A
Visão Sétupla
Quadro
de Cristo Desenhado no Céu
Apocalipse
1 :12-18
Proeminente entre
muitos aspectos do Apocalipse destaca-se o fato de ser ele um livro a respeito
de uma Pessoa; o próprio Cristo é o seu assunto central. O Dr. O. Campbell
Morgan observou certa vez: “Qualquer estudo do Apocalipse que não se concentra
em Cristo e não vê tudo o mais em relação a ele, há de levar o leitor para um
labirinto inextricável.” Assim, as primeiras quatro palavras do Apocalipse
declaram sua natureza e propósito: “Revelação de Jesus Cristo.” Não é
“revelação de São João, o Divino”, mas a manifestação daquele a quem .João
amava com grande ternura.
Nem são
“Revelações”. Usa se o singular, não o plural. E a “Revelação” que possui
muitas facetas. Neste livro Cristo é revelado mais completamente e mais
completamente exaltado do que em qualquer outro livro da Bíblia. São muitas as
alusões a Cristo, como nas 20 ou mais referências a ele como o “Cordeiro”. Uma
divisão ampla cio livro seria:
Cristo e seus
santos (capítulos 1—3)
Cristo e o mundo
antigo (capítulos 4—19)
Cristo e o mundo
novo (capítulos 20—22).
Nos evangelhos
vemos a Cristo servindo e sofrendo. Nos Atos ele está vivo para sempre,
operando mediante sua igreja. No Apocalipse ele é o herói supremo que derrota
todos os seus inimigos.
Observando a
inter-relação do bem e do mal, e o aumentar dos enredos no drama, damos
boas-vindas ao retrato de Jesus como o futuro Executivo do governo divino e
como o Dispensador de retribuições e de recompensas. Eis aqui a apresentação do
Rei e do seu reino; e cc Rei toma seu reino pela força.
Cristo é a chave do
livro, o Espírito Santo o seu guia e nossa própria espiritualidade a medida de_
nossa apreciação do retrato de corpo inteiro de nosso Salvador.
De muitas maneiras,
o capítulo inicial é um dos mais notáveis do livro pois fornece um sumário de
tudo o que há de seguir. Nomes, títulos e simbolos usados com referência a
Cristo no primeiro capítulo estão espalhados e ampliados por todo o livro.
Nenhum outro livro
da Bíblia revela a presença, a Pessoa e o poder do Senhor Jesus Cristo como o
faz o Apocalipse; é uma visão panorâmica maravilhosa de nosso Senhor e não
meramente uma apresentação de acontecimentos relacionados com seu triunfo. O
livro abre-se com Cristo como Revelador de si mesmo (1:1-3).
Por ser esta a
revelação de Jesus Cristo, o livro toma significação maior e torna-se
tremendamente importante. Aqui Cristo é descrito como a Figura central e que
tem as chaves do destino. A despeito dos demônios e dos homens, Cristo
apresenta-se invencível por todo o drama fascinante e de grande movimento do
livro. Note os cinco “Eu sou” cheios de autoridade do capítulo de abertura e
compare-os com os outros “Eu sou” que João nos dá em seu Evangelho.
Uma das feições
especiais do primeiro capítulo é a figura autêntica que ele nos oferece de
Cristo. Eis aqui um retrato que artista algum já conseguiu pintar, O capítulo é
repleto de títulos e superlativos, todos necessários para descrever aquele que
não tem igual.
1.
Prólogo (1:1-3)
Não somos a favor
do tratamento modernista de Apocalipse. As asserções audaciosas desse método de
que João tomou emprestada a visão de seu livro, de literatura apocalíptica
antiga e deu-nos meramente um emaranhado de folclore pagão são claramente
contraditadas pela simples afirmativa que João faz acerca da origem do que viu
e da ordem que recebeu para escrever. O apóstolo não nos transmitiu uma coleção
de visões pagãs cristianizadas. Pelo contrário, Cristo dá-nos uma antevisão de
sua conquista final de todas as forças que se lhe opõem. E por ter sido esta
revelação dada por Deus, é nossa solene obrigação curvar-nos em reverência à
medida que a estudarmos.
Encontramos no
Apocalipse o que podemos chamar de uma escada com cinco degraus:
Deus deu a
revelação a Cristo, uma vez que se refere a ele. Cristo, por sua vez, deu-a ao
anjo e daí por diante os anjos são proeminentes rio livro. O mensageiro
angélico comunicou o Apocalipse a João. João registrou o que recebeu para
iluminar e edificar os santos de todos os séculos. Tal ordem corresponde à
conclusão: “E disse-me: Estas palavras são fiéis e verdadeiras; e o Senhor, o
Deus dos espíritos dos profetas, enviou o seu anjo, para mostrar aos seus
servos as coisas que em breve hão de acontecer” (22:6).
Ninguém estava mais
bem preparado do que João para ser canal digno desta sublime revelação. Dá
evidência deste fato o que os os evangelhos registram acerca de sua comunhão
íntima com Cristo. João era o amigo íntimo e amado de Cristo. Temos também o
relato de ele ter-se reclinado sobre o peito de Jesus. E foi João quem escreveu
as palavras de Jesus concernentes à capacidade do Espírito de mostrar aos seus
servos “as coisas que hão de vir”.
Antes de
prosseguirmos com nosso estudo, é essencial fazermos uma pausa e perguntar a
nós mesmos: “Estou eu espiritualmente preparado para ler e receber a bênção do
Senhor através da leitura deste grande livro?” (Nossa atitude humilde deve ser:
“O que não vejo, ensina-me tu; se fiz alguma maldade, nunca mais a hei de
fazer” (Jó 34:32).
