas para subjugar seus adversários (Apocalipse 19:13, 15). Em vez disso, destrui-los-á pelas palavras de sua boca (Oséias 6:5).

Como uma espada de dois gumes, a Palavra salva ou mata, e é poderosa para disciplinar ou destruir. Os dois gumes desta espada o Antigo e o Novo Testamentos têm poder de separar o pecado do homem ou cortar o homem em seu pecado (Apocalipse 2:12, 16; 19:15, 21; Isaías 11:4; 2 Tessalonicenses 2:8). A palavra grega para espada é usada seis vezes no Apocalipse. Nesta era da igreja, os que tomam qualquer outra espada a fim de adiantar a causa de Cristo perecerão com a arma para a qual apelaram (Apocalipse 13:10; Mateus 26:52). Mas os que estão com essa espada poderosa descobrirão que seu poder vem de Deus (2 Coríntios 10:4).

F. Sua Destra (1:16, 17, 20)

Tinha ele na sua destra sete estrelas.
Ele pôs sobre mim a sua destra.
O mistério das sete estrelas,
que viste na minha destra.

“Destra”, como freqüentemente se usa a palavra nas Escrituras, denota uma posição de autoridade divina ou suprema, e também poder e proteção (Efésios 1:20; Hebreus 1:3). Muitas vezes ouvimos falar de uma pessoa qualificada como “meu braço direito”, sendo a implicação de alguém a quem foi delegada autoridade e que se torna indispensável. Estando à destra de Deus, Cristo sempre age como o seu Pai o faria. O segurar-nos em sua destra sugere que temos poder para servir como ele o faria se ainda estivesse aqui na terra.

Que segurança e conforto João deve ter recebido quando, espantado pela visão brilhante de seu Senhor glorificado, sentiu a destra de Cristo sobre ele e ouviu sua terna voz dizer: “Não temas”! Esta foi a mesma voz que o apóstolo João ouviu naquele dia em que, com os outros discípulos labutando contra as ondas contrárias, Jesus disse-
-lhes que não tivessem medo. João sabia muito a respeito da destra compelidora do Mestre. Não tinha ele visto a Jesus curar o leproso, erguer a Pedro que se afundava, tocar a orelha cortada de Malco, e partir os pães erguidos para o céu em bênção? Agora a mesma mão estende-se para assegurar a João que o Mestre a quem ele ama com ternura está vivo para sempre e tem em sua destra as chaves do inferno e da morte.

O apóstolo João informa-nos que as sete estrelas na destra de Cristo são os anjos das sete igrejas. Quem ou o que são estas sete estrelas? Alguns intérpretes pensam que as estrelas se refiram aos anjos da guarda, mas é difícil reconciliar este ponto de vista com a advertência e reprovação angelical (2:4, 5) e com a promessa e o estímulo angélicos (2:10). Outros adotam o ponto de vista de que as estrelas ou anjos representam a corporação ideal da igreja, assim como as forças da natureza são simbolizadas como mensageiros de Deus.

A interpretação mais comum e mais largamente aceita das estrelas ou anjos das igrejas é que eles representam os ministros principais ou anciãos presidentes de uma congregação, o equivalente a bispos ou anciãos (a superintendência espiritual da igreja primitiva). Alguns eruditos sugerem que o termo é extraído do quadro da sinagoga judaica, onde o ofício reconhecido do mensageiro recebia o título de “anjo da sinagoga”. Devemos ter em mente o comentário de Lightfoot:

É concebível, deveras, que o bispo ou o pastor principal devesse ser chamado de anjo, ou mensageiro de Deus ou de Cristo, mas dificilmente seria estilizado como anjo da igreja sobre a qual preside.

A imagem que João usa aqui se aplica em outras passagens para mestres, quer sejam falsos quer verdadeiros (Daniel 12:3; Judas 13; Apocalipse 8:10; 12:4). E confortador saber que todos os que servem ao Senhor em posição de responsabilidade estão em sua destra, o lugar de possessão e segurança (João 10:28-30). Eis o que Walter Scott tem a dizer sobre as “sete estrelas em sua destra”:

Declara-se que as estrelas são anjos ou representantes das igrejas. O anjo da igreja é o representante simbólico da assembléia vista naqueles que é responsável por ela, o que, deveras, todos realmente o são (1:20). As “estrelas”, como símbolo, são a expressão de:

1. Multidões incontáveis (Gênesis 15:5).
2. Pessoas eminentes de autoridade, civis e eclesiásticas (Daniel 8:10; Apocalipse 6:13; 12:4).
3. Poderes menores ou subordinados em geral (Gênesis 37:9; Apocalipse 12:1).