Ao enviar esta
revelação a João, mediante seu anjo, Jesus usou sinais ou símbolos. Ao lidar
com estes símbolos devemos procurar interpretá-los à luz de seu uso em outras
passagens na Escritura. Devemos comparar símbolo com símbolo, e, assim evitar
exageros de interpretação dos quais tantos expositores têm sido culpados.
Devemos também
considerar quando foi que João viu todas as coisas que depois escreveu no
Apocalipse. Ele diz-nos que estava na ilha chamada Patmos (1:9) e que o
Apocalipse lhe foi entregue ali num certo dia do Senhor em Espírito (1:10).
Duas frases aqui
constituem uma combinação interessante: “Na ilha” e “em Espírito”.
Evidentemente, as limitações geográficas de João não foram impedimento à sua
visão espiritual. A masmorra escura não pôde aprisionar-lhe a liberdade de
espírito. Acontece o mesmo conosco? Quando confinados e amontoados em
circunstâncias que nos separam de um mundo livre, somos nós mais
espiritualmente capazes de comungar com os céus? Em nossa ilha restringidora,
estamos também no Espírito?
Há duas
interpretações quanto ao “dia do Senhor”. A interpretação costumeira é que este
dia particular era o domingo ou o primeiro dia da semana, o qual João estava
observando ao ser-lhe dada a visão. Certamente esta é uma designação apropriada
do que é conhecido como “domingo”, embora esse dia não seja designado com tal
palavra em lugar algum na Bíblia. O primeiro dia da semana é o dia de Cristo— o
dia da ressurreição, o dia que o Senhor separou para a adoração de seu nome e o
ministério de sua Palavra. E nesse dia, o melhor de todos, temos a oportunidade
de afastar-nos do mundo, ouvir a voz de Deus e buscar a compreensão espiritual
de sua Palavra.
Outros eruditos
acreditam que a frase “dia do Senhor” devia ser traduzida por “o dia que pertence
ao Senhor”. O estar “em espírito” pode significar algum tipo de investimento
singular pelo qual o Espírito Santo projetou a mente de João para o futuro,
como declararam os profetas do Antigo Testamento ao profetizarem a respeito do
dia do Senhor. Isaías 2:10-22, por exemplo, é tratado como um Iumr1() completo
dos capítulos 4 a 19 de Apocalipse. O Espírito levou João a adiantar-se no
tempo mostrando-lhe este dia terrível com seus juízos, e foi-lhe ordenado que
descrevesse com detalhes o que Daniel e outros profetas viram de modo geral ou
global.
Talvez possamos
encontrar a solução ao harmonizarmos ambos os pontos de vista. Estando João a
meditar no primeiro dia da semana, capacitou-o o Espírito a olhar pelo corredor
do tempo e revelar o dia vindouro do Senhor.
Antes de deixarmos
o prólogo devemos examinar duas frases. João recebeu uma revelação das “coisas
que brevemente devem acontecer” (1:1). A palavra “brevemente” traz em si a
idéia de velocidade ou iminência. Uma vez que a ação comece, haverá rapidez de
execução. Não há idéia aqui de que João esperasse que tudo o que predissera
fosse cumprido quase que imediatamente.
A mesma idéia
relaciona-se com a declaração “O tempo está próximo” (1:3). Nas palavras de
Walter Scott: “A profecia aniquila o tempo e todas as circunstâncias
intervenientes e opostas, e coloca a pessoa no limiar da realização.” A nosso
ver, parece que Deus esteja atrasando o cumprimento de seus propósitos últimos
como esboçados no Apocalipse, mas tal atraso aparente representa graça para um
mundo culpado.
2.
As Prerrogativas (1:4-11)
De uma forma que
demonstra autoridade o apóstolo João começa esta secção com seu próprio nome:
“João, às sete igrejas que estão na Asia.” Similarmente enfática é a frase no
versículo 9: “Eu, João.” A palavra apostello significa “enviar” e descreve o
mensageiro comissionado para alguma missão importante. E desta maneira que o
termo é aplicado a Cristo (Hebreus 3:1). Ao começar a comunicação do Apocalipse
dado a ele, João (1:1), afirma sua autoridade de apóstolo ou “enviado”. O que
está prestes a anunciar não foi de sua própria criação. Como mensageiro enviado
de Deus, João vai descrever “tudo quanto viu” (1:2).
Na expressão “Eu,
João” do versículo 9 o apóstolo proclama a abertura do livro que contém a segunda
vinda de Cristo. Na expressão “Aquele que testifica” de 22:20, Cristo anuncia
sua própria vinda.
O Senhor Jesus
Cristo é apresentado no versículo 4 como “aquele que é, e que era, e que há de
vir”. “Que é” refere-se ao presente e lembra-nos a imutabilidade de Deus. Como
o que não muda, Cristo pode cuidar dos seus num presente sempre mutável. “Que
era” estende-se sobre o passado e leva-nos a milhares de anos para trás. “Que
há de vir” leva-nos para frente e faz-nos lembrar de que o que o Senhor tem sido continuará a ser para sempre. Ele é o
mesmo ontem, para sempre.
HÁ outra verdade
importante na saudação de João (1:4, 5). Há três “d Parte de”: da parte daquele
(1:4)—isto é, de Deus, daquele que é independente e tem existência própria; da
dos sete espíritos que estão perante o trono (1:4). Pela designação “sete
espíritos” podemos compreender (como já ressalvamos) a plenitude do poder do
Espírito Santo e sua atividade diversificada; da parte de Jesus Cristo (1:5).
Assim, Pai, Filho e Espírito Santo unem-se na comunicação desta comunicação.
Aqui, como no restante da Bíblia, o Deus trino e uno opera como um.
“Jesus Cristo, que é a fiel testemunha” (1:5) empresta
força ao mandamento do Senhor à igreja em Esmirna: “Sê fiel até a morte”
(2:10). Sua vida exibiu seus ensinos e mandamentos. A frase “Jesus Cristo, que
é fiel testemunha” descreve o relacionamento de Cristo com Deus enquanto Jesus
esteve na terra. Como fiel profeta ele jamais falhou em declarar todo o
conselho de Deus. A palavra “testemunha” significa alguém que vê, sabe e então
fala; é uma palavra característica de João (ele a usa mais de 70 vezes em seus
escritos).
“Jesus Cristo. . .
o primogênito dos mortos” (1:5) é um título maravilhosamente descritivo.
“Cristo é tanto ‘primogênito’ como ‘primeiros frutos’ dos mortos”, diz Walter
Scott. “O primeiro título ensina que ele é o primeiro no tempo da ceifa
vjndoura dos que dormem (1 Coríntios 15:20, 23). O segundo título significa que
ele é primeiro em hierarquia de todos os que se levantarão dos mortos.
‘Primogênito’ é expressão de supremacia, de dignidade preeminente e não uma
expressão de tempo ou de seqüência cronológica (Salmo 89:27). Não importa onde,
quando ou como Cristo entrou no mundo, ele necessariamente haveria de ocupar o
primeiro lugar em virtude do que é.” Tal título também indica a obra sacerdotal
de Cristo.
“Jesus Cristo. . .
o príncipe dos reis da terra” (1:5) retrata o aspecto real da obra de Cristo.
Os reis da terra têm sido orgulhosos, monarcas poderosos, e até ao tempo da
aparição de Cristo terão exercido influência tremenda. Mas quando Cristo vier
para exercer os direitos de soberano, reinará supremo. Todos os cetros
imperiais serão destruídos e todas as autoridades da oposição para sempre serão
banidas. Como o Senhor dos senhores, Cristo é o senhor sobre todos os que
exercem autoridade, como Rei dos reis, ele será o rei de todos os que reinam.
Que reino principesco aguarda esta terra mal dirigida!
“Eu sou o Alfa e o
Omega, o princípio e o fim” aparece em 1:8, 11, mas a maioria dos eruditos
acredita que a primeira parte do versículo 11 não se encontra no texto original
como escrito por João. (O título é tomado do versículo 8, e a frase “primeiro e
o último” é tirada do versículo 17.)
Aqui temos um
daqueles “Eu sou” divinos chamando a atenção para a dignidade e a autoridade de
Cristo. Alfa e Omega, primeira e última letras do alfabeto grego, sugerem que
Cristo é o começo e o fim de tudo que se aplica aos propósitos de Deus
referentes à humanidade. E o primeiro e o último, e tudo o mais entre esses
dois extremos.
Cristo aparece
novamente no versículo 8 como o ser de três tempos (como no versículo 4), mas
desta vez com a adição de “Senhor” ou “Senhor Deus” e “O Todo-poderoso”. Estes
títulos adequadamente concluem esta secção com seus muitos títulos. Com o
desdobrar do juízo sobre as forças antagônicas do inferno e da terra, e todo o
ódio a ser acumulado sobre os justos, consola ter a revelação do poder e
recursos sustentadores onipotentes do Senhor no começo do livro!
Como veremos, as
circunstâncias dos necessitados forçá-los-ão a fazer demandas constantes sobre
nome tão poderoso. Forças poderosas procurarão engolfar o povo de Deus mas o
Todo-poderoso estará à disposição para livrá-lo. A onipotência encontra-se com
as forças orgulhosas e arrogantes e vence-as! A grande pergunta do Apocalipse
é: “Quem regerá?” Há somente uma resposta a esta pergunta crucial: O Senhor
Deus Todo-poderoso.
A revelação e
narração das dignidades de Cristo culminam com a doxologia exultante dos
redimidos (1:5, 6). Nossas afeições são profundamente movidas e nossa adoração
eleva-se ao meditarmos em tudo o que nosso bendito Senhor é em si mesmo e como
seus atributos são exercidos em benefício dos seus.
“Aquele que nos
amou, e pelo seu sangue nos libertou dos nossos pecados” (1:5). A libertação já
foi realizada e consumada, mas o amor prossegue para sempre! “Havendo amado os
seus. . . amou-os até ao fim” (João 13:1). Que conforto o amor presente e
imutável do Redentor traz aos redimidos de todas as idades! Durante o período
da tribulação, quando os fogos da perseguição se juntarem em torno do povo de
Deus no terra, que cânticos triunfais de vitória serão deles enquanto descansam
no amor do seu libertador!
“E [ele] nos fez
reino, sacerdotes para Deus, seu Pai” (1:6). João não deixa de lembrar a alta
dignidade dos redimidos. Cristo, cujo amor e sangue são nossa confiança e
descanso, fez de seu povo “um reino, sacertodes para Deus, seu Pai”. A palavra
original para “reino” está no singular, reinado, um termo inteiramente coerente
com o livro em geral, o que implica que os redimidos não devem ser meramente
governados como súditos mas também hão de exercer soberania. Os santos hão de
reinar como sacerdotes. Aqui e agora, todos os crentes exercem a função
sacerdotal (Efésios 2:18; Hebreus 13:15), mas o Apocalipse antecipa o exercício
de um sacerdócio real.
Walter Scott
pergunta: “O que significa esta união de dignidade real e graça sacerdotal? Zacarias 6:13 afirma com exatidão
este estado: Ele mesmo edificará o templo do Senhor; e receberá honra real,
assentar-se-a no seu trono, e dominará. E assim como devemos reinar com
UrII4to, o caráter do seu reino determinará a natureza do nosso.
Não rnos esqueçamos
de que nossa posição é exaltada e nem na prática fiquemos abaixo dela. A
lembrança constante desse fato oferecerá dignidade de caráter e preservar-nos-á
o espírito de amor ao dinheiro do mundo em que vivemos (1 Coríntios 6:2, 3).”