Toda a autoridade da igreja, todo o ministério e toda a regência espiritual de cada assembléia tem sua autoridade em Cristo. Sua competência para dar ou retirar, preservar ou suster cada verdadeiro ministro de Deus é a idéia fundamental das estrelas em sua destra. Quando a segurança eterna dos crentes é colocada em dúvida, diz-se que estão em sua mão e na mão do Pai, de onde poder algum poderá arrancá-los. Mas não se diz que estão em sua destra, como aqui.

Líderes espirituais não dizemos oficiais, pois estes não foram colocados na igreja de Deus são seguros e mantidos na destra do Filho do homem. A destra representa a autoridade e honra supremas (Salmo 110:1; Efésios 1:20). Que posição responsável e honrosa cada dirigente da igreja ocupa! Daniel 12:3 aponta a uma classe futura de ministros ou dirigentes judaicos. Judas 13 refere-se a uma classe de cristãos apóstatas.

Quando Jesus estava no mundo, andando e fazendo o bem, suas mãos estavam sempre ativas em aliviar as necessidades físicas e materiais dos homens. Mas a única recompensa que teve pelos benefícios de suas santas mãos foi tê-las rasgadas pelos pregos. Mas agora os que foram redimidos pelo sangue que ele derramou estão seguros nessas mãos, que podem muito bem preservar, protegar e prover para todos os que elas seguram. Estamos nós entre as estrelas de sua destra? Se assim for, então é responsabilidade das estrelas brilhar. Esta é a noite da ausência de nosso Senhor da terra, e nós, como santos, coletiva e individualmente somos a luz do mundo. Como portadores da luz em meio às trevas que se ajuntam, devemos refletir algo de sua glória.

G. Seu Rosto como o Sol (1:16)

Seu rosto era com o sol, quando resplandece na sua força.

João ficou como que fora de si ao contemplar “o brilho de sua glória” (compare com 2 Tessalonicenses 2:8; Hebreus 1:3). As coisas da terra devem ter-se tornado estranhamente opacas enquanto o apóstolo contemplava a glória radiante de Jesus Cristo, de quem a transfiguração tinha sido apenas um prenúncio. (“O seu rosto replandeceu como o sol”, Mateus 17:2). Enquanto Cristo estava na terra, sua majestade eterna fora velada, mas agora João testemunha sua glória e magnificência imperiais. O aspecto do rosto é a janela da alma, e agora tudo o que Cristo é em si mesmo resplandece em glória e beleza.

Há, é claro, vasta diferença entre a glória do sol e a dos planetas (1 Coríntios 15:41). O sol não empresta luz de fonte alguma, mas em si mesmo é fonte de luz e poder. Os planetas são meros refletores da luz que recebem do sol. Jesus tem uma glória transcendente toda sua, e ela é acentuada de três maneiras:

Para o mundo, ele é a luz (João 8:12).
Para Israel, ele é o sol da justiça (Malaquias 4:2).
Para a igreja, ele é a resplandecente estrela da manhã (Apocalipse 22:16).



Na humilhação de Cristo, seu rosto foi desfigurado além da aparência humana. Uma vez foi coberto com o cuspo vil (Mateus 26:67), mas agora uma glória não criada, mais brilhante do que o sol tropical do meio-dia, jorra em raios de seu rosto. Possa a luz desta feição bendita estar sempre sobre nós! (Veja Números 6:25, 26; Salmo 42:11; 43:5.)