Sim, e tomemos nota da ordem: reis e sacerdotes!
Se quisermos que a
nossa intercessão seja eficiente, devemos reinar constantemente na vida. Se
como reis triunfarmos sobre o mal dentro e fora, então como sacerdotes teremos
liberdade e poder ao advogarmos a causa das almas perdidas e pecadoras.
“A ele seja glória
e domínio pelos séculos dos séculos” (1:6). Com esta assertiva de glória e
domínio eternos dados a Cristo, vemos o cumprimento de sua glória visível e o
domínio eterno como predito pelos santos homens de antigamente. A medida que o
Apocalipse se desdobra, esta doxologia aumenta. Nesta passagem ela possui duas
partes; em 4:11, possui três; em 5:13 possui quatro e em 7:12, sete.
No versículo sete
encontramos o testemunho da segunda vinda de Cristo. William Newell chama,
corretamente, este versículo de o primeiro grande texto do Apocalipse. Em 21:5
temos o segundo grande texto: “Eis que faço novas todas as coisas.” O anúncio
do glorioso advento de nosso Senhor é introduzido com a exclamação “Eis”! que
permanece como uma sentinela no limiar do livro.
Aqui João enfatiza
a volta de nosso Senhor à terra, isto é, sua revelação pública ao mundo todo,
resultando na organização do seu reino. E todo olho, em um tempo ou outro, dará
testemunho de sua manifestação pública. Por “aquele que traspassaram” podemos
entender tanto os gentios como os judeus. E João quem nos lembra que foi uma
lança gentia que traspassou o lado do Salvador (João 19:33-37).
Como Walter Scott
expressa: “O representante fraco e vacilante de Roma e sua grandeza imperial,
rebaixou sua propagada reputação de justiça inflexível ordenando de maneira
vil, o flagelamento e crucificação de seu augusto prisioneiro, a quem ele tinha
declarado inocente três vezes.” Mas há aqui uma referência especial aos judeus,
uma vez que levaram Pilatos a traspassar o corpo do Salvador (Zacarias 12:10)?
Quando Israel vir a Cristo na sua aparição, crerá, e à medida que a manhã
verdadeira surpreender os judeus que habitam a terra, experimentarão o
renascimento como nação.
Não se deve perder
de vista o clamor geral de angústia na vinda do Filho do homem. Não devemos
restringir o terror às duas tribos de Judá e Benjamim, nem às dez tribos. A
expressão usada não é “as tribos da terra de Israel”, mas “todas as tribos da
terra”. A palavra profética que descreve os homens que nas cavernas da terra se
ocultam do terror do Senhor deve ser agora cumprida (Isaías 2:19; 1
Tessalonicenses 5:2, 3; Lucas 21:34, 35). Então vem a afirmativa dupla ao
testemunho profético: “Assim seja” e “Amém”. Cristo vem tanto para o judeu como
para o gentio e para ambos a Palavra de Deus é imutável.
3.
Sua Pessoa (1:12-18)
Nesta secção João
dá uma descrição espantosa daquele cuja voz ouviu. Símbolos da função e
simbolos do caráter são aqui identificados com o Filho do homem, que partilha
por completo da deidade. As sete partes do retrato de corpo inteiro de Cristo
são facilmente discerníveis, e todas as feições (como indicaremos mais
completamente em nossa próxima secção) estão espalhadas por entre as igrejas.
Ao prosseguirmos, devemos observar que há uma vasta diferença entre o
sofrimento passado de nosso Senhor e sua soberania futura. Finalmente vemos
coroado para sempre como Rei dos reis e Senhor dos senhores o Jesus que uma vez
sofreu zombaria!
O livro do
Apocalipse lida com a pessoa e com o poder de Cristo, com os multíplices
simbolos de suas atividades, funções e caráter. Aqui percebemos Jesus
relacionado com o tempo e com a eternidade, com o judeu, com o gentio e com a
igreja de Deus. A parte do primeiro capítulo que desejamos enfatizar é a que
mostra Cristo como o ser celestial com aparência humana. Deidade e humanidade
estão combinadas; o celestial e o terreno estão maravilhosamente misturados
(1:9- 18). Que grande diferença há entre o sofrimento passado de nosso Senhor e
sua soberania futura! Finalmente vemos Jesus (uma vez objeto de vergonha,
escárnio e desprezo) coroado com honra e glória.
A. Sua Roupa Talar e Seu Cinto (1:13)
E no meio dos candeeiros
um semelhante ao Filho do homem,
vestido de uma roupa talar,
e cingido à altura do peito com um cinto de ouro.
A posição de Cristo
no meio da igreja (simbolizada pelos sete candeeiros)—declara-o cabeça e poder
central da igreja.
O título de Cristo
o Filho do homem identifica-o com a humanidade e com o juízo.
A roupa de Cristo e
seu cinto declaram sua autoridade real e também a majestade de seu sacerdócio.
A alusão é às vestes lindas do sumo sacerdote sob a ordem levítica. E indica as
qualidades pessoais e posição oficial do sacerdote.
A veste de Cristo
“ia até aos pés”, mas não os cobria. Doutra forma
João não teria
visto as marcas dos pregos e adorado a seu Senhor, cuja forma glorificada
estava adequadamente vestida. Nestes dias de roupas indecentes, os vestidos
estão tão longe dos pés quanto ousam ir. No Calvário Jesus perdeu as roupas
para os jogadores, mas agora ele está vestido com a linda roupa do grande sumo
sacerdote. “A suas vestes tornaram-se brancas como a luz” (Mateus 17:2).
Cristo também
estava “cingido com um cinto de ouro”. Quando o cinto está em volta de seus
lombos, o serviço é proeminente (como em João 13:4, 5), mas quando o cinto está
em volta do peito implica juízo sacerdotal dignificado. Sendo de ouro, o cinto
figura a deidade de Cristo e sua realeza justa. Quanto ao peito, pode implicar
calma ou repouso na preparação para o juízo.
Vestido como o rei
sacerdote, Cristo não foi visto por João como sacerdote no altar de ouro com o
incensário e o incenso queimado; antes, entre os candeeiros com os
espevitadores de ouro, como se inquirisse pela última vez se as lâmpadas do
santuário teriam chama digna do lugar, ou se ele seria levado a removê-las
muito em breve. Todas as figuras que se seguem são expressões de juízo—urna
revelação do sacerdote, não no altar com o incenso, nem no candeeiro com o óleo
para enchê-lo, mas com os espevitadores para julgar e aparar o candeeiro
enfumaçado.
Esta visão inicial
que João recebeu não se referia à graça pastoral de Cristo, mas à sua
autoridade judiciária. É por isso que o Apocalipse deve ser visto como o livro
do juízo. “Juiz” e “juízo” aparecem 15 vezes no livro. As sete igrejas são
descritas como estando em lugar do juízo, que sempre deve começar na casa de
Deus (1 Pedro 4:17).
Para uma relação
dos vários juízos do Apocalipse, com Cristo como Juiz, devemos notar o seguinte
sumário.
1. Juízo da
história terrena da igreja (capítulos 2 e 3).
2. Juízo das nações
rebeldes, especialmente dos adoradores da besta (capítulos 4 a 16).
3. Juízo do sistema
da idolatria terrena (capítulos 17 e 18).
4. Juízo da besta,
do falso profeta, dos reis e dos exércitos no Armagedom (19:19-21).
5. Juízo da
carreira do diabo na terra (20:1-3).
6. Juízo das nações
que escaparam (em reforçada justiça e paz) durante o milênio (20:4-6).
7. Juízo da terra
rebelde depois da libertação de Satanás (20:7-9).
8. Juízo de Satanás
no lago do fogo para sempre (20:10).
9. Juízo dos
não-salvos no trono grande e branco (20:11-15).
Cada um dos juízos
anteriores apresenta Cristo num caráter especial em cada estágio de juízo.
B.
Sua Cabeça e Seu Cabelo (1:14)
Sua cabeça e cabelos eram brancos como a lã branca, como a neve.
A cabeça branca e
descoberta de Cristo identificou facilmente a pessoa glorificada que estava
sendo revelada. A brancura da lã e da neve, usadas por Isaías a fim de
descrever a limpeza do coração da sujeira do pecado (Isaías 1:18) aqui
simboliza a pureza absoluta e a eternidade do Salvador, cujo sangue derramado
somente pode limpar da impureza do pecado e capacitar-nos a andar com ele em
vestes brancas.
A cabeça descoberta
e majestosa do Filho do homem transmite a idéia de experiência madura e de
sabedoria perfeita adicionadas à santidade imaculada. Daniel teve uma visão
semelhante daquele que como o Ancião de dias tinha as vestes tão brancas quanto
a neve e cujo cabelo era como a pura lã (Daniel 7:9).
A transfiguração de
Cristo foi um prenúncio da visão de Patmos. Pedro, Tiago e João foram
testemunhas oculares da majestade de Cristo e ficaram cheios de espanto ao
verem seu rosto brilhando como a branca luz (Mateus 17:2). Por alguns instantes
viram sua glória como a do Unigênito do Pai.
Para nós, cabelo
branco é sinal de velhice, decadência e aproximação do túmulo, mas esta não é a
idéia aqui no Apocalipse, pois aquele de cabelos brancos visto por João é sem
idade, não morre, é eterno. De eternidade a eternidade Jesus é o mesmo e seus
anos não têm fim.
Cristo sempre retém
o orvalho de sua juventude e no entanto tem sido sempre venerável na eterna
sabedoria e glória que teve com o Pai desde antes da fundação do mundo. João,
que uma vez viu a cabeça e cabelos de seu Senhor coroados com espinho, agora contempla-os
coroado com o diadema da glória dos céus.
C.
Seus Olhos de Fogo (1:14; 19:12)
Os seus olhos como chama de fogo.
A Bíblia tem muito
a dizer a respeito dos olhos do Senhor, que percorrem por toda a terra (2
Crônicas 16:9) e estão em todos os lugares (Provérbios 15:3). Os olhos e também
as línguas falam, e os olhos do Senhor, contemplando o mal e o bem, indicam o
discernimento divino, a penetração profunda e conhecimento íntimo. Quanto à
“chama de fogo”, representa o atributo da compreensão perfeita e a habilidade
de perscrutar os próprios pensamentos, intentos e motivos do coração. Tudo está
exposto a estes olhos penetrantes, e ninguém pode escapar do seu exame.
Todos os que virem
o Senhor na sua volta contemplarão seus olhos como chama de fogo (Apocalipse
19:12). Apocalipse é um livro de fogo, pois esta palavra ocorre 17 vezes. Os
olhos como de chama de Cristo, sempre fixos nas cenas que se movem da vida
humana, e que não se cansam de ler os corações dos homens e o verdadeiro
significado de todos os acontecimentos humanos e ações, queimará tudo o que for
estranho ao seu olhar santo quando seu possuidor voltar à terra em suas vestes
que foram imersas no sangue. “Todas as coisas estão nuas e patentes aos olhos
daquele a quem havemos de prestar contas” (Hebreus 4:13)!
Quando Cristo
estava na terra, seus olhos amorosos freqüentemente se enchiam de lágrimas
pelos pecados e dores dos que estavam ao seu redor. Certamente que não há
passagem na sagrada Escritura tão comovente e reveladora como a que descreve a
dor de Jesus pela morte de alguém que ele amava: Jesus chorou!