Qual foi a reação de João a esta visão ofuscante de Cristo? “Quando o vi, caí a seus pés como morto” (1:17). As Escrituras registram os efeitos sobrepujantes da visão gloriosa do Senhor na experiência de outros santos. Moisés, Josué, Jó, Isaías, Daniel e Pedro, todos souberam o que significa contemplar a glória do Senhor; e ao contemplá-la viram seu próprio pecado e fraqueza, e caíram prostrados a seus pés. Isaías disse: “Eu sou um homem de impuros lábios. . . meus olhos contemplaram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” João tinha muita muitas vezes descansado a cabeça no seio do Mestre, mas agora cai a seus pés como morto. O fato de João ter sido o mais amoroso e amado dos discípulos, agora para nada serve nem mesmo a força da afeição humana à luz da glória magnífica e resplandecente de seu Mestre. Muitas coisas têm de morrer em nossa vida quando somos banhados por glória tal. F. W. Faber deve ter tido isto em mente ao escrever do Senhor eterno, em profundezas de luz ardente, que é. .

 . . Por espíritos prostrados noite e dia
Incessantemente adorado.
Quão maravilhosa, quão linda
A tua visão deve ser.
Tua sabedoria sem fim, poder sem limites,
E pureza espantosa.
. . Que arrebatamento será

Prostrado perante teu trono jazer, E olhar e olhar para ti.
Depois que João tinha caído como morto aos pés de Cristo, Jesus tranqüilizou-o com as palavras: “Não temas; eu sou o primeiro e o último, e o que vivo; fui morto, mas eis que aqui estou vivo pelos séculos dos séculos; e tenho as chaves da morte e do Hades” (1:17, 18).

A graciosa destra de Jesus levantou João de sua posição prostrada, e a voz como o som de muitas águas foi ouvida em seus tons consoladores. Há três améns, cada um cheio de significado espiritual, no primeiro capítulo:
Para o que morre na cruz (1:5, 6)
Para o que vive na ressurreição (1:18)
Para o que vem em glória (1:7).

Três doutrinas cardinais da Palavra santa de Deus são contidas nestes três améns:
Ele morreu
Ele vive
Ele vem.

O “não temas” tranqüilizador do Mestre, tantas vezes repetido por ele, outra vez cai aos ouvidos do apóstolo João, confortando-o com o fato de que seu Senhor não havia mudado—que o coração que bateu ternamente na Galiléia ainda pulsa com amor para com os seus— embora esteja na glória. Como “o primeiro e o último”, Jesus reafirmou sua deidade, eternidade e supremacia absoluta. Ele é o começo e o fim, e tudo quanto há no entremeio (1:8). Como o que vive, proclamou-se a fonte da vida.
A vida não começou para Cristo em Belém; seu nascimento somente revelou o que tinha sido seu desde a eternidade. Como o que morreu, Jesus indicou o aspecto voluntário de sua morte, pois sua vida não foi tomada, mas dada. Tendo o poder de dar a sua vida, ele entregou o espírito (Mateus 27:50).

Como o que vive para sempre, Jesus disse que jamais sentiria o aguilhão da morte: “Eis que estou vivo para os séculos dos séculos.” Ao morrer, Cristo aboliu a morte para os que crêem, e trouxe vida e imortalidade à luz. Nossa esperança gloriosa é partilharmos de sua imortalidade: “Porque vivo, vós também vivereis.”
A posse de Cristo das “chaves da morte e do Hades” denota seu senhorio completo sobre os corpos e almas de todos os homens, com autoridade ou direito de abrir e fechar (Apocalipse 3:7, 8). Walter Scott diz:

Isto manifesta sua autoridade absoluta sobre a morte e o Hades, os respectivos carcereiros da morte, e é exercida segundo seu prazer soberano. Agora Satanás não tem o poder da morte (Hebreus 2:14). Para o poder de chave como símbolo da autoridade indisputada, veja Isaias 22:22 e Mateus 16:19.

Tendo vencido a morte, o inimigo a que o homem sempre temeu, e tendo provado a si mesmo Mestre da região nebulosa para a qual os homens são levados pela morte, Jesus apresenta-se a nós como Senhor da vida e da liberdade. Como verdadeiros crentes nele continuamos a viver, e viveremos para sempre, porque como o grande doador da vida, a morte jamais poderá amarrá-lo. Quer entremos nos céus pelo caminho da sepultura quer pelo ar, pouca diferença faz, pois sabemos que mediante a graça de Cristo teremos parte em seus anos imutáveis com ele para sempre.

Elaboração pelo:- Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS

Livro:- Apocalipse – O Drama dos Séculos – Herbert Lockyer,Sr.



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