Mas os olhos que
João viu aqui no Apocalipse não estavam vermelhos de lágrimas, mas de julgamento.
Quão gratos devíamos ser que mediante a graça não veremos o olhar queimador
daqueles olhos à medida que procuram e destroem tudo o que for antagônico à
vontade divina!
D.
Seus Pés e a Fornalha (1:15)
Seus pés, semelhantes a latão reluzente que fora refinado numa
fornalha.
Embora o Filho do
homem glorificado estivesse “vestido de uma roupa talar”, os pés não estavam
cobertos, mas visíveis, brilhando como o latão reluzente. Seus pés estavam
descalços, assim como os pés dos sacerdotes ministrantes de Israel estiveram
descalços. Eram como latão fino e reluzente. Como Phillips o traduz: “Seus pés
brilhavam como o mais fino latão brilha na fornalha.” A idéia é de latão
branco, a cor que o latão adquire na fornalha do calor branco. O latão aquecido
até ficar branco é quase intolerável à vista humana.
O latão não somente
é simbólico de força e perseverança (Salmo 107:16; Zacarias 6:1; Miquéias 4:13)
mas também da firmeza do juízo divino, como visto no altar de bronze e na
serpente (Exodo 27:1-7; Números 21:8, 9). Como um metal composto produzido pelo
fogo, o latão é o símbolo da ira do Deus três vezes santo sobre o pecado e os
pecadores.
Quanto aos pés,
sugerem um caminhar desimpedido e santo e também o poderoso triunfo do juízo.
Esses pés abençoados que uma vez palmilharam as ruas de Jerusalém em tarefas de
misericórdia, e os quais Maria lavou com as lágrimas e que os homens cruéis
cravaram no Calvário, são agora os pés do vingador ao vir ele a fim de pisar
seus inimigos. Veja Ezequiel 22:17-22.
E.
Sua Voz e Boca (1:10, 12, 15, 16)
E a sua voz como a voz de muitas águas. . .
Da sua boca saía uma aguda espada de dois gumes.
Agrupamos voz e
boca porque vão juntas, sendo uma necessária ao uso da outra. Voz em 1:15 é
tradução da palavra grega fone. O livro do Apocalipse é o livro da voz, que
João usa cerca de 50 vezes. A voz de trovão que João ouviu corresponde à voz do
“Ancião de Dias”, descrito por Daniel como “a voz duma multidão” (Daniel 10:6).
Águas são símbolos de nações enraivecidas e turbulentas (Apocalipse 16:4, 5;
17:15).
Quando Cristo
aparecer no juízo final, sua voz clara, distinta e autoritária abrandará o
clamor da terra. Ninguém poderá resistir ao poder e tranqüilidade
sobrepujadores de sua expressão. Ao proferir sua voz, a terra se derreterá.
Quando Cristo andou
na terra, homem algum falou como este homem. Depois essa voz divina foi ouvida
em forte choro e lágrimas, e na cruz seus inimigos silenciaram-lhe a boca por
meio da morte. Mas agora tudo é diferente, pois a voz poderosa, articulada e
ordenadora de Cristo silencia as vozes altas e insistentes dos poderes e
autoridades ímpios da terra. Assim como essa voz vibrante uma vez subjugou as
ondas raivosas do mar, agora a mesma voz soa como as ondas do mar, forte e
majestosa e silencia os confusos sons da terra (Salmos 65:7; 93:4).
A imagem bíblica é
explícita em identificar a espada de dois gumes que sai da boca de Cristo como
“a espada do Espírito”, que é toda a infalível Palavra de Deus (Apocalipse 2:12,
16; Isaías 49:2; Efésios 6:17; Hebreus 4:12). A palavra que a voz proclama será
a base do juízo e da sentença divina quando Cristo aparecer para julgar a
terra. Sendo mais afiada do que qualquer espada de dois gumes, desvendará os
pensamentos e intenções dos que ousarem guerrear contra o Cordeiro e seus
santos. Armas carnais algumas serão empregadas para subjugar seus adversários
(Apocalipse 19:13, 15). Em vez disso, destrui-los-á pelas palavras de sua boca
(Oséias 6:5).
Como uma espada de
dois gumes, a Palavra salva ou mata, e é poderosa para disciplinar ou destruir.
Os dois gumes desta espada o Antigo e o Novo Testamentos têm poder de separar o
pecado do homem ou cortar o homem em seu pecado (Apocalipse 2:12, 16; 19:15,
21; Isaías 11:4; 2 Tessalonicenses 2:8). A palavra grega para espada é usada
seis vezes no Apocalipse. Nesta era da igreja, os que tomam qualquer outra
espada a fim de adiantar a causa de Cristo perecerão com a arma para a qual
apelaram (Apocalipse 13:10; Mateus 26:52). Mas os que estão com essa espada
poderosa descobrirão que seu poder vem de Deus (2 Coríntios 10:4).
F.
Sua Destra (1:16, 17, 20)
Tinha ele na sua destra sete estrelas.
Ele pôs sobre mim a sua destra.
O mistério das sete estrelas,
que viste na minha destra.
“Destra”, como
freqüentemente se usa a palavra nas Escrituras, denota uma posição de
autoridade divina ou suprema, e também poder e proteção (Efésios 1:20; Hebreus
1:3). Muitas vezes ouvimos falar de uma pessoa qualificada como “meu braço
direito”, sendo a implicação de alguém a quem foi delegada autoridade e que se
torna indispensável. Estando à destra de Deus, Cristo sempre age como o seu Pai
o faria. O segurar-nos em sua destra sugere que temos poder para servir como
ele o faria se ainda estivesse aqui na terra.
Que segurança e
conforto João deve ter recebido quando, espantado pela visão brilhante de seu
Senhor glorificado, sentiu a destra de Cristo sobre ele e ouviu sua terna voz
dizer: “Não temas”! Esta foi a mesma voz que o apóstolo João ouviu naquele dia
em que, com os outros discípulos labutando contra as ondas contrárias, Jesus
disse-
-lhes que não
tivessem medo. João sabia muito a respeito da destra compelidora do Mestre. Não
tinha ele visto a Jesus curar o leproso, erguer a Pedro que se afundava, tocar
a orelha cortada de Malco, e partir os pães erguidos para o céu em bênção?
Agora a mesma mão estende-se para assegurar a João que o Mestre a quem ele ama
com ternura está vivo para sempre e tem em sua destra as chaves do inferno e da
morte.
O apóstolo João
informa-nos que as sete estrelas na destra de Cristo são os anjos das sete
igrejas. Quem ou o que são estas sete estrelas? Alguns intérpretes pensam que
as estrelas se refiram aos anjos da guarda, mas é difícil reconciliar este
ponto de vista com a advertência e reprovação angelical (2:4, 5) e com a
promessa e o estímulo angélicos (2:10). Outros adotam o ponto de vista de que
as estrelas ou anjos representam a corporação ideal da igreja, assim como as
forças da natureza são simbolizadas como mensageiros de Deus.
A interpretação
mais comum e mais largamente aceita das estrelas ou anjos das igrejas é que
eles representam os ministros principais ou anciãos presidentes de uma
congregação, o equivalente a bispos ou anciãos (a superintendência espiritual da
igreja primitiva). Alguns eruditos sugerem que o termo é extraído do quadro da
sinagoga judaica, onde o ofício reconhecido do mensageiro recebia o título de
“anjo da sinagoga”. Devemos ter em mente o comentário de Lightfoot:
É concebível,
deveras, que o bispo ou o pastor principal devesse ser chamado de anjo, ou
mensageiro de Deus ou de Cristo, mas dificilmente seria estilizado como anjo da
igreja sobre a qual preside.
A imagem que João
usa aqui se aplica em outras passagens para mestres, quer sejam falsos quer
verdadeiros (Daniel 12:3; Judas 13; Apocalipse 8:10; 12:4). E confortador saber
que todos os que servem ao Senhor em posição de responsabilidade estão em sua
destra, o lugar de possessão e segurança (João 10:28-30). Eis o que Walter
Scott tem a dizer sobre as “sete estrelas em sua destra”:
Declara-se que as
estrelas são anjos ou representantes das igrejas. O anjo da igreja é o
representante simbólico da assembléia vista naqueles que é responsável por ela,
o que, deveras, todos realmente o são (1:20). As “estrelas”, como símbolo, são
a expressão de:
1. Multidões
incontáveis (Gênesis 15:5).
2. Pessoas
eminentes de autoridade, civis e eclesiásticas (Daniel 8:10; Apocalipse 6:13;
12:4).
3. Poderes menores
ou subordinados em geral (Gênesis 37:9; Apocalipse 12:1).
Toda a autoridade
da igreja, todo o ministério e toda a regência espiritual de cada assembléia
tem sua autoridade em Cristo. Sua competência para dar ou retirar, preservar ou
suster cada verdadeiro ministro de Deus é a idéia fundamental das estrelas em
sua destra. Quando a segurança eterna dos crentes é colocada em dúvida, diz-se
que estão em sua mão e na mão do Pai, de onde poder algum poderá arrancá-los.
Mas não se diz que estão em sua destra, como aqui.
Líderes espirituais
não dizemos oficiais, pois estes não foram colocados na igreja de Deus são
seguros e mantidos na destra do Filho do homem. A destra representa a
autoridade e honra supremas (Salmo 110:1; Efésios 1:20). Que posição
responsável e honrosa cada dirigente da igreja ocupa! Daniel 12:3 aponta a uma
classe futura de ministros ou dirigentes judaicos. Judas 13 refere-se a uma
classe de cristãos apóstatas.
Quando Jesus estava
no mundo, andando e fazendo o bem, suas mãos estavam sempre ativas em aliviar
as necessidades físicas e materiais dos homens. Mas a única recompensa que teve
pelos benefícios de suas santas mãos foi tê-las rasgadas pelos pregos. Mas
agora os que foram redimidos pelo sangue que ele derramou estão seguros nessas
mãos, que podem muito bem preservar, protegar e prover para todos os que elas
seguram. Estamos nós entre as estrelas de sua destra? Se assim for, então é
responsabilidade das estrelas brilhar. Esta é a noite da ausência de nosso
Senhor da terra, e nós, como santos, coletiva e individualmente somos a luz do mundo.
Como portadores da luz em meio às trevas que se ajuntam, devemos refletir algo
de sua glória.
G.
Seu Rosto como o Sol (1:16)
Seu rosto era com o sol, quando resplandece na sua força.
João ficou como que
fora de si ao contemplar “o brilho de sua glória” (compare com 2
Tessalonicenses 2:8; Hebreus 1:3). As coisas da terra devem ter-se tornado
estranhamente opacas enquanto o apóstolo contemplava a glória radiante de Jesus
Cristo, de quem a transfiguração tinha sido apenas um prenúncio. (“O seu rosto
replandeceu como o sol”, Mateus 17:2). Enquanto Cristo estava na terra, sua
majestade eterna fora velada, mas agora João testemunha sua glória e
magnificência imperiais. O aspecto do rosto é a janela da alma, e agora tudo o
que Cristo é em si mesmo resplandece em glória e beleza.
Há, é claro, vasta
diferença entre a glória do sol e a dos planetas (1 Coríntios 15:41). O sol não
empresta luz de fonte alguma, mas em si mesmo é fonte de luz e poder. Os
planetas são meros refletores da luz que recebem do sol. Jesus tem uma glória
transcendente toda sua, e ela é acentuada de três maneiras:
Para o mundo, ele é
a luz (João 8:12).
Para Israel, ele é
o sol da justiça (Malaquias 4:2).
Para a igreja, ele
é a resplandecente estrela da manhã (Apocalipse 22:16).
Na humilhação de
Cristo, seu rosto foi desfigurado além da aparência humana. Uma vez foi coberto
com o cuspo vil (Mateus 26:67), mas agora uma glória não criada, mais brilhante
do que o sol tropical do meio-dia, jorra em raios de seu rosto. Possa a luz
desta feição bendita estar sempre sobre nós! (Veja Números 6:25, 26; Salmo
42:11; 43:5.)
Qual foi a reação
de João a esta visão ofuscante de Cristo? “Quando o vi, caí a seus pés como
morto” (1:17). As Escrituras registram os efeitos sobrepujantes da visão
gloriosa do Senhor na experiência de outros santos. Moisés, Josué, Jó, Isaías,
Daniel e Pedro, todos souberam o que significa contemplar a glória do Senhor; e
ao contemplá-la viram seu próprio pecado e fraqueza, e caíram prostrados a seus
pés. Isaías disse: “Eu sou um homem de impuros lábios. . . meus olhos
contemplaram o Rei, o Senhor dos Exércitos.” João tinha muita muitas vezes
descansado a cabeça no seio do Mestre, mas agora cai a seus pés como morto. O
fato de João ter sido o mais amoroso e amado dos discípulos, agora para nada
serve nem mesmo a força da afeição humana à luz da glória magnífica e
resplandecente de seu Mestre. Muitas coisas têm de morrer em nossa vida quando
somos banhados por glória tal. F. W. Faber deve ter tido isto em mente ao
escrever do Senhor eterno, em profundezas de luz ardente, que é. .
. . Por espíritos prostrados noite e dia
Incessantemente
adorado.
Quão maravilhosa,
quão linda
A tua visão deve
ser.
Tua sabedoria sem
fim, poder sem limites,
E pureza espantosa.
. . Que
arrebatamento será
Prostrado perante
teu trono jazer, E olhar e olhar para ti.
Depois que João
tinha caído como morto aos pés de Cristo, Jesus tranqüilizou-o com as palavras:
“Não temas; eu sou o primeiro e o último, e o que vivo; fui morto, mas eis que
aqui estou vivo pelos séculos dos séculos; e tenho as chaves da morte e do
Hades” (1:17, 18).
A graciosa destra
de Jesus levantou João de sua posição prostrada, e a voz como o som de muitas
águas foi ouvida em seus tons consoladores. Há três améns, cada um cheio de
significado espiritual, no primeiro capítulo:
Para o que morre na
cruz (1:5, 6)
Para o que vive na
ressurreição (1:18)
Para o que vem em
glória (1:7).
Três doutrinas
cardinais da Palavra santa de Deus são contidas nestes três améns:
Ele morreu
Ele vive
Ele vem.
O “não temas”
tranqüilizador do Mestre, tantas vezes repetido por ele, outra vez cai aos
ouvidos do apóstolo João, confortando-o com o fato de que seu Senhor não havia
mudado—que o coração que bateu ternamente na Galiléia ainda pulsa com amor para
com os seus— embora esteja na glória. Como “o primeiro e o último”, Jesus
reafirmou sua deidade, eternidade e supremacia absoluta. Ele é o começo e o
fim, e tudo quanto há no entremeio (1:8). Como o que vive, proclamou-se a fonte
da vida.
A vida não começou
para Cristo em Belém; seu nascimento somente revelou o que tinha sido seu desde
a eternidade. Como o que morreu, Jesus indicou o aspecto voluntário de sua
morte, pois sua vida não foi tomada, mas dada. Tendo o poder de dar a sua vida,
ele entregou o espírito (Mateus 27:50).
Como o que vive
para sempre, Jesus disse que jamais sentiria o aguilhão da morte: “Eis que
estou vivo para os séculos dos séculos.” Ao morrer, Cristo aboliu a morte para
os que crêem, e trouxe vida e imortalidade à luz. Nossa esperança gloriosa é
partilharmos de sua imortalidade: “Porque vivo, vós também vivereis.”
A posse de Cristo
das “chaves da morte e do Hades” denota seu senhorio completo sobre os corpos e
almas de todos os homens, com autoridade ou direito de abrir e fechar
(Apocalipse 3:7, 8). Walter Scott diz:
Isto manifesta sua
autoridade absoluta sobre a morte e o Hades, os respectivos carcereiros da
morte, e é exercida segundo seu prazer soberano. Agora Satanás não tem o poder
da morte (Hebreus 2:14). Para o poder de chave como símbolo da autoridade
indisputada, veja Isaias 22:22 e Mateus 16:19.
Tendo vencido a
morte, o inimigo a que o homem sempre temeu, e tendo provado a si mesmo Mestre
da região nebulosa para a qual os homens são levados pela morte, Jesus
apresenta-se a nós como Senhor da vida e da liberdade. Como verdadeiros crentes
nele continuamos a viver, e viveremos para sempre, porque como o grande doador
da vida, a morte jamais poderá amarrá-lo. Quer entremos nos céus pelo caminho
da sepultura quer pelo ar, pouca diferença faz, pois sabemos que mediante a
graça de Cristo teremos parte em seus anos imutáveis com ele para sempre.
Elaboração pelo:-
Evangelista Isaias Silva de Jesus
Igreja Evangélica
Assembléia de Deus Ministério Belém Em Dourados – MS
Livro:- Apocalipse
– O Drama dos Séculos – Herbert Lockyer,Sr.
